Capítulo 19- Confissões parte 1

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Enquanto o dia de Fernanda era repleto de novidades, Lindsay passou o dia assistindo televisão e relembrando as cenas que vira outrora, na noite anterior. Havia algo errado, ela sentia.

Sua cabeça trabalhava à procura de uma justificativa para as ações de Vitor, mas nada encontrou. Uma hipótese então surgiu ao lembrar das palavras de seu melhor amigo na noite de seu aniversário: "Preciso te contar tantas coisas mas agora não consigo, perder você é a última coisa que eu quero."

_" Ele precisava me contar algo que parecia ser sério demais, bem provável que tenha a ver com as ameaças de Anna. Será que ela sabe do tal segredo que ele não quer me contar?"_Lindsay formou essa hipótese em sua mente.

Ela estava certa de que Vitor escondia algo que a envolvia e descobrir o que era se tornou sua prioridade. Passou a maior parte do dia e da tarde pensando se deveria ou não se aproximar dele.

_" Se estiver sendo ameaçado pela Anna, ele provavelmente vai se afastar ,como disse"_ concluiu.

Lindsay desperta de seus pensamentos com uma batida na porta. Desde o episódio de quinta-feira ,seu aniversário, ela não abria a porta sem antes checar quem estava do outro lado. Não cometeria o mesmo erro duas vezes.

Ela mal acreditou quando a voz de Rebeca chegou aos seus ouvidos. Após a decisão de abrir ou não a porta para a garota que conheceu há tão pouco tempo, Lindsay decide abrir a porta e ouvir o que quer que ela tenha a dizer.

_Olá.

_ Oi._Lindsay, entretanto, continuava cautelosa.

_Eu vim para saber como você está. Depois que voltou do hospital, senti que tem estado distante durante as aulas. Desculpe se estou me metendo onde não sou chamada, mas fiquei realmente preocupada.

_ Tudo bem, eu compreendo, também agradeço pela preocupação, mas estou bem, de verdade. _ Lindsay olhou-a nos olhos com a certeza de que os mesmos a lembravam de alguém.

_ De nada. É, eu sei que é estranho eu saber onde você mora, mas é porque eu moro ali naquela terceira casa e te vi sair outro dia. Bom... agora eu preciso ir.

_Está tudo bem? _ Lindsay disse, ao perceber que Rebeca não olhava em seus olhos.

_Estou só cansada de tudo isso. _ "Paulo tem razão... Eu não posso", Rebeca completou em um sussurro que Lindsay ouviu pela metade.

_Desculpe, Paulo e você...

_O que? Não! Paulo é meu psicólogo há algumas semanas. _ O rosto de Rebeca ruborizou ao dizer essas palavras.

_ Ah, sim. Ele é realmente um bom profissional. _ Lindsay disse, sondando a nova colega de universidade.

_Sim, sempre com os melhores conselhos. _ Rebeca disse com um olhar diferente.

_" Eu já vi esse brilho no olhar e esse sorriso antes. Ela me é tão familiar. Seus traços, o rosto dela me lembra alguém."_ Lindsay pensou enquanto Rebeca sorria falando de seu médico.

_Lindsay!_Um estalar de dedos a trouxe de volta a realidade e Rebeca a encarava com curiosidade.

_Me desculpe, eu estava no mundo da lua. Então... eu sei que não devo me meter na sua vida, mas já que veio até aqui, me deu o direito de perguntar : o que te fez mudar de cidade de forma tão radical?

_Eu não posso dizer. Só vim pedir desculpas, já devia ter ido embora. _ Rebeca baixou a guarda, pensou em contar, mas a indecisão a fez virar as costas e sair andando.

_Mas se ainda não foi é porque sabe que pode me contar. Eu acredito em você, só preciso que diga a verdade. _ Lindsay não sabia absolutamente nada da garota à sua frente, mas seu olhar convenceu- a do contrário.

_Tudo bem, eu conto. _Lindsay a levou até a sala e lá Rebeca abriu o jogo.

_ Eu estou num programa de proteção à testemunha pois presenciei um assassinato.

_Conte- me sobre o que aconteceu.

_ Eu era garçonete em um bar bem próximo à minha casa. Em uma noite um homem chamado Jimmy decidiu que queria a minha companhia. Eu não aceitei, meu gerente ameaçou me demitir caso eu não considerasse; fiz um favor ao meu chefe: eu me demiti. Saí do bar revoltada e chateada ,mas não parou por aí, fui seguida pelo tal Jimmy e ele me agarrou. Não gosto nem de pensar no que teria acontecido se meu pai não tivesse chego. Meu pai nunca aprovou o fato de eu trabalhar em um bar, mas todos os finais de semana estava lá, com um copo de água ou de refrigerante na mão, sempre observando e me salvando de eventuais gracinhas dos clientes. Foi ele quem me defendeu daquele monstro, Jimmy tentou bater nele mas meu pai foi mais rápido e se defendeu. Foi legítima defesa.

_ Então, vocês tiveram que fugir e largar toda sua vida para trás mesmo sendo inocentes? _ Lindsay estava mais indignada do que o normal, tomou a dor de Rebeca para si e respirou fundo.

_ Quando tudo aconteceu eu fugi para uma cidade mais próxima, porém levava a minha vida de sempre. Mas, depois que o meu pai morreu, eu tive que fugir de cidade em cidade, porque a familia do Jimmy contratou detetives para me matar.

_Nossa, eles são cruéis. No que depender de mim eles não vão te achar. Aliás, quem te ajudou a fugir, já que o seu pai morreu?

_Eu não posso contar . É para nosso próprio bem. _ Lindsay não soube interpretar ambiguidade na fala de Rebeca, então se calou.

_ Rebeca, eu sei que muito aleatório, estou para te perguntar algo desde que reparei: o que significa esse coração no pingente do seu cordão ?

_Ah, isso? É algo que tento descobrir todos os dias. Bom... O desenho em si é um coração em seu formato original mas seu significado ainda não encontrei.

O celular de Rebeca toca e ela se afasta para atender .

_" Estranho, esse cordão me lembra alguém, mas não sei exatamente quem."_Ela pensou.

Uma lembrança chegou à sua mente:

_" Não deixe que o abismo das circunstâncias afaste um laço sanguíneo."_ era isso que o pai de Lindsay costumava dizer a ela.

Ricardo era um homem muito sábio, suas palavras eram de conforto para o ouvido daqueles que precisavam ser confortados, ou de broncas para os momentos de repreensão.

Ele era um bom homem que perdeu duas filhas antes de Lindsay nascer e teve de criá - la sozinho depois da morte de sua esposa. Se tornou o chefe de todos os departamentos da agência de detetive depois de anos de experiência, mas nunca deixou que Lindsay se envolvesse pois temia pela filha.

_ Agora eu preciso mesmo ir. Paulo disse que estou atrasada, eu nem percebi que as horas passaram depressa, eu tinha certeza de que não demoraria aqui.

_Não se preocupe, pode ir. Paulo é paciente , esperará seu tempo. _ Lindsay disse com um esboço de sorriso nos lábios.

_Sinto que não está dizendo isso apenas porque estou atrasada. _ Rebeca captou a mensagem no ar.

_Você tem um ótimo raciocínio. _ A ruiva devolveu na mesma hora.

As duas se despedem com um aperto de mão e , depois de perder Rebeca de vista , Lindsay tranca a porta novamente.

_" Podemos conversar?" _ A mensagem chega meia hora depois de Rebeca ter ido embora.

_" Eu não sei,podemos? Sua namorada não parecia confortável com a nossa amizade." _ Lindsay enfatizou a palavra " namorada", ela tinha perguntas e ele, respostas.

_" Tenho algo importante a dizer."

_ "Melhor que seja pessoalmente."_Ela digitou.

_"Pode ser em um outro lugar ?"_Ele perguntou, não querendo colocá- la em risco

Lindsay pensou em questionar sobre a câmera, mas achou melhor fazer isso pessoalmente, gostaria de ver suas expressões faciais.

_Quando e onde ?

_Daqui a vinte minutos eu passo em frente a casa da Fernanda para te buscar ,tudo bem?

_ Ok, até logo.

_Até logo.

Uma Noite Sem FimOnde histórias criam vida. Descubra agora