Capitulo 5

573 25 0
                                    

O rapaz golpeou-o e empurrou-o. Poucos minutos tensos depois, eles fugiram e deixaram-nos sozinhos na rua silenciosa.

-Obrigada. - Murmurei ao estranho enquanto massajava o meu pulso dorido.

Ele fitou-me e reconheci os seus olhos verdes claros.

-Estas bem?

Assenti apesar de ser mentira. O meu rosto doía tal como os meus joelhos e o meu pulso, mas não lhe ia dizer isso. Virei-me para seguir para a minha casa, mas ouvi-o seguir-me.

-O que estas a fazer? - Perguntei quando o fitei.

-A certificar-me que chegas bem a casa.

Ele mantinha as mãos nos bolsos e os ombros tensos. O seus olhar fitava o meu rosto e senti-me corar. Nunca nenhum rapaz me tinha olhado assim. Virei-me novamente e continuei a andar mancando para casa. Subi os pequenos degraus na entrada com dificuldade e antes de abrir a porta voltei-me para o ver uma última vez. Ele afastava-se pelo longo passeio com a cabeça baixa e o casaco de couro a brilhar nas poucas luzes.

Entrei em casa e atirei a mochila para cima do sofá e o meu ombro doeu com o esforço. Dirigi-me à casa de banho e quando me olhei ao espelho não consegui evitar as lágrimas. Metade do meu rosto estava roxo e o meu lábio inferior estava cortado. O meu cabelo emaranhado e a minha maquilhagem borrada pelas lágrimas. O meu pulso estava roxo e os meus joelhos voltaram a sangrar. Liguei a torneira da banheira e fiquei a fitar a água a cair enquanto me acalmava. O meu coração batera tão rápido e descontrolado que tive medo que pudesse explodir ou que parasse e nunca mais batesse. Nunca sentira tanto medo e desejava nunca mais o sentir. Sentira-me indefesa e inútil. Ainda bem que o Ryan me tinha ajudado. De onde ele tinha surgido?

Entrei dentro da banheira e deixei que a água quente lavasse tudo da minha pele.

Acordei com o som irritante do despertador. Levantei-me e vesti-me. Escolhi umas calças brancas e uma camisola cinzenta, coloquei um gorro na tentativa de me manter quente e coloquei poucos acessórios. Preparei o pequeno-almoço simples e comi. Quando olhei para as horas faltavam dez minutos para as aulas começarem. Peguei no meu casaco de ganga e saí de casa. A neve continuava a cair brandamente e começava a cobrir tudo de um branco adorável. Apreciava o toque da neve ao meu redor quando ouço chamarem-me. Volto-me e encontro o Ryan sentando numa moto parada ao lado do passeio. Reconheci a mota que todas as manhãs passava por mim e que me molhara naquele dia.

-Foste tu! - Acusei.

-O quê?

O rosto dele tornara-se interrogativo e era engraçada a sua expressão. Sorri e ele continuou a fitar-me. Era a primeira vez que via o seu olhar mudar do vazio e distante para uma engraçado e ofendido.

-Foste tu que me molhas-te no outro dia!

Ele desviou o rosto e passou a mão pelo cabelo. Notei o capacete que ele segurava apoiado na mota entre as suas pernas.

-Estavas mesmo a pedi-las.

Olhei-o surpreendida.

-Não me lembro de te ter pedido que me molhasses toda!

Ele ligou a moto e estendeu-me o capacete. Continuei a fitá-lo sem perceber.

-Vais chegar atrasada se fores a pé. Sobe.

Olhei para o ecrã do telemóvel e era verdade. Faltavam apenas dois minutos para tocar. Agarrei no capacete e coloquei-o. Subi para trás dele e hesitei em onde me devia amarrar. Ele fitou-me por cima do ombro.

-Se não te segurares vais cair. - Ele disse na sua voz calma.

-Onde queres que me segure?

Parecia que ele sorriu, mas não tive a certeza pois ele voltou-se para a frente. Amarrei-me cuidadosa aos ombros dele, mas quando ele acelerou pela estrada enrolei nervosa os meus pequenos braços à volta da sua cintura e apertei forte. Encostei a minha cabeça às suas costas e apertei as minhas pernas à volta das dele enquanto ele acelerava mais.

Chegamos à escola rapidamente e quando ele estacionou, tirei cuidadosamente o largo capacete. Desci da moto e entreguei-lhe o capacete.

-Obrigada. - Disse-lhe.

-Arranjaste onde te agarrar rápido.

Ele dissera-o simplesmente sem qualquer emoção escondida.

-Eu nunca tinha andado de moto.

E entrei na escola deixando-o sentado na sua monstruosa moto negra.

-Ele fez mesmo isso? - Perguntou a Rose pela terceira vez.

-Sim. - Respondi triste.

-Como é que ele é capaz?

Contara-lhes o que tinha acontecido na noite anterior. A Rose parecia chocada enquanto a Andie andava nervosa de um lado para o outro à frente do nosso banco.

-Como é que conseguiste fugir?

-O Ryan ajudou-me, quer dizer, ele salvou-me.

Um sorriso parvo apareceu no meu rosto ao relembrar a noite anterior.

-O Ryan? O rapaz novo? - Perguntou curiosa a Andie, sentando-se a meu lado.

Assenti corada. Ela logo começaram a dar-me suaves empurrões e a fazerem imensas perguntas. Levantei-me do meio delas e encarei-as de pé.

-Não é nada disso que estão a pensar! - Gritei-lhe envergonhada.

Elas riram e continuaram a fazer imensas perguntas.

-Beijaram-se?

-Gostas dele? Ele é mesmo fofo!

Coloquei a mochila ao ombro e afastei-me.

-Onde vais? - Gritaram-me do banco.

-Ao hospital! - Respondi já longe.

Caminhei até chegar ao hospital. Entrei e dirigi-me à receção. A senhora indicou-me o quarto da minha mãe e eu segui à procura dele.

Ela encontrava-se deitada sobre a cama. O seu rosto novamente pálido e o seu olhar perdido no teto branco. O seu cabelo confuso e desordenado. Chamei-a, mas ela não se mexeu. O soro ainda estava ligado a ela.

-Mãe. - Voltei a chamar.

Ela fechou lentamente os olhos e o meu coração apertou. Corri para o corredor e gritei por ajuda enquanto as lágrimas começavam a descer. O médico que sempre atendia a minha mãe e sempre falava comigo apareceu e entrou rapidamente no quarto levando mais três enfermeiras consigo. Fiquei no corredor frio enquanto eles continuavam lá dentro. Alguns minutos depois eles saíram do quarto e a minha mãe ia inconsciente na maca.

-O que se passa? - Quase gritei para o médico.

Amuleto de AzarOnde histórias criam vida. Descubra agora