Algumas horas depois
_ Nós podemos conversar agora?_ Vitor perguntou com cautela, ao entrar na casa de Lindsay.
_ Você acredita em mim? _ Lindsay perguntou, desconfiada.
_ Me diga exatamente o que aconteceu.
_ Eu esqueci de trancar a porta, mas ela estava fechada. Aí eu subi, tomei banho e dormi. Mas, no meio da noite eu escutei algo, depois senti alguém me acariciando e segurei sua mão, mas ela tentou correr e quando chegou perto da luz eu a vi. Era ela, Vitor, era a minha mãe. Ela falou comigo.
_ E o que ela disse? _ Vitor tentava a todo custo entender aquela situação.
_ Ela me disse que meu pai e ela tem orgulho de mim, que me amam e que logo vamos nos encontrar.
Vítor arregalou os olhos, desesperado.
_ Eu pensei em ligar para o Paulo, mas preferi te contar primeiro. Que tal se fôssemos hoje ao consultório em que ele trabalha? _ Vítor indicou, em alerta.
_ Você não acredita, não é?
_Na verdade, acho que também vou me consultar, porque eu estou começando a acreditar no que você disse. Quer dizer, a única coisa que eu sei é que alguém realmente entrou aqui. A porta estava semiaberta quando cheguei e eu achei isso no chão da sala.
Vitor estendeu um cordão para Lindsay, em seu pingente havia um coração em seu real formato.
_ Eu sabia que tinha visto esse colar em algum momento! Ontem eu estava revendo as fotos antigas e eu vi esse colar, era o colar da minha mãe!
_ Tem certeza de que era da sua mãe?
_ Bom, a história é a seguinte: meu avô fez dois colares desse, um para minha mãe e outro para minha tia e falou para as duas passarem para seus filhos primogênitos.
_ Sua mãe continuou com o dela?
_ Meu pai me contou que ela ficou desolada quando o filho primogênito dela morreu, mas, antes dela morrer, ela entregou o cordão para o meu pai encontrar minha irmã perdida.
_ Já pensou na possibilidade de ter sido a sua tia a entrar aqui?
_ Minha tia e eu sequer nos conhecemos, ela não sabe onde moro.
_ Tudo bem, sobre a questão do Paulo: talvez ele possa te encaixar em algum horário hoje, eu vou com você e no momento que você quiser ir embora a gente sai.
_Você é bom em convencer. Eu aceito.
Vitor ligou para Paulo e pediu a ele para marcar um horário para Lindsay. Paulo disse que não havia ninguém naquele momento e que, se eles quisessem, poderiam ir. Os dois se direcionaram ao carro de Vitor e eles foram para a clínica em que Paulo trabalhava.
Chegando lá, Paulo os recebeu com muito profissionalismo e carinho. Lindsay perguntou se Vítor poderia acompanhá-la, suas mãos estavam tremendo.
_ Claro, só queremos que você fique à vontade. _Paulo respondeu.
Após recebê-los em sua sala e pedir que fique à vontade, Paulo pediu para que ela contasse o que aconteceu. Lindsay decidiu começar pelo mais óbvio e recente.
_ Ele acha que estou louca. _ Ela disse apontando para Vitor.
_ E por que você acha que ele pensa assim? _ Paulo a incentivou.
_ Porque a minha mãe apareceu lá em casa ontem.
_ Me dê mais detalhes. _ Paulo disse, a observando.
_ Ela disse que nos encontraremos logo e Vítor acha que estou tendo alucinações. _Lindsay disse, de braços cruzados.
_ Lindsay, eu não quis dizer isso... _ Vítor iniciou, mas não soube o que dizer.
_Mas disse. _ Ela respondeu, o analisando.
_ Eu sinto muito, só estou preocupado. _ Vítor parecia mais perdido que a própria Lindsay e pôs as mãos na cabeça de forma reflexiva.
_ Quando a minha mãe voltar e ficarmos juntas você vai se arrepender de não ter acreditado em mim. Ela vai voltar e vai me levar com ela. _ a respiração de Lindsay estava acelerada e seus olhos estavam cheios de água.
_Lindsay, me responda algo: você acredita que a viu, acredita que era ela a mulher que viu ontem?
Lindsay se calou por alguns minutos, era ela, só podia ser.
_Era ela. _ Sua voz saiu um tanto incerta.
_ Tem certeza?
_Eu não sei, era tão parecida, eu a vi.
_ Calma, você está um pouco confusa. Se você quiser, pode se deitar naquele sofá e relaxar. _ O psicólogo disse, com máxima calma.
_ Pode ser._ Lindsay parecia estar desligada.
_Deite-se aqui, feche seus olhos e me diga exatamente o que aconteceu ontem.
Lindsay contou-lhe alguns detalhes do dia que passou enquanto Paulo fazia anotações.
_ Há algo a mais que queira me contar? Algo que dói toda vez que você lembra, algo que você quer esquecer?
_ A morte do meu pai, o acidente que sofremos. Depois que o carro capotou, eu vi o homem que causou tudo sorrindo para mim na beirada do barranco.
_ Acho que está bom por hoje podemos marcar um outro dia para continuarmos essa conversa, o que você acha?
_Ah, eu topo. Eu gostei. _ Lindsay disse, de forma descontraída.
No final da sessão, Paulo explicou algumas oscilações em suas expressões e remarcou uma nova sessão para outro dia.
_ Vou ao banheiro, já volto. _ Lindsay disse e saiu da sala.
_ Vitor, você não está errado em se preocupar. Eu analisei um encaminhamento que você trouxe e me preocupei bastante: ela não procurou um psicólogo depois do acidente de carro com pai, ela perdeu os pais, perdeu a todos e decidiu seguir em frente ignorando essa dor.
_ Tem uma coisa que fica martelando na minha cabeça: ela sempre conta a mesma história, ela diz que quando o carro capotou ela viu o homem sorrir lá na beira do barranco, olhando para eles, sendo que eu fui até o local no dia do acidente e posso afirmar que seria praticamente impossível enxergar alguém de onde ela estava. Fora que, ela estava desmaiada e quando acordou estava desnorteada, não dizia coisa com coisa.
_ Você notou algo estranho nela depois do acidente: alguma fase anormal, dor de cabeça, algo que possa ajudar?
_ Bom... eu a levei ao hospital e a única coisa que o médico disse foi que ela estava com dor de cabeça por conta da batida. Ele lhe passou alguns remédios e somente mandou- a descansar, mesmo que eu tenha insistido para fazer uma tomografia nela.
_ Isso foi uma completa negligência da parte dele. Sei que se passaram 3 anos, mas eu acredito que ainda há como reverter essa situação.
_ Espera, você sabe o que está acontecendo com ela?
_ Preciso de mais informações para um diagnóstico completo, mas suspeito de algo, sim.
_Vamos? _ Lindsay retornou.
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Uma Noite Sem Fim
Mystery / ThrillerSegredos: informações que não podem ou não devem ser compartilhadas. Todas as pessoas costumam conter informações ocultas sobre algo que consideram errado demais para ser exposto. Em uma noite, noite que parecia não terminar mais, Lindsay descobre...