Capítulo 10- O encontro

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Do lado de fora da lanchonete uma pequena discussão havia começado entre Lindsay e Fernanda, as duas amigas estavam irritadas com a situação.

_ Podíamos ter simplesmente levantado e saído de lá. _ Fernanda afirmou.

_ Não acredito que depois de tudo o que aquele ser fez você ainda sente pena dele!_ Lindsay disse, com raiva.

_A questão aqui não é essa: o caso é que nós nunca devemos pagar o mal com o mal. Ele vai sofrer as consequências de seus próprios atos. Deixe- o cair por si mesmo. _ Fernanda não era do tipo que fazia justiça com as próprias mãos.

Dando o assunto por encerrado, Fernanda torna a caminhar ao lado de Lindsay. O comentário que sua amiga teceu deixou- a refletindo. Cansado do silêncio que se instalou no ambiente, Miller pergunta:

_Que tal se fossemos almoçar em uma pensão aqui perto e de "quebra" tomamos um sorvete, apenas para acalmar os ânimos. _ Ele disse, sem cerimônias.

_ Eu tenho algumas coisas para fazer na agência. Vou pedir uma quentinha, mas a Fernanda está livre hoje. _ Lindsay claramente sentiu surgir a oportunidade perfeita.

_Lindsay !_ Fernanda a repreendeu.

_ O que, estou mentindo?_ Lindsay riu da amiga.

Fernanda lança um olhar mortal para Lindsay, sem perceber que seu rosto estava vermelho. Após se despedir da amiga , e fazê-la prometer que conversariam sobre suas insinuações em um outro momento, Fernanda vai ao encontro de Miller e os dois caminham em direção à pensão, que ficava no final da rua.

_ Chocolate. _ Fernanda diz, do nada.

_O que?_ Miller a olha, confuso.

_ O meu sabor favorito é chocolate._ Fernanda repete.

A morena ao lado de Miller declara, cansada de todo o silêncio que se encontrava naquele lugar. Ela não entendia porque estava tão nervosa, logo repreendeu a si mesma por estar agindo feito uma adolescente.

_ O meu sabor favorito é leite condensado. Ei, já estamos falando em sobremesa, mas nem almoçamos ainda. O que você vai querer comer?_ Miller conseguiu deixar o clima mais leve.

_Eu não sei qual é o cardápio. Como vou saber o que quero se não sei o que o que tem à minha disposição? _ Fernanda disparou a responder.

_ Uau, para cada pergunta uma resposta recheada de argumentos. _ Miller sorriu.

A fala de Miller e o sorriso que brincava em seu rosto fizeram acordar algo dentro de Fernanda. Se sentindo um pouco mais confortável, ela deixou que Miller conduzisse a conversa enquanto caminhavam para dentro da pensão.

_ Boa tarde, sejam bem vindos. A mesa de vocês é por aqui._ Assim que os dois se sentam à mesa a garçonete continua a falar:

_Aqui está o cardápio, mas se me permitem acrescentar: o prato do dia é lasanha._ A moça que os atendeu já os deixou à par da refeição.

_Eu vou querer o prato do dia e você?_ Fernanda apenas balança a cabeça, respondendo a pergunta do rapaz à sua frente.

_ Ótimo, anotado. Já volto com a refeição. _ Ela saiu levando o cardápio consigo.

Enquanto a refeição estava sendo preparada, Miller se concentrou em entreter a morena à sua frente. Movido pela curiosidade ele pergunta o que estava entalado em sua garganta:

_Aquele rapaz que estava na lanchonete era o seu ex?_ Percebendo o desconforto de Fernanda, Miller se apressa em pedir desculpas e decide mudar de assunto:

_ Me perdoe, isso com certeza não é da minha conta._ Ele pigarreia, totalmente constrangido por tocar em um assunto íntimo.

_ Então, você quer pedir algo para beber agora ou vai esperar a... _Antes que Miller terminasse a frase, Fernanda o interrompe

_Ei, está tudo bem. Eu acho que será bom conversar com alguém que não seja da família, uma opinião de alguém de fora pode me ajudar a ver a situação de outro ângulo. _ Fernanda decide falar sobre seu passado.

Quando Fernanda abre a boca para contar o que havia acontecido em sua vida, o celular de Miller toca,assustando aos dois, que estavam concentrados na conversa e enquanto ele se afasta para atender a ligação a refeição de ambos chega. Fernanda parou um momento e repensou o que iria fazer:

_"Não acredito que eu ia me expor dessa forma para alguém que eu praticamente desconheço! Não sei quase nada dele e pretendia contar um dos segredos mais intensos da minha vida?"_ela pensou, consigo.

Quando Miller terminou a ligação e retornou à mesa, o pensamento de Fernanda era outro :

_" Não vou contar nada a ele, se ele quiser, vai ter que descobrir por si só, ao menos por enquanto."_Ela concluiu.

_Me desculpe, era uma ligação importante: informações sobre o caso que peguei há duas semanas.

_Tudo bem, eu entendo. Informações e pistas são sempre bem vindas. É melhor comer ou sua comida esfriará._ Ela respondeu com frieza.

Miller sentiu que havia algo diferente no ar. Confirmou sua hipótese assim que Fernanda pediu para que ele falasse mais dele próprio. Ele sabia que ela estava se desviando do assunto que apontava para si mesma, mas não iria pressioná - la, conquistaria sua confiança e ,então, seu coração.

_Meu nome é Gabriel Miller, tenho 25 anos, trabalho como detetive há pouco mais de 2 anos, estou 100% solteiro há 3 anos. Meu hobbies são: cozinhar, desvendar enigmas e tocar teclado._ O rapaz resumiu sua vida em uma fala.

_Não está dizendo que sabe cozinhar apenas para me impressionar, está?_ Fernanda manteve o semblante neutro.

_Eu realmente sei cozinhar, mas preciso mostrar meus dotes para impressioná- la. Mas e você? Fale um pouco da sua pessoa._ Gabriel brincou com o garfo enquanto falava.

_Meu nome é Fernanda Rodrigues, tenho 23 anos , estou solteira há 3 anos também, trabalho como detetive há pouco mais de 2 anos. Eu tenho um hobby secreto: tenho um blog onde escrevo resenhas críticas sobre livros e filmes que já li/ vi. Na verdade, eu tinha um blog mas já está há tanto tempo parado que nem sei se consigo voltar a escrever. _ Fernanda disse, temendo a retaliação.

_Sendo sincero: quando você falou desse blog seus olhos brilharam, acho que deveria voltar a escrever. _ Miller disse com um pequeno sorriso.

_ Eu não consigo. Eu já tentei,mas toda vez que começo a escrever sou invadida por lembranças, daí eu choro e desisto._ Fernanda diz, de forma sincera.

_Se você quiser eu posso te ajudar: te indico um livro, você lê e escreve o que achou. Ou podemos começar por algo menor, que tal um poema ?_ Miller se dispôs a ajudá-la.

_Obrigada, de verdade. De todas as pessoas que sabem que eu tenho vontade de voltar a escrever somente você arranjou uma solução sem sequer perguntar o porquê de eu ter parado de escrever._ Fernanda estava aliviada.

_ Eu só deduzi que se você parou de fazer algo que tanto gosta, e quando tenta voltar a fazer você vai às lágrimas, é sinal de que uma coisa ruim aconteceu, talvez um trauma. Falar sobre o que aconteceu ajuda, mas eu não vou pressioná - la nem voltar a perguntar algo que não é da minha conta. Se quiser conversar, desabafar, eu estou aqui,mas não vou tocar em um assunto tão pessoal. _ Como sempre agindo como um cavaleiro, Miller passa confiança a ela.

_Nossa.

Foi tudo o que Fernanda conseguiu dizer,estava impressionada com o cavalheirismo do rapaz em não fazer perguntas tão pessoais. Ela refletiu por um momento e, como se ouvisse a voz de Lindsay ecoando em sua cabeça,chegou à conclusão de que daria uma chance a Miller.

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