Capítulo Três - Fria Madrugada

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Naquele dia decorreu todo o processo das investigações. Eles estavam sempre à uma volta de avanço que nós. E isso deixava-nos tensos. Principalmente a John, as palavras de Clayton foram explícitas e imensamente claras, não tinha como não percebê-las. O resultado da balística que Paul nos trouxera na mesma tarde, no PCT, não nos revelou tanta coisa, como esperávamos. Era de um calibre comum, qualquer um na cidade usaria uma 9mm embora seja de uso restrito. Pouco se lixavam para o que era permitido, afinal.

Em uma coordenação com toda a equipe, chegou-se a conclusão de que o armamento não nos levaria aos criminosos. A máfia Tasmeniana inteira podia portar uma arma de fogo daquelas, e isso nos atrasaria mais. E eles nunca registravam as armas, ou tinham registros falsos. Sem hipóteses.

Os depoimentos não eram lá um grande auxílio para o desenvolvimento do nosso trabalho. Se não tínhamos nada convincente para mais pistas encontrar, seguir o procedimento padrão seria mais uma exigência do inquérito exercida, como manda a lei.

- Nossa primeira vítima é Noerd Sanchez, quarenta e três anos. Consoante aos registros que temos é casado com Amélia Sanchez, sem filhos. A última morada que conseguimos obter é Roadside.... - Lucas gaguejou antes de continuar com as informações da vítima, franziu incrédulo o cenho de olhos semicerrados os papéis que tinha em mãos - Em frente ao banco onde foi exactamente assassinado. - levantou os olhos dos papéis e suas feições empalideceram.

- Bingo! Isso é que é muito curioso! - uma modesta euforia possuiu o modo como Suzan formulou a frase.

Esse facto deixou-nos com "uma pulga atrás da orelha". O quesito da recolha dos depoimentos não estavam mais descartados. A irritação tinha dado trégua e o meu polegar por um pequeno instante viu-se livre dos dentes que o ordenhavam. A maldita sala onde estávamos reunidos, tinha um grande preconceito contra os fumadores. E quem era eu para não respeitar as regras?

Num pequeno bloco que John sempre anotara informações que julgava ele importantes, rabiscou com a esferográfica que pousava atrás da orelha, qualquer raio, que nos fosse ajudar com aquela já prevista - por mim - a visita que tínhamos de fazer à casa de Noerd.

- Pois então vamos dar uma volta Hinn! - guardou o bloco num dos bolsos exteriores do seu casaco. E podia jurar que ele tinha algum discreto entusiasmo estampado ao rosto enrugado.

***

Ao conferir o endereço por John anotado, e ao checar se realmente havia alguma possível residência em frente ao local do nosso crime, de hoje, bati novamente com a porta do sedã negro. A pequena escadaria acima que levava à uma porta simplória, em combinação e sintonia com as cores fuscas, da fachada principal da casa. E o crepúsculo de Tasménia fazia-se como pano de fundo daquela imagem.

Assegurei-me de ter a arma segura ao coldre como sempre fazia antes de prestagiar as visitas às possíveis relações das vítimas - uma precaução a se considerar.

O alto arbusto disposto mesmo antes das escadas que nos poria na porta principal, sua travessia foi complicada, comparada aos tortos caminhos de um labirinto.

Numa troca de olhares flexíveis com John, então ele premiu o botão, que interpretamos como a campaínha.

Caso ninguém tivesse a educação de nos atender, actuaríamos conforme iriam nos tratar. Deitaríamos a porta abaixo e nossa visita já não seria nada amigável. Não era algum previlégio nem um gosto, porém se a vida nos dava limões lhe faríamos uma limonada sem açúcar.

Esperamos alguns instantes pacientemente. Um suspiro de gratidão escapou-me do subconsciente, ao notar o movimento da maçaneta ao mesmo tempo que a porta se abria.

Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora