Capitulo 18

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-O quê? - Perguntei confusa.

Ele pegou-me nas mãos enquanto as acariciava com o polegar. Era um gesto terno para um rapaz que nos últimos dias me fazia sofrer.

-Eu não te quero envolvida com aquelas pessoas. - Admitiu. - Eles são perigosos e eu não quero que despertes a atenção do Alex.

-Alex? - Perguntei.

-O Alex é aquele rapaz que estava interessado em conhecer-te melhor...- Cuspiu as palavras. - Ele tem 20 anos e é muito perigoso. As raparigas pelas quais ele se interessa nunca acabam bem.

Fiquei assustada. A voz do rapaz era assustadora e o seu olhar também, mas agora ele parecia aterrorizante.

-Ryan... - Murmurei. - Ele interessou-se por mim?

-Não, acho que não. - Notei medo na sua voz também. - A única forma de termos a certeza de que ele não te toca é saber que tens um namorado. Ele nunca seria o amante ou trairia outro homem.

-Mas... eu não tenho namorado. - Admiti envergonhada, mesmo que ele já soubesse.

-Sim, eu sei. Havemos de arranjar algo. - E puxou-me para os seus braços.

Sem reação abracei-o de volta. Os seus braços fortes à volta do meu corpo frágil faziam-me sentir segura apesar do medo começar a dominar-me. Porque é que eu sempre atraía as pessoas erradas?

Ele largou-me e vi o seu rosto tornar-se levemente vermelho. Colocou a cadeira no sítio e saiu sem dizer mais nada. Deixei-me cair para trás na cama e abracei a almofada. Agora o Eddy parecia-me longínquo e uma nova ameaça aterrorizava-me. Alex, só de pensar nele arrepiava-me. Só esperava que o Ryan arranja-se uma forma de afastar a atenção dele.

Acordei a meio da noite com o som de gritos. Sentei-me e esfreguei os olhos ensonados. Os gritos vinham do quarto ao lado e a voz rouca parecia a do Ryan. Lancei os cobertores para trás e saltei da cama. No corredor os gritos ainda pareciam mais angustiados e senti o meu coração acelerar. Corri até à porta do quarto dele e tentei abri-la. Estava trancada e os gritos dele eram cada vez mais roucos. Num momento irracional corri até ao meu quarto e arranquei a chave da porta. Como eram idênticas, talvez, e numa possibilidade remota, a minha chave abrisse a porta dele. Surpreendente, a minha hipótese estava certa, a porta abriu-se mal rodei a chave.

O quarto estava escuro e a única luz que entrava provinha do exterior. Avancei cuidadosamente até à sua cama onde ele estava deitado numa posição desconfortável e com os cobertores a caírem em direção ao chão escuro.

-Ryan. - Chamei-o calmamente.

O seu cabelo estava desorganizado e colado à testa pelo suor. Dormia sem t-shirt o que me deixou desconfortável pela vista do seu peito musculoso e de uma tatuagem, que não sabia que tinha, no tronco do lado esquerdo. Talvez por ser coberta pelo seu grande braço.

Sentei-me na beira da cama e abanei-o colocando as minhas pequenas mãos no seu ombro suado.

-Ryan! - Voltei a chamar mais alto.

Ele remexeu-se na cama desfeita e apertou o meu pulso com força.

-Ryan! - Gritei aflita.

Ele continuou a apertar o meu pulso enquanto se contorcia com o que pareciam ser dores. Voltei a abaná-lo, mas desta vez com mais força. Ele rodou na cama e empurrou-me para o chão. Caí no chão frio ficando presa pelo pulso na forte mão dele. Gritei de dores pela forma em que o meu braço se contorceu.

Ele acordou e acendeu um pequeno candeeiro.

-Amanda? - Ele disse com a voz rouca. - O que fazes aqui?

Massajei o meu pulso durante algum tempo antes de me explicar.

-Tu estavas a ter um pesadelo e eu ouvi os teus gritos, depois vinha ver-te mas a porta estava trancada e então eu...

-Amanda, resume. - Disse entre um sorriso.

-Estavas a gritar e eu fiquei preocupada. - Evitei tagarelar.

-Como foste parar ao chão?

Ele fez-me sinal para que saísse do chão e me sentasse ao seu lado na cama. Uma vez iluminado o meu pulso mostrava uma cor roxa.

-O que é isso? - Perguntou puxando-me a mão para examinar.

-O motivo pelo qual fui parar ao chão. - Expliquei. - Quando estavas a dormir amarraste-me e quando tentei libertar-me empurraste-me ao chão.

Ele levantou-se e puxou-me pela mão boa para fora do quarto enquanto dizia:

-Vamos meter gelo.

Segui-o forçada até à cozinha onde ele abriu o congelador e retirou uma saca de gelo. Embrulhou-o numa grossa toalha e deu-mo para o pulso.

-Desculpa, Amanda. Eu não sabia o que estava a fazer...

-Não faz mal. - Tentei tranquiliza-lo. - Afinal, o que era tão mau no teu sonho?

Ele levantou-se do banco à minha frente e andou até à porta.

-Não foi nada. Para a próxima não te aproximes.

Fiquei a olhar para as suas costas onde se viam alguns riscos negros da tatuagem.

-Fazes-me lembrar quando a minha mãe tinha pesadelos quando eu era pequena. - Ele virou-se. - Acordava quase toas as noites com os seus gritos e ficava com medo. Ao início tentava acordá-la, mas quando ela acordava batia-me por a ver naquele estado. Então, ao fim de algum tempo, apenas me fechava no quarto e ouvia música na esperança que ela acordasse.

Ele não disse nada durante algum tempo enquanto eu digeria as lembranças. Agora sabia porque a minha mãe tinha pesadelos, a dor de o meu pai a ter deixado consumia-a. Naquela altura apenas pensava que a mamã tinha medo de monstros como eu, o que na realidade não estava muito longe da verdade.

Ele aproximou-se e sentou no banco à minha frente. Passou a sua mão sobre a minha que segurava o gelo e eu olhei-o. Os seus olhos estavam tristes e demasiado irresistíveis para me afastar. Ele desviou o meu cabelo dos olhos e colocou-o atrás da orelha. Apenas o observava enquanto ele se aproximava. O meu estomago parecia repleto de borboletas, algo que nunca compreendera até agora. Senti-a os meus joelhos tremerem e se estivesse de pé cairia. Ele estava tão próximo que conseguia sentir a sua respiração a misturar-se com a minha. Entreabri os lábios instintivamente e deixei-me levar.

Amuleto de AzarOnde histórias criam vida. Descubra agora