Chego no half 14:45. Marquei com ela aqui às 15:00.
Fico andando de skate, ou pelo menos tentando. Meu corpo estava pedindo, ou melhor, implorando por uma cama. Fazia tempo que eu não tinha uma ressaca dessas.
Alice - Oi..
Eu me viro e a vejo. Ela estava linda com aquels calça jeans e a jaquetinha azul de couro. Achei engraçado a cara de surpresa dela quando viu meu rosto. Queria rir, mas a dor impediu.
Alice - Mas o que..
Yuri - Relaxa, foi só uma briguinha..
Alice - Seus amigos também apanharam desse jeto?
Yuri - Não exagera também. Foram alguns murros só..
Alice - Murrros de um profissional, com certeza. Olha isso.. gente..
A gente sobe no half. Deixo meu skate de lado e sento perto dela.
Alice - Já colocou alguma coisa nisso ai?
Yuri - Coloquei gelo..
Alice - Gelo é pior. Isso queima a pele. Eu não sei quem inventou que tem que colocar gelo no local machucado..
Yuri - Pelo menos ameniza a dor.
Alice - Ameniza na hora porque congela o local, mas depois queima e a dor só piora..
Yuri - Então o que a doutora aí me indica?
Eu deito minha cabeça sobre as coxas dela e a encaro nos olhos. Ela solta um riso lindo e suave.
Alice - Vou te ensinar uma coisa que aprendi quando entrei no ballet..
Ela coloca suas mãos delicadas sobre o meu rosto. Eu estava dolorido, mas podia jurar que as mãos delas ali não estavam me dando nenhuma dor, aliás, estava aliviando.
Yuri - O que vai fazer?
Ela encosta seu polegar sobre meu olho roxo e começa a massagear. Era como forma de circurlação, depois ela começou a empurrar o roxo pra trás. Aquilo estava doendo e uma leve dor de cabeça estava se formando no meu crânio.
Yuri - Isso dói..
Ela solta um riso de canto. Como ela acha graça da minha dor? Só pode estar ficando louca mesmo. Essa garota cheirou?
Alice - Você não pensou na dor quando resoveu brigar..
Eu bufo. Ela volta a sorrir e eu fecho os meus olhos pra tentar amenizar a pequena dor.
Alice - É uma técnica mais prática de remover esse roxo e sua dor. Certamente se você fizer isso pelos próximos três dias você não terá mais nenhuma sequela no rosto..
O que? Ela queria que eu me torturasse por três dias e ainda diz que isso vai sumir? Prefiro ficar assim.
Yuri - Pra que isso? Como sabe que funciona?
Ela volta com aquele sorriso. Ôh, sorriso.
Alice - Quando agredimos um local em um certo tempo, ele automaticamente ficará vermelho ou roxo depois de alguns minutos. Isso é porque o sangue se instala no local.
Yuri - Mas o cara não precisou ficar batendo em mim nem por dois minutos.
Alice - O roxo varia da força utilizada no ato. Mas enfim, quando eu "empurro" o roxo, quer dizer que estou empurrando o sangue, fazendo com que ele comece a circular e sair daquele determinado lugar. Isso acelera o processo de cicatrização.
Yuri - Ah. Mas eu não vou me torturar por três dias. Nem que eu quisesse, eu não vou conseguir..
Alice - Tudo bem, eu faço isso por você.
E mais uma vez ela sorriu.
***
Ficamos o dia todo ali no half. Quando me dei conta já eram 20:30.
Alice - Hoje não tem ensaio?
Alice estava deitada no meu ombro. A noite estava tão linda ali que eu gostaria de poder congelar aquele momento para sempre. As estrelas, a Alice, tudo..
Yuri - Acho que não. Eu não estou muito bem para isso..
Ela deitou no half e ficou olhando as estrelas. O brilho nos olhos dela não escondia que ela estava feliz ali.
Yuri - Sua mãe não vai brigar? Olha a hora..
Alice - Ela não se importa. Ela nunca se importou. Mas relaxa, eu estou em boas mãos..
Ela sorri. Eu devolvo o riso e dou um beijo nela. Ela quebra o beijo em alguns segundos e eu fico sem entender.
Alice - Sabe..
Ela senta de frente pra mim. E respira fundo.
Alice - Você acha que isso dá certo?
Yuri - Isso o que?
Alice - A gente..
Eu olho pro chão e procuro alguma resposta que a convença no fundo dos meus pensamentos. Na verdade eu fiquei na dúvida entre a convencer que poderíamos dar certo ou ao contrário. Na verdade eu não sabia a resposta para aquela pergunta.
Yuri - Alice..
Antes que eu pudesse terminar ela me interrmpe segurando firme minhas mãos e engolindo em seco.
Alice - Olha, independente do que você acha, eu quero que saiba que eu estou gostando disso, sabe ? Minha vida tem melhorado muito ultimamente, eu sei que não temos nada a ver um com o outro, eu sei que muitoa julgam mas o que eu realmente me importo é o que sentimos aqui..
Ela encosta a mão no meu peito e depois volta a falar.
Alice - Eu não me preocupo com o que os outros falam. Acho ridículo essa coisa de classe social. O que adianta ter tudo menos o amor? Olha, Yuri. Eu nunca fui assim, sabe ? Meus pais nunca ligaram muito pra mim, principalmente minha mãe. Ela vivie me ignorando, sempre dizendo que tem compromissos mas nunca tem um tempo pra mim. Sabe o que eu acho de verdade? Que o que realmente importa é o que sentimos e não o que os outros sentem. Se você está bem assim, então eu também estou. Mas se caso você ache que isso não está certo, então eu vou ser obrigada a aceitar. Mesmo que isso custe minha felicidade.
Eu fico olhando ela sem saber o que falar. Cheguei a limpar a garganta várias vezes mas meus pensamentos não conseguiam formar uma palavra concreta para dizer a ela.
Ela ficou me olhando esperando uma resposta. Depois de ver que eu não iria falar nada ela abaixou o olhar num tom decepcionante.
Eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o que eu poderia fazer? Muitas pessoas estão achando que isso está errado. A gente não tem nada a ver. Será que eu deveria seguir meu coração? E se isso afetar a família dela? E se eles não aceitarem? Eu tenho certeza que vou perder amgos por isso. Mas quer saber de uma coisa? Eu cansei. Cansei de me importar com os outros e esquecer de mim. Cansei de me preocupar demais ao meu redor e esquecer que o problema é comigo. Cansei de ajudar os outros e esquecer de ajudar a mim mesmo. Eu precisava ser feliz. Eu precisva dar outra chance a mim mesmo.
Yuri - Respondendo sua pergunta, eu acho que daríamos muito certo..
Ela sorri e eu a puxo para meu peito nos envolvendo em um abraço.
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VAGABUNDO TAMBÉM AMA
Romance"Foi quando eu disse que não queria mais dormir se não fosse contigo. E que iria segurar na sua mão até o dia que seu cão voltasse. E se algum dia, olhando pela janela, os cotovelos apoiados, os dedos segurando um cigarro, eu me questionasse novamen...