- Soube dele, há uns três dias, se não estou em erro. - o fuzilei com uma expressão interrogativa. Lucas deu de ombros. - Tu não sabias? - temeu minha resposta, até que por fim, suspirei, apenas.
- Ele vai nos atrapalhar, disso eu tenho a certeza.
- Tudo bem, detective. Acho que estou no direito de ser poupado de suas reclamações e indignações. Estive a trabalhar na região lacuna ocular do Philipe, conforme a retirada do órgão, acredito que foi usada uma faca normal para extraí-lo.
- Certo. - assenti com a cabeça. -Antes ou depois da morte?
- Obviamente que depois, o método como fora extraído, foi indelicado. O assassino obviamente tinha de ser flexível antes que fosse flagrado.
- Isso ainda não extermina com a possibilidade de uma assinatura.
- Não diria que sim, nem não. - afirmou.
- Qual a causa da morte?
- A toxicologia comprova que não foi overdose, mas sim envenenamento. Estricnina! - puxou pelo delicado aro de seus óculos, e secou transpiração que subitamente, surgiu-lhe na testa.
- Isso ainda é usado? - franzi o sobrolho surpresa.
- Se isto trata-se de um psicopata, é normal almejar fama, e para isso há que merecer destaque.
- Tenho que concordar. Bom, quando houverem mais novidades por favor, avise-me. Tenha um bom dia. - afastava-me do laboratório, por via das enormes portas.
***
Com o pouco impacto que tinha a cafeína sob mim, optei por analisar os ficheiros que os guardara em minha mesa, mesmo que nada mo revelassem, ainda estava a trabalhar no caso; comparando as fotos, e demais as meras provas que obtinha-se. A porta da sala de John, à uma pequena distância, bateu atrás de mim.
- Queres vir? - vestia seu casaco.
- Acho melhor não. Leve o Granter, eu tenho algumas tarefas cá pendentes. - Viu-se alastrar uma expressão irônica em seu rosto.
- Quando vais dar trégua? - puxou uma cadeira a sua frente postando os cotovelos sobre a superfície.
Finalmente, ergui meu olhar para o homem, indiferente, e mais ainda alastrou-se sua ironia, o que causou-me rubores faciais, pelo aborrecimento.
- Que queres dizer com isso?
- Ok. Hinata, nós precisamos dele, garanto-te.
- John – desatentei-me dos papéis que tinha em mirra - , ontem aborreci-me com meu pai por conta disso! Veja que ainda não exigi explicações convincentes. Sabes porque? Não quero saber, deixou de importar. O importante é eu fazer o meu trabalho devidamente.
Pherython mantinha a mesma expressão e folguei-me por constatar sua sensatez astuta.
- Vamos ao bar?
- Não sei. Acho que devia procurar mais inquéritos.
Assentiu sem indignação aparente alguma, e ausentou-se da sala.
- Depois que obtivermos a morada da ex-mulher de Montero, vamos fazê-la uma visita.
***
- Detective Salazar, tens uma tal de Fiona Gertrudes na recepção.
- Obrigada Clemente, pode a trazer até aqui por favor.
Num intervalo reduzido de um instante, a loira apareceu em minha sala, exalando a pouca sensualidade que se transparecia das jeans apertadas e o casaco pouco convencional. Não julgues o livro pela capa, dizia o meu lado racional.
Parecia-me ainda conturbada com "sua perda", mas sabia que esse, não era o facto com que devia me atentar. Ela podia ser o assassino que procurávamos, no entanto que isso não lhe livrara de suspeita alguma. Pelo menos, não antes das perguntas.
- Bom dia, detective! - estendeu-me sua mão com eficiência, e pude automaticamente corresponder-lhe à gentileza.
- Como está hoje, Fiona?
- Com certeza, melhor do que ontem! - suspirou e sua voz nem tampouco saiu-lhe rouca.
- Já que está apta para ajudar, vamos a isso. - concordou com o movimento da cabeça. E gesticulei-a para acomodar-se de frente para mim. - Para começar, quero que repita tudo para mim, com muita calma, e pense antes de responder as perguntas que se vão seguir, certo?
- Sim senhora. - engoliu em seco.
O mesmo cenário da última noite com Philipe, pareceu-me irreversível, mesmo que repetida a sua recordação e reconstrução dos factos.
- Conhece a mulher?
- Ele falava de uma tal de Rosie. Bom, nunca deixou bem claro que Rosie era a ex-mulher, mas o nome dela sempre entrava no contexto dos filhos.
- Sei...
Sinalizei ao adjunto do departamento que fazia-se do outro lado da sala, numa mesa, e pacientemente, fazendo gentileza, chegou-se até nós, soltando de imediato suas respeitosas saudações e manter-se a escuta.
- Gilberto, passe lá no departamento de Inteligência, e peça-lhes uma boa pesquisa dum óbito que deu entrada no laboratório forense ontem. Philipe Montero. Assim que tiverem alguma novidade, passem directamente para mim, por favor! - pedia-o com cautela vocal e calma.
- Desculpe-me detective, mas o Inspector Granter, exigiu que fosse ele mesmo quem tratasse da última vítima.
Ora essa!
Tinha mais algo que podia deixar-me desnorteada? Homem audaz confrontando sua sexualidade oposta, é meter-se num pentágono contra a ira personificada. Limitei-me a inspirar e soltar suspiros para aliviar-me os nervos que se penetravam pelas entranhas.
- E quando foi isso?
- Assim que ele chegou ontem à Tasménia. Ele passou cá a noite toda, fazendo ligações e lendo ficheiros. Eu deixei-o cá quando acabou o meu turno no edifício.
- Obrigada Gilberto, não me é mais útil por hora. - ouvido isso, o agente fardado, afastou-se literalmente da mesa e de meu campo de visão.
Agarrei nos cabelos e fiz um gesto desumano, prendendo-os desajeitadamente, induzida pelos nervos, que interiormente, manifestavam-se.
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Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)
Misterio / SuspensoPara aqueles que se sujeitaram a morar em uma cidade, na qual a Nação caiu em disfunção e desrespeito, as consequências não só designam fenômenos que determinam as nossas escolhas como também é uma sentença mortal. *PLÁGIO É CRIME* Primeira capa fei...