Capitulo 3

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Acordei novamente com o despertador. Vesti uma camisola castanha com umas leggins também quentes. Calcei umas pequenas botas quentes e coloquei brincos e um anel. Maquilhei-me e desci para fazer o pequeno-almoço. Quando terminei levei num tabuleiro à minha mãe. Ela mantivera-se na mesma posição e no mesmo lugar desde o dia anterior. Estava acordada mas com o olhar perdido no teto branco.

-Bom dia, mãe. - Pousei o tabuleiro ao lado do da noite anterior intocado. - Eu vou para a escola. - Dei-lhe um beijo na bochecha e saí do quarto antes de ela notar as minhas lágrimas.

Arrumei a cozinha e tomei o pequeno-almoço. Vesti o meu casaco quente e coloquei o cachecol antes de sair. O tempo lá fora estava pior que nunca. O vento era forte e gelado e parecia que ia nevar. Coloquei os fones e caminhei no passeio evitando todas as poças. Ia a cantarolar quando a mota do dia anterior passa na estrada a meu lado. Ia rápido e de certeza que passava o limite de velocidade. O casaco de couro do rapaz em cima esvoaçava violentamente atrás dele. Continuei o meu caminho agradecida por ele não me ter molhado hoje. Comecei a dançar alegremente enquanto escutava música. Avistei a Andie e a Rose perto do portão da escola e corri até elas.

-Bom dia!

-Bom dia! - Respondeu a Rose.

-Finalmente! O Eddy já entrou! Vamos, é hoje!

Senti o estômago apertar e os meus joelhos tremerem.

-Agora?

Elas assentiram e eu engoli em seco. Entramos pela escola e avistei o Eddy e os amigos.

Olhei para elas e elas sorriram. Acovardei-me a Andie empurrou-me contra ele.

-Ah, desculpa.

Ele assentiu e voltou a virar-me as costas. Olhei para elas e fizeram sinal para avançar.

-Eddy, podemos falar?

Ele olhou-me sobre o ombro e atraiu a atenção de todos os seus amigos.

-Quem é ela?

-É fofa!

-O que queres falar? - Ele perguntou-me distante.

-Estas a deixá-la desconfortável, Eddy.

Senti-me corar e apeteceu-me fugir dali.

-A sós? - Consegui dizer antes da minha garganta se fechar.

Ele riu e cruzou os braços no peito.

-O que tiveres a dizer podes dize-lo à frente dos meus amigos.

Esbugalhei os olhos e apertei as mãos, uma sobre a outra.

-Não é nada, deixa lá.

Rodei nos calcanhares e saí dali a correr. Tranquei-me na casa de banho e deixei as lágrimas correrem. Era uma covarde, nem consegui admitir o que sentia. Ouvi a porta abrir e fechar e reconheci as vozes que me chamavam.

-Amanda? Estas aqui? - Perguntava a Rose.

-Sai daí! - Gritava a Andie.

Abri a porta e saí. Havia desilusão no olhar da Andie e compaixão no da Rose. Abracei a Rose.

-Esta tudo bem.

-Que vergonha. - Murmurei contra o ombro dela.

-Não disseste nada! - Concluiu a Andie.

-Andie! Ele foi um estúpido! - Refilou a Rose. - Ele percebeu o que ela ia dizer e fez de propósito.

Senti-me ainda pior. As lágrimas continuavam a cair e queria poder esconder-me durante o resto da vida.

O toque do início das aulas ressoou nas paredes ocas e o meu coração disparou. Elas começaram a sair e eu deixei-me ficar para trás. Má ideia aquela de me declarar! Ele era um estupido, como pude gostar dele? Além do seu cabelo chocolate, dos seus olhos azuis e a sua pele morena ele era um idiota. Lavei a cara com a água gelada e forcei-me a esquecer o que acontecera.

As aulas da manhã passaram depressa e na aula antes do almoço bateram à porta. A professora foi abrir a porta e surgiu a uma funcionária do outro lado. Várias raparigas concentravam-se em tentar falar com o rapaz novo que se recusava a responder-lhes.

-Amanda? - Chamou a professora após segredar com a funcionária. - A tua mãe está no hospital.

Levantei a cabeça e comecei a arrumar as minhas coisas. Corri pela sala fora e só parei na receção do hospital. Pedi indicações á secretaria e ela disse-me que a minha mãe estava sob observação e que tinha de aguardar. Lancei a mochila para um banco e comecei a andar de um lado para o outro ansiosa.

Estava assim há três horas quando o doutor finalmente apareceu no corredor. Corri até ele e ele sorriu-me.

-Amanda. A tua mãe está muito mal e terá de ficar internada outra vez. Ela tem que frequentar uma clínica de desintoxicação.

-Já me disse isso e eu já lhe expliquei que não temos dinheiro. Não há outra solução?

Ele negou e senti as lágrimas brotarem novamente.

-Ela ficara sob observação hoje e amanhã e depois poderá voltar para casa, mas já sabes o que acontece a seguir.

Assenti e peguei na minha mala. Corri hospital fora enquanto as lágrimas me cegavam e me esbarrava contra várias pessoas. Parei no passeio e caí de joelhos. Se ela continuasse assim morreria. Ela era tudo o que eu tinha, sem ela eu ficaria órfã e sem ninguém. Toda a família morrera com o passar dos anos e só restávamos nós.

Deixei as lágrimas descerem enquanto as pessoas me contornavam para entrarem.

"Ela é um amuleto do mal! Ela atrai desgraça!"

Era mesmo verdade, eu atraio desgraças. Ela tinha razão.

Alguém parou à minha frente e admirei as botas masculinas pretas. Limpei as lágrimas e olhei para cima. Era o rapaz novo, Ryan, acho eu. Ele olhava em frente e de certeza que não notara a minha presença. Peguei nas minhas coisas e levantei-me antes que ele me calcasse.

Amuleto de AzarOnde histórias criam vida. Descubra agora