Capítulo 1- Não se exponha

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Lindsay acorda assustada depois de mais um pesadelo. Todos os dias durante três anos ela sonhava com a mesma coisa: a morte de seu pai. Seus cabelos ruivos sempre estavam desgrenhados, bagunçados com os movimentos que ela fazia na cama, tentando se livrar do sonho ruim.

E seus olhos azuis, que lembravam o oceano, estavam constantemente com medo de voltar a dormir e ter o mesmo pesadelo. Suas mãos soavam frio e isso já havia se tornado rotina, uma rotina dolorosa e excruciante.

_ " Será que isso nunca vai acabar?"_ Ela pensou com tristeza.

Quando ela se virou para tentar dormir mais um pouco, o despertou tocou, fazendo- a murmurar, um tanto frustrada por não ter descansado o suficiente. Decidiu, então, esquecer tudo aquilo, pois precisava se arrumar para ir à faculdade.

Lindsay opta por vestir uma calça jeans e uma blusa qualquer que achou no armário, não queria se atrasar de modo algum, eram suas últimas aulas daquele período, pretendia se formar no curso de jornalismo. A área de atuação escolhida? Ainda era um mistério para todos os seus amigos, ou melhor, para quase todos os seus amigos.

Assim que ela põe os pés para dentro da faculdade, uma garota de cabelos curtos ,na altura dos ombros, esbarra com ela propositalmente. Lindsay fechou os olhos contando até três, havia quase seis meses que a mesma menina a importunava, mas tal garota estava passando dos limites.

_Olá, senhorita mosca morta ! _ Ela cumprimentou de forma debochada.

Alana era uma garota que amava provocar Lindsay, mas apenas se tratava de uma menina inconsequente que vivia dos luxos dados por seu pai, um famoso cantor que se metia em confusão sempre que possível. Tal pai, tal filha. Lindsay estava cansada demais para discutir sobre qualquer coisa, então apenas ignorou,afinal não estava ali para desentendimentos estúpidos.

Ela saiu andando, mas Alana a conteve, segurando seu braço :

_O que foi , Lindsay, não aguenta ouvir a verdade? Pois é exatamente assim que pessoas insignificantes como você devem ser tratadas. _ Ela quase cuspiu as palavras.

Quando Lindsay se virou para dar - lhe uma resposta afiada, o sinal tocou.

_" Haveriam outras oportunidades "_pensou Lindsay.

Caminhando para sua sala, Lindsay analisou a situação e chegou a conclusão de que não valeria a pena se desgastar por algo tão sem importância. Ao chegar à porta, mais uma vez, Lindsay é contida por uma figura feminina e estava pronta para se defender, quando ouviu um pedido de desculpas vindo da sua agressora.

_ Oh, tudo bem. _ Lindsay percebe que não é Alana e cumprimenta a aluna novata de olhos semelhantes aos seus, mas com cabelos pretos.

_ Desculpe, sou nova aqui. Me chamo Rebeca, Rebeca ... _ A garota pareceu se corrigir mentalmente e só então terminou sua fala. _ Rebeca Parker.

_ Muito prazer, Rebeca, sou Lindsay Montenegro. _ As duas garotas se cumprimentaram e Rebeca se sentou na cadeira ao lado de Lindsay.

As primeiras aulas passaram, com Lindsay se desconcentrando em alguns momentos. Ora, respondendo as mensagens de Alex Torres, seu namorado. Ora, se perdia navegando pelo chat de Vítor Garcia, seu melhor amigo e ex-tutor. Seu suspiro de frustração chamou a atenção de sua nova amiga e ela lhe perguntou com o olhar o que estava acontecendo, mas Lindsay apenas negou com a cabeça, desligou o celular e voltou às tarefas passadas.

A hora do intervalo chegou em boa hora. Os alunos estavam afobados e saturados com o acúmulo de atividades, as provas começariam no dia seguinte. Como de costume, Lindsay foi se sentar em seu lugar, porém estranhou um burburinho das pessoas ao redor, que começaram a se aglomerar. Ela resolveu ignorar, por via das dúvidas.

Cinco minutos se passaram e ela escutou seu nome sendo pronunciado. Porém, o que considerou mais estranho foi escutar o próprio nome sendo dito por ninguém menos que Alana:

_Lindsay, me responde como conseguiu fazer com que esse gato olhasse pra (olhou para Lindsay fazendo um quê de repulsa na voz continuou) você?

Alguns minutos se passaram até Lindsay absorver o que estava acontecendo: havia uma foto sua com Alex no data show do refeitório. Ela não queria expor sua vida, não estava ali para brincadeiras, e Alana sabia exatamente como provocá - la. Alex era realmente um rapaz bonito, seus ombros eram largos, ele tinha a pele clara e olhos escuros, possuía um ar rebelde, mas foi seu jeito carinhoso que a tinha conquistado, ao menos há um ano atrás, Lindsay já não tinha certeza naquele momento.

Enquanto raciocinava, uma lembrança de como Alana sabia de Alex e ela veio de encontro a Lindsay :

Um mês atrás

Lindsay estava saindo da faculdade quando Alex decidiu faria uma surpresa, buscando-a para jantarem juntos; ele a beijou na escadaria da faculdade ,onde haviam poucas pessoas ainda conversando antes de se despedirem e irem para suas casas. Lindsay e Alex estavam juntos há 1 ano e 10 meses e comemoraram naquele dia.

Como ela pôde se esquecer?! Alana ficou se roendo de ódio, pois vivia afrontando Lindsay sobre a mesma ser uma insignificante e agora descobrira que ela tinha um namorado que a amava.

Dias atuais

_ Que foi, mosca morta,o gato comeu sua língua? Ou não quer compartilhar a simpatia que você fez pra não perder o namoradinho?_ Diferente do que Lindsay pensava, a descoberta só fez a afronta de Alana aumentar.

Ouve-se risos por todo o refeitório. Alana a olhava um tanto maldosa, mas havia algo a mais, era como se estivesse observando meticulosamente as reações de Lindsay, estudando suas reações, seu modo de agir.

Lá no fundo, Alana só queria fazer aquilo para provar a todos que Lindsay não era quem dizia ser, a menina prodígio, a garota centrada, estudiosa e que sabia se defender sem usar de métodos agressivos.

_ Não vale a pena dizer o que é, você não conhece essa palavra: amor. Pelo menos eu não saio por aí ofendendo ninguém para me sentir superior.

Ouviu - se um "uouuu" das pessoas ao redor e Lindsay viu a cara de surpresa de Alana. Havia um resquício de mágoa ali também, de certa forma Lindsay tinha razão, Alana perdeu as três pessoas que mais amou, duas para a morte e uma para a fama. Era triste reconhecer que sua afronta era apenas para mostrar o que tinha de pior no seu interior.

Lindsay não queria prolongar aquela discussão , afinal o relacionamento dela não era da conta de nenhuma daquelas pessoas, como também não queria expor mais ainda sua imagem e colocar tudo a perder. Decidiu pôr fim àquele desentendimento sem sentido e começou a caminhar em direção à sala de aula.

Planejava ficar sozinha por um momento, apenas para controlar sua respiração e não fazer nenhuma loucura, mas logo o sinal tocou, indicando que o intervalo havia acabado.

_ Você é ridícula, deveria procurar o que fazer! _ A voz irritada era reconhecível, Lindsay virou apenas para constatar que se tratava de Rebeca.

_ Obrigada. _ Lindsay agradeceu quando a jovem adulta se aproximou.

_ Não foi nada, e eu estou orgulhosa de você. _ Rebeca disse com um sorriso emocionado.

_ Ah, obrigada, eu acho. _ Lindsay ficou sem entender, ia perguntar o motivo do orgulho, mas seu professor havia chegado e a conversa cessou no mesmo instante.

Uma Noite Sem FimOnde histórias criam vida. Descubra agora