Ainda tinha o sorriso parvo no rosto quando me aproximei da Andie e da Rose.
-O que aconteceu para estares tão feliz? - Perguntou a Andie desconfiada.
-Não se passou nada... -Respondei desviando o rosto e apertando mais os livros contra o peito.
Os corredores estavam com pouca gente porque ainda era cedo. As poucas pessoas que por ali estavam, juntavam-se em grupos ou eram apenas pares de namorados encostados entre os cacifos.
-Claro. Esse sorriso parvo surgiu quando nos viste. - Brincou a Rose.
Encolhi os ombros e despedi-me delas antes de entrar na minha sala. Sentei-me no meu lugar de sempre e aproveitei para estudar um pouco antes de a aula começar.
Pouco tempo depois o toque soou e todos os alunos e a professora preparam-se para a aula.
-'Stora trouxe os testes? - Perguntou um aluno na frente da sala.
-Sim, vou já entrega-los. - Respondeu a professora.
Senti-me estremecer, sabia que a nota era a pior que eu alguma vez tivera. Precisava mesmo de começar a estudar mais...
A professora entregou o teste ao Ryan e ele olhou para trás e sorriu. Tinha tirado uma ótima nota. Ela continuou a entregar os testes até chamar o meu nome. Senti o meu coração acelerar.
-Amanda, não esperava esta nota... -Disse ela antes de me entregar a folha avaliada.
Peguei na folha e vi a minha nota. Pensara que ia ser pior...
A nota era negativa, a primeira em toda a minha vida, mas era mais alta do que eu calculara.
O Ryan olhou-me interrogativo, apenas encolhi os ombros e baixei a cabeça. Ele voltou-se novamente para a frente e eu tentei estar atenta à aula.
Quando a aula acabou encaminhei-me para a sala onde ia ter o resto das aulas da manhã. Não falei com ninguém e apesar das tentativas do Ryan, ignorei-o. Estava desiludida com a minha nota e por muito que tentasse convencer-me de que fora por causa da mudança a culpa não desaparecia. Nem mesmo a vergonha diminuía.
Sentei-me no meu lugar e preparei-me novamente para aula.
No final das aulas estava completamente exausta. Ainda bem que era o último dia antes das férias de natal. Respirei fundo e saí da sala de aula.
Sentia-me melhor, mas mesmo assim não conseguia deixar de pensar no meu futuro. E se continuasse a tirar más notas? Não tenho dinheiro para entrar na universidade e precisava mesmo de uma bolsa de estudo.
Encontrei a Andie e a Rose no corredor.
-Olá. - Murmurei.
-Hey! O que tens? - Perguntou a Andie.
Encolhi os ombros. Apetecia-me ir para casa e não sair mais da cama, mas sabia que se fosse iria encontrar-me com a Caitlin e com a Elle e, isso, não me apetecia nada.
-O que se passa, Amanda? - Perguntou a Rose calmamente no meio do ruido do corredor.
-Nada de mais. Só estou preocupada com as notas.
A Andie deu-me um empurrão leve.
-Esquece isso! Depois de amanhã é natal! - Ela disse entusiasmada.
Sorri levemente com o entusiasmo dela. Nesta altura do ano ela parece uma criança e acho isso divertido mesmo após ter-mos quase 18 anos.
-Mais um ano juntas! - Gritou a Rose a corar.
Sorri-lhes.
-Temos de celebrar! - Gritou a Andie de volta chamando novamente a atenção para nós.
Começamos a andar para fora da escola. Haviam enfeites de natal por todo o lado e isso, surpreendentemente, animou-me. Mais um ano esta para vir e tenho todas as pessoas importantes ao meu lado, mesmo que a minha mãe esteja longe, sei que é o melhor natal que vou ter. Melhor que os que passava a limpar o vomitado da minha mãe bêbada e a abrir a minha única prenda a chorar depois de a minha mãe atirar a dela pelo ar furiosa.
Encontramos o Ryan no parque de estacionamento e mal nos viu dirigiu-se a nós sorridente.
-Ryan, eu vou com elas e depois vou para casa. - Informei-o.
Ele assentiu e aproximou-se.
-Por favor tem cuidado e se acontecer alguma coisa liga-me que eu vou logo ter contigo.
Assenti e ele beijou-me a testa.
-Cuidem dela, meninas. - Ele disse e depois desapareceu na sua mota.
Elas sorriram e deram-me cotoveladas leves na brincadeira.
-Vocês... - Olhei-a interrogativa. - Tu sabes! Namoram?
-Sim, a fingir.
-O quê? - Perguntou a Rose. - Ainda? Olha o que eu te digo, aquilo não era a fingir...
-Era sim... ele faz isso sempre à frente da escola e, além disso, ele tem a Caitlin. A mãe dele quer que eles se casem.
Elas olharam-me interrogativas e lembrei-me que não lhes tinha contado nada ainda.
Seguimos para o Starbucks onde costumávamos tomar sempre café. Parecia que já faziam anos que não saía com elas, como a minha vida mudara. Enquanto isso contava-lhes tudo o que se tinha passado nestes últimos dias. Como a Caitlin é falsa e cínica, como a Jane é diferente e culta e como a Ellen me odeia. Elas ouviam-me atentamente e soltavam comentários como:
-Que cabra!
Ou:
-Já a odeio.
Ou até mesmo:
-A sério?
Pergunta frequente. No fim, elas entreolharam-se e riram.
-És mesmo azarada. - Disse a Andie a rir. - Devias começar a vender esse azar!
Ri-me com elas. A verdade era que já me habituara ao meu azar e até já não me chocava quando as coisas pioravam, mas para as pessoas quais as vidas corriam lindamente era sempre um choque. Talvez devessem aprender a prestar atenção às pequenas coisas como eu.
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Amuleto de Azar
Novela JuvenilA vida de Amanda nunca foi fácil e ultimamente as coisas têm piorado. Será mesmo a maldição que a sua mãe a acusa de possuir ou é simplesmente azar? Mesmo depois de um truque do destino será Amanda forte o suficiente forte para continuar a lutar? De...