O choque no rosto da Caitlin e da Ellen era evidente, tal como a surpresa no meu e no do Ryan. Como é que ele sabia?
-O quê? - Perguntou a Caitlin histérica.
O Ryan olhou para o pai à procura de resposta para como ele sabia enquanto a sua mãe o olhava dececionada.
-Como podem ver a Amanda deve jantar connosco. - Terminou o Stefan.
A Ellen bufou e voltou a sentar-se na sua cadeira derrotada.
-Obrigada, mas eu não quero repartir a mesa com pessoas contrariadas. Eu vou fazer companhia à Mary. - Disse sentindo-me completamente estúpida, mas não aguentava mais as lágrimas nos olhos.
Entrei na cozinha e a Mary não ficou surpresa por me ver. Passou a sua mão gentilmente pelo meu braço e murmurou um "oh, querida". Encolhi os ombros e segui para o meu quarto, tinha perdido o apetite.
Abri a porta do meu quarto e atirei-me para cima da cama. Liguei a televisão na esperança de esquecer o que tinha acabado de acontecer. Só despertei do transe do programa foleiro quando a June entrou no quarto.
-Hey! - Ela disse. - O Ryan andava à tua procura.
Assenti, não me apetecia falar com ele ou mesmo sair daquele quarto e encontrar-me com alguma das outras pessoas na casa. A June sentou-se ao meu lado na cama e pouco tempo depois falou.
-Porque é que a tua mãe está no hospital?
Senti-me novamente desconfortável com a pergunta, pois normalmente as pessoas não reagem bem quando sabem que a minha mãe se drogava e bebia. E não lhes ia dar mais um motivo para me tratarem mal.
-Está numa clinica de reabilitação. - Respondi simplesmente. Ela podia estar lá por muitos motivos, não? Suspirei.
A June limitou a assentir e a sorrir fraco.
-Ela vai ficar boa, certo?
-Acho que sim. - Sorri-lhe de volta mais confiante.
A preocupação era visível no seu pequeno rosto. Ela tinha os olhos claros como o Ryan mas eram mais azuis. O seu cabelo era loiro como o da mãe e mais claro que o do irmão. Tinha o mesmo sorriso que o Ryan e o mesmo nariz que o Stefan. Parecia uma boneca com a sua pele pálida.
-Vais mesmo continuar a olhar para mim?
Desviei o rosto a rir. Esqueçam a boneca! Ia ser divertido tê-la como colega de quarto.
Acordei com dores de barriga. O meu estomago rangia de fome. Abri os olhos e notei que ainda era de noite. A June dormia ao meu lado na cama. Levantei-me silenciosamente e saí do quarto. Ia a passar pelo escritório quando notei a porta entreaberta. O Ryan não estava a dormir ali? Ele fecha sempre a porta...
Sem fazer ruído espreitei para o quarto escuro. Pela luz que atravessava a larga janela vi uma figura feminina de pé em frente ao sofá onde o Ryan dormia. Era a Caitlin e ela fitava-o intensamente.
-O que é que estas a fazer? - Murmurei, mas arrependi-me logo.
Ela voltou a sua cabeça para mim e vi-a fulminar-me com os olhos.
-Quem é que tu pensas que és? - Ela perguntou num tom demasiado alto na casa silenciosa. - Como te atreves a "namorar"- Fez sinal de aspas com os dedos. - com o Ryan? És pobre e não és suficiente para ele! - Ela começou a gritar.
Permaneci quieta onde estava. Com uma mão atrás de mim contra a ombreira e a outra no puxador da porta.
-Não percebes que ele só tem pena de ti? - Ela começou a aproximar-se. - Ele é demasiado bom e tem pena de ti pela tua mãe estar no hospital! - Ela continuava a gritar e a avançar.
Senti cada palavra dela como um estalo no rosto, mas não percebia porque não consegui fugir e deixar de as ouvir.
Vi o Ryan levantar-se no sofá atrás dela.
- O que é que se passa? - Perguntou ensonado.
A Caitlin sentou-se ao lado dele na sua cama improvisada, fingindo choro.
-Ela começou a insultar-me e eu... eu...
Mas que raio? Controlei os olhos húmidos quando o Ryan olhou para mim. Num ato impulsivo saí e fechei a porta atrás de mim correndo até à cozinha logo de seguida.
Quando cheguei à cozinha controlei a respiração e as lágrimas. Não ia chorar por causa dela... ou dele!
Por muito que o dissesse para mim mesma senti as lágrimas correr enquanto preparava algo para comer. Ouvi passos nas escadas enquanto me sentava na bancada a beber o leite quente. Mantive os olhos baixos e o rosto escondido pela chávena quando o Ryan apareceu.
-Amanda, estás bem?
Não lhe respondei e ele sentou-se ao meu lado.
-O que é que aconteceu lá em cima? Eu sei que a Caitlin me contou, mas eu não acredito nela. Não seria a primeira vez que ela me mente.
Pousei a chávena e limpei o rosto. Ele olhava para mim tristemente, ou com pena? Desviei o olhar para a janela que resistia ao forte vento.
-O que foi que ela te disse? - Insistiu ele.
-Ela disse que tu tinhas pena de mim... - Apenas notei que lhe contava quando me ouvi.
-Sabes que isso não é verdade, certo?
Assenti sem ter certeza de mais nada.
-Eu nunca teria pena de ti. És a rapariga mais forte que eu conheço e por isso não tenho pena de ti, mas orgulho.
Senti um sorriso surgir e ele logo o retribuiu. Puxou-me pelo braço e rodou no banco. Colocou as pernas juntas e puxou-me pela cintura para me sentar nelas.
Sentada no seu colo encostei a cabeça ao seu ombro e abracei o seu pescoço. Ele colocou os braços à minha volta e beijou-me o topo da cabeça.
-Obrigada. - Murmurei.
-Pelo quê? - Ele perguntou inocente.
Afastei-me do seu abraço e olhei-o nos seus olhos verdes claros.
-Por nunca me mentires.
Ele aproximou-se lentamente a sorrir e as nossas testas encostaram-se. Senti o meu estomago apertar com o habitual nervosismo perto dele. Os seus lábios estavam a milímetros dos meus e fechei os meus olhos. As suas mãos subiram pelas minhas costas puxando-me contra ele. Os nossos lábios roçaram-se levemente...
- O que é que vem a ser isto?
Saltei do colo dele completamente assustada. Ele levantou-se e endireitou-se ao meu lado enquanto a mãe dele nos fitava furiosa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amuleto de Azar
Teen FictionA vida de Amanda nunca foi fácil e ultimamente as coisas têm piorado. Será mesmo a maldição que a sua mãe a acusa de possuir ou é simplesmente azar? Mesmo depois de um truque do destino será Amanda forte o suficiente forte para continuar a lutar? De...