Bônus( George )

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_ Para um dono de agência de detetives particulares, você é bem inexperiente._ Natasha Almeida, sua advogada de defesa, disse de forma sarcástica, enquanto se sentava na cadeira à sua frente.

Algumas semanas haviam se passado para que Natasha, finalmente, tomasse coragem para voltar a vê-lo, ela tinha assuntos pendentes a resolver com ele, mas se sentia intimidada com seu olhar. Ela não estava acostumada a se sentir coagida, era ela quem fazia as pessoas recuarem, não o contrário, mas muita coisa havia mudado.

Natasha, a advogada mais cobiçada e invejada, prepotente e intimidadora, estava sendo coagida por um assassino que nem ao menos se deu ao trabalho de esconder as provas de seus crimes. Era isso que a intrigava, o homem tinha tanta confiança no começo do julgamento, ele parecia saber exatamente com o que estava lidando. No final das contas, ele foi condenado a 25 anos de prisão e Natasha perdeu esse caso.

A advogada mexeu no cabelo castanho escuro, muito bem cuidado, e o jogou para o lado, uma mania que ela tinha quando ficava nervosa. Ela também costumava usar o sarcasmo a seu favor, era ótima nisso e ninguém decifrava o que ela realmente estava sentindo.

Voltando- se para seu cliente, ela viu a expressão dele se transformar em ódio, ao ouvir as palavras dela.

_ Eu ainda não entendo como encontraram as provas, eu sumi com elas. Como isso é possível? _ Esse questionamento ainda pairava na mente de George.

Ele recordava-se de ter escondido todas as provas e que, segundo ele, nunca seriam encontradas, exceto as que já estavam nas mãos de Ricardo.

Só de pensar na possibilidade de passar o resto de sua vida na cadeia, já sentia um ódio de si mesmo por não ter matado Ricardo e sua família. Logo, se lembrou que Deise fazia parte dessa família. Não, ele não seria capaz de machucá-la. Era sua pequena, sempre seria.

O fato de George Mendonça ser loiro somente ajudou desde o dia em que Deise nasceu. A menina não se parecia com ele, mas seus cabelos tinham a mesma tonalidade de loiro então, para ele, isso bastava.

O problema sempre foi o comportamento de Deise, ele havia criado ela para herdar a agência, mas não aprovava muito o seu jeito tão meigo com todos, ela perdoava sempre e ele chegou à conclusão de que, talvez, colocá-la como chefe não fosse a melhor decisão.

De qualquer forma, George amava sua filha predileta, mesmo sendo filha de seu arqui-inimigo, Deise ainda era a filha da mulher de sua vida: Diana. George Mendonça, agora, encarava a mulher à sua frente, sua advogada, que afirmou ter algo importante a dizer:

_ Eu só vim lhe entregar uma carta. Me disseram que, aqui, todas as suas dúvidas serão supridas. Ela foi escrita há 4 meses atrás, alguns dias antes de encontrarem o local onde Ricardo e Helena eram mantidos em cárcere privado.

Natasha Almeida levantou-se e saiu sem se despedir. Ela odiava ter trabalhado com um homem tão ruim, ela o odiava.

Ainda relutante, George pensou se deveria abrir ou não a tal carta. Ele não costumava ser curioso, mas se deixou vencer ao lembrar das palavras da advogada: "me disseram que, aqui, todas as suas dúvidas serão supridas."

Ao abrir a carta, ele viu que era a letra de sua filha, Anna, e revirou os olhos com desgosto. Tentando não perder a paciência, ele decidiu ler a carta de uma vez:

_"Querido papai,

Gostaria de dizer que é um prazer escrever esta carta, mas não sou tão malvada ao ponto de mentir, então apenas direi que estou fazendo o que deve ser feito.

Sei que não sou sua filha predileta, esse papel pertence a Deise e ela o faz com tanta perfeição que eu não ousaria questionar o roteiro que o senhor criou para nós seguirmos: eu, a imprestável, a vilã e a minha querida irmã, a inteligente, linda e responsável.

De qualquer maneira, meu dever é alertá-lo sobre algo que descobri: Deise é filha de Ricardo e Diana, a mulher que o senhor sempre amou e o esposo dela, o homem que o senhor quis matar.

Sim, isso mesmo, papai, eu sei de tudo: o sequestro de Deise quando ainda era um bebê e de uma das irmãs dela, a morte do tal enfermeiro que te ajudou e o sequestro do Ricardo e da minha mãe. Que feio, papai, escondendo as coisas?!

Pois saiba que acabei de fazer algo que pode te alegrar: eu contei a verdade, coloquei todas as provas que te acusam na casa onde Ricardo e minha mãe são mantidos presos.

O senhor pode me achar burra, mas eu consegui encontrar todas as provas com meu próprio esforço, eu seria uma excelente líder, a legítima, mas isso não vem ao caso.

Agora, se estiver lendo isso é porque está na cadeia de castigo. Comporte-se bem e poderá sair do lugar da disciplina, não era isso que dizia para mim sempre?

Eu sempre fui desobediente, Deise e eu fazíamos as mesmas 'artes', mas eu era a culpada sempre, a má influência sempre.

Eu reconheço que escondi muitas coisas, mas percebi que não sou a única, o senhor ,querendo ou não, tem que reconhecer que eu sou a filha legítima, a verdadeira. Somos iguais, papai.

Olha, pai, fique tranquilo: eu te visitarei todas as noites em seus piores pesadelos, se arrependerá de não ter me amado como eu merecia. Até logo,papai.

Beijos de sua não- predileta filha, Anna."

Com ódio, George rasgou a carta e a lançou ao chão. Ele sabia o que aquilo significava: Anna o entregou da mesma forma que entregou a própria mãe, pelos rastros que ele deixou.

Foi ela quem chamou a polícia, foi ela quem deixou as provas à vista dos policiais, foi ela quem ajudou aqueles que George julgava serem traidores. Ele a odiava, odiava Anna por tê-lo traído.

Ele nunca desconfiaria dela, já que ele sabia perfeitamente da falsificação malfeita que ela fez ao trocar sua prova com a de Deise para que pudesse conseguir a bolsa de estudos no lugar da irmã.

Isso mesmo, George sabia que o tal documento era falso, ele era um detetive experiente e estava acostumado a lidar com falsificações o tempo todo.

Mas, isso não o fez impedir Anna de continuar com seu plano, afinal, dizer a verdade implicava consequências desagradáveis para ele: sua imagem seria exposta, já que sua filha seria presa, e Deise aceitaria a bolsa de estudos, indo para longe dele.

George estava furioso, ele não imaginava ser tão afetado pela traição de Anna, já que ele sequer a amava, ele não a considerava, então não entendia todo esse ódio por ela. Ele achava que deveria ser indiferente a isso, já que Anna estava morta e não poderia lhe fazer nada.

O patriarca Mendonça usou esse ódio a seu favor quando outro prisioneiro o desafiou, ninguém o desafiava onde quer que fosse, ele não permitiria jamais tal afronta. A briga, no entanto, não durou muito tempo, os carcereiros chegaram e afastaram os dois, levando George para a solitária.

Fazendo jus ao nome dado, a solitária era bastante quieta e não trazia conforto algum a quem quer que fosse, mesmo para George Mendonça.

Ele não se deixou abater pelo estado deplorável do lugar, levantou a cabeça, de forma soberba, mostrando superioridade e entrou no lugar. Mal sabia ele que aquela seria sua última chance de arrependimento e que sua noite não teria fim, mas sua vida, sim.

George Mendonça foi encontrado morto dentro da solitária no dia seguinte. Na parede, foram encontradas marcas de sangue de sua cabeça.

A polícia concluiu que algo, ou alguém, o fez enlouquecer a ponto de ele jogar a própria cabeça contra a parede até a morte. Talvez esse não tenha sido o fim que ele planejou, mas com as sementes que ele plantou, só havia esse tipo de frutos para colher. E ele colheu tudo com gotas de sangue.

Uma Noite Sem FimOnde histórias criam vida. Descubra agora