Capítulo Nove - O improvável acontece (parte 3)

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Seguiram-se momentos muito silenciosos

(demais)

o que já estava a causar-me turbulências e uma certa irriquietação.

Em instante nenhum tomara coragem para ver John, que estava exactamente atrás da porta ao meu lado.

Por vezes, Julie tentava olhar para mim e dizer qualquer coisa, mas enquanto descobria-lhe as espreitadelas, rolava o pescoço para um outro lado, ou então tomava em mirra suas mãos.

Cansada das vozes mudas que se expressavam incomodadas pelos olhares constrangedores, endireitei-me ao PCT, e retornei à casa com os miúdos aguardando mais notícias que prezava eu, serem positivas.

Dadas as circunstâncias do suposto envenenamento protagonizado pela própria Julie, deduzi logo à primeira que ali havia qualquer pano sobreposto. Ela protegia alguém.

- O meu pai ficará bom, não é? - indagou despreocupadamente, Kennedy, e um olhar imediato de Claire.

O pequeno rosto, transmissor de uma humildade, e a inocência infantil que de modo algum escapava-lhe; razões para esboçar em meus lábios um sincero e preocupado, uma suave esticadela. Não conseguira pensar numa resposta adequada.

- Nós faremos de tudo para que ele continue forte, e mantenha os maus atrás grades como nos filmes. Claire, querida, há um sorvete na geleira. Comam se quiserem.

Rapariga de um olhar perspicaz e cuidadosamente calculado, em função de momentâneas alturas, uns cachos volumosos tingidos naturalmente pela cor escura, faces ajustados à escassa massa corporal. Não muito simpáctica e mergulhada na obsessão da desconfiança puxada do pai.

- Não, obrigada. Mãe não permite refeições fora dos horários estipulados.

Antes que triturasse, engolisse e digerisse as palavras ríspidas de uma miúda, pulei do sofá num segundo, tomando em mão, a cevada engarrafada, famosa e barata aos redores nos botecos.

- Kennedy, se precisares de alguma coisa avisas-me, ok?

Fez que sim, com um gesto exageradamente dinâmico, da cabeça.

Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora