O rapaz golpeou-o e empurrou-o. Poucos minutos tensos depois, eles fugiram e deixaram-nos sozinhos na rua silenciosa.
-Obrigada. - Murmurei ao estranho enquanto massajava o meu pulso dorido.
Ele fitou-me e reconheci os seus olhos verdes claros.
-Estas bem?
Assenti apesar de ser mentira. O meu rosto doía tal como os meus joelhos e o meu pulso, mas não lhe ia dizer isso. Virei-me para seguir para a minha casa, mas ouvi-o seguir-me.
-O que estas a fazer? - Perguntei quando o fitei.
-A certificar-me que chegas bem a casa.
Ele mantinha as mãos nos bolsos e os ombros tensos. O seus olhar fitava o meu rosto e senti-me corar. Nunca nenhum rapaz me tinha olhado assim. Virei-me novamente e continuei a andar mancando para casa. Subi os pequenos degraus na entrada com dificuldade e antes de abrir a porta voltei-me para o ver uma última vez. Ele afastava-se pelo longo passeio com a cabeça baixa e o casaco de couro a brilhar nas poucas luzes.
Entrei em casa e atirei a mochila para cima do sofá e o meu ombro doeu com o esforço. Dirigi-me à casa de banho e quando me olhei ao espelho não consegui evitar as lágrimas. Metade do meu rosto estava roxo e o meu lábio inferior estava cortado. O meu cabelo emaranhado e a minha maquilhagem borrada pelas lágrimas. O meu pulso estava roxo e os meus joelhos voltaram a sangrar. Liguei a torneira da banheira e fiquei a fitar a água a cair enquanto me acalmava. O meu coração batera tão rápido e descontrolado que tive medo que pudesse explodir ou que parasse e nunca mais batesse. Nunca sentira tanto medo e desejava nunca mais o sentir. Sentira-me indefesa e inútil. Ainda bem que o Ryan me tinha ajudado. De onde ele tinha surgido?
Entrei dentro da banheira e deixei que a água quente lavasse tudo da minha pele.
Acordei com o som irritante do despertador. Levantei-me e vesti-me. Escolhi umas calças brancas e uma camisola cinzenta, coloquei um gorro na tentativa de me manter quente e coloquei poucos acessórios. Preparei o pequeno-almoço simples e comi. Quando olhei para as horas faltavam dez minutos para as aulas começarem. Peguei no meu casaco de ganga e saí de casa. A neve continuava a cair brandamente e começava a cobrir tudo de um branco adorável. Apreciava o toque da neve ao meu redor quando ouço chamarem-me. Volto-me e encontro o Ryan sentando numa moto parada ao lado do passeio. Reconheci a mota que todas as manhãs passava por mim e que me molhara naquele dia.
-Foste tu! - Acusei.
-O quê?
O rosto dele tornara-se interrogativo e era engraçada a sua expressão. Sorri e ele continuou a fitar-me. Era a primeira vez que via o seu olhar mudar do vazio e distante para uma engraçado e ofendido.
-Foste tu que me molhas-te no outro dia!
Ele desviou o rosto e passou a mão pelo cabelo. Notei o capacete que ele segurava apoiado na mota entre as suas pernas.
-Estavas mesmo a pedi-las.
Olhei-o surpreendida.
-Não me lembro de te ter pedido que me molhasses toda!
Ele ligou a moto e estendeu-me o capacete. Continuei a fitá-lo sem perceber.
-Vais chegar atrasada se fores a pé. Sobe.
Olhei para o ecrã do telemóvel e era verdade. Faltavam apenas dois minutos para tocar. Agarrei no capacete e coloquei-o. Subi para trás dele e hesitei em onde me devia amarrar. Ele fitou-me por cima do ombro.
-Se não te segurares vais cair. - Ele disse na sua voz calma.
-Onde queres que me segure?
Parecia que ele sorriu, mas não tive a certeza pois ele voltou-se para a frente. Amarrei-me cuidadosa aos ombros dele, mas quando ele acelerou pela estrada enrolei nervosa os meus pequenos braços à volta da sua cintura e apertei forte. Encostei a minha cabeça às suas costas e apertei as minhas pernas à volta das dele enquanto ele acelerava mais.
Chegamos à escola rapidamente e quando ele estacionou, tirei cuidadosamente o largo capacete. Desci da moto e entreguei-lhe o capacete.
-Obrigada. - Disse-lhe.
-Arranjaste onde te agarrar rápido.
Ele dissera-o simplesmente sem qualquer emoção escondida.
-Eu nunca tinha andado de moto.
E entrei na escola deixando-o sentado na sua monstruosa moto negra.
-Ele fez mesmo isso? - Perguntou a Rose pela terceira vez.
-Sim. - Respondi triste.
-Como é que ele é capaz?
Contara-lhes o que tinha acontecido na noite anterior. A Rose parecia chocada enquanto a Andie andava nervosa de um lado para o outro à frente do nosso banco.
-Como é que conseguiste fugir?
-O Ryan ajudou-me, quer dizer, ele salvou-me.
Um sorriso parvo apareceu no meu rosto ao relembrar a noite anterior.
-O Ryan? O rapaz novo? - Perguntou curiosa a Andie, sentando-se a meu lado.
Assenti corada. Ela logo começaram a dar-me suaves empurrões e a fazerem imensas perguntas. Levantei-me do meio delas e encarei-as de pé.
-Não é nada disso que estão a pensar! - Gritei-lhe envergonhada.
Elas riram e continuaram a fazer imensas perguntas.
-Beijaram-se?
-Gostas dele? Ele é mesmo fofo!
Coloquei a mochila ao ombro e afastei-me.
-Onde vais? - Gritaram-me do banco.
-Ao hospital! - Respondi já longe.
Caminhei até chegar ao hospital. Entrei e dirigi-me à receção. A senhora indicou-me o quarto da minha mãe e eu segui à procura dele.
Ela encontrava-se deitada sobre a cama. O seu rosto novamente pálido e o seu olhar perdido no teto branco. O seu cabelo confuso e desordenado. Chamei-a, mas ela não se mexeu. O soro ainda estava ligado a ela.
-Mãe. - Voltei a chamar.
Ela fechou lentamente os olhos e o meu coração apertou. Corri para o corredor e gritei por ajuda enquanto as lágrimas começavam a descer. O médico que sempre atendia a minha mãe e sempre falava comigo apareceu e entrou rapidamente no quarto levando mais três enfermeiras consigo. Fiquei no corredor frio enquanto eles continuavam lá dentro. Alguns minutos depois eles saíram do quarto e a minha mãe ia inconsciente na maca.
-O que se passa? - Quase gritei para o médico.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amuleto de Azar
Roman pour AdolescentsA vida de Amanda nunca foi fácil e ultimamente as coisas têm piorado. Será mesmo a maldição que a sua mãe a acusa de possuir ou é simplesmente azar? Mesmo depois de um truque do destino será Amanda forte o suficiente forte para continuar a lutar? De...