Dois

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Revirei minha mochila atrás de dinheiro, não queria ter que almoçar no refeitório. A pizzaria em frente ao Colégio me permite um pouco de privacidade, longe desses depravados, malucos. Sem sucesso. Minha barriga estava implorando por comida, eu não tinha escapatória. Atravessei o corredor e entrei no inferno, a fila estava enorme e o barulho perfurava minha cabeça, o que essa gente tem contra a falar baixo? Algumas animadoras de torcida faziam um showzinho de divulgação do jogo, em cima de duas mesas, os jogadores de Futebol berravam como trogloditas e pude jurar ter visto um pedaço de carne passar raspando em minha cabeça. As vezes me questiono se vendi drogas na Santa ceia, porque minha vida é inexplicavelmente uma merda.

Sentei em uma mesa isolada, depois de ter pegado o almoço. Meu celular descarregou, bem no momento em que eu precisava de um pouco de música para me transportar daquele lugar.

- Olá, irritadinho - Ouso a voz fina de Uno Salvatore,perto do meu ouvido. Reviro os olhos e bufo impaciente, o que diabos aquela garota quer? Como se não bastasse, ter que atura-la três aulas seguidas - Posso sentar aqui?

Antes que eu pudesse berrar um NÃO, bem alto, ela sentou-se ao meu lado. Abriu um pacote marrom e tirou uma vasilha cheia de porcarias. Seus cabelos cor de algodão doce, agora estavam quase cobertos por um gorro rosa choque, esquisito. Deixando evidente uma série de sardas por todo o rosto.

- O que você quer? - perguntei de modo grosseiro.

- Quero sentar - abriu um pacote de batata frita e com apenas um golpe, colocou quase todo conteúdo na boca, bizarro - Não existem mesas vazias nesse refeitório e não acho justo você ter uma só para você. Não te encomoda ficar sozinho, irritadinho?

- A solidão é muito mais prazerosa, do que a sua companhia. E pare de me chamar de irritadinho, coisa chata.

- Esse apelido te ofende? - pergunta de forma casual, enquanto abre outro pacote de batatas.

- Como assim?

- Não gosto de ofender as pessoas, principalmente usando uma característica delas como insulto. Inventei esse apelido, porque até agora não me disse o seu nome, mas não quero que se sinta mal, então posso parar, mas apenas se ele ferir a sua autoestima.

A cada palavra que desloca-se para fora da boca azul daquela garota, meu corpo berra de raiva. Não entendo porque está falando comigo, não sou simpático e deixo bem claro que a sua presença me encomoda, mas por algum motivo o troço colorido continua a me perseguir.

- Apenas, cale a boca, ok? - faço gestos com as mãos, para intensificar o meu pedido. Ela dá de ombros e volta sua atenção para a comida.

- JOSH - E tudo que me faltava naquele momento era Robert Young, para terminar de me infernizar. Ele afastou-se da mesa dos populares com uma bola de basquete embaixo do braço e o mesmo sorriso tosco, que parece nunca sair de seu rosto.

- Então esse é o seu nome, irritadinho - Uno murmura de forma travessa, reviro os olhos e solto o ar que se prende em meu peito.

- E quem é essa? - pergunta Robert, sentando-se no banco a nossa frente.

- Sou Uno Salvatore - ela limpa uma das mãos cheia de pulseiras no short jeans e ergue para ele - Muito prazer.

- Robert Young, o prazer é todo meu - ele a cumprimenta gentilmente e lança-me um olhar malicioso logo em seguida, irritante - Não sabia que tinha uma namorada.

- Pelo amor de Deus, essa coisa não é minha namorada - faço uma careta de nojo e movo meu corpo para o lado, pegando distância da garota.

- Calma, cara. Eu estava apenas brincando, não vejo você com garotas. Você deve ser muito especial Uno.

- Não é como se ele gostasse de mim - abre uma lata de Coca-Cola. Uno Salvatore, tem um sorriso proprio que assim como o de Robert não sai de seus lábios. O dela aparenta infantilidade, travessura. Seria até bonitinho, se não fosse tão irritante - E ele não faz o meu tipo, de qualquer forma.

- Tem que ser um palhaço corajoso para namorar com a rainha do circo - digo.

- Não é como se a garota que te namorasse, não precisasse de muita coragem.

- Ela precisa ser muito paciente, para aguentar o mau humor dele - alfineta Robert, segurando uma risada.

- Precisa ser órfã também, porque nenhuma família aceitaria essa amostra grátis das trevas.

- Precisa ser muito baixa também, para não destacar muito as pernas curtas dele.

- Porra, calem a merda da boca de vocês. Eu só quero comer em paz, será que posso? - berro de forma histérica, um pouco patético. Mas aqueles dois estavam me dando nos nervos, odeio pessoas. Principalmente se essas são Robert Young e Uno Salvatore, a nova dupla mais irritante desse universo.

- Desculpa, cara. É impossível ver sua tromba de elefante e não fazer piada. Você precisa relaxar.

- O que você quer aqui, Young? - murmuro, dando uma mordida no filé de frango.

- Você por acaso sabe que amigos, não precisam de motivos específicos para ficarem pertos um do outro? - Uno lança-me uma pergunta, que ignoro com sucesso. Não tenho amigos, não quero ter amigos e odeio essa coisa de amizade. Sou obrigado a aturar Robert desde que éramos pequenos, minha mãe era governanta de sua mansão e morávamos de favor na casa de hóspedes. Desde que nos conhecemos , ele nunca mais largou do meu pé, por mais que vivêssemos em mundos totalmente diferentes e eu sempre deixasse claro que não gostava dele.

- Nem gaste seu tempo pequena Uno, essa é a forma dele demonstrar afeto. Sendo um grosseirão, ele costuma ignorar pessoas que não gosta.

- Ainda tem coragem de me chamar de estranha - empurra meu braço com delicadeza.

- Cala a boca, garota. Diz logo o que você quer, estou cansado dessa proza de vocês.

- Vim te convidar para a festa de boas vindas, na casa da Melanie. Não quero ir sozinho, você pode ir também Uno.

- Eu adoraria - Ela abre um sorriso de orelha a orelha, fazendo meu estômago revirar.

- Pode esquecer. Odeio festas - levanto da mesa e jogo minha comida no lixo, Robert vem atrás de mim e segura meu ombro esquerdo.

- Por favor, cara - Ele lança-me um olhar que costuma comover as pessoas, claro que não funciona comigo - Sabe que preciso de você.

Sim, eu sabia.

Robert Young, precisava de mim para ser a sua sombra. Precisa de mim, para destacar muito mais a beleza exorbitante. Precisa de mim para esfregar a sorte que tinha. Precisa de mim para fazer da sua vida um pouco melhor, já que ao lado da minha a dele parecia incrivelmente perfeita.

- Não.

- Por favor, irritadinho. A gente precisa ir - Uno brotou ao nosso lado.

- Quem te chamou aqui, garota? Eu não vou.

- Te empresto minha moto, por uma semana.

Garoto irritante que sempre consegue o que quer.

Eu o odeio.

GAROTA ARCO-ÍRISOnde histórias criam vida. Descubra agora