Vinte e um

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Joshua Cooper

Dizem que a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo, nesse momento eu sou o próprio palhaço desejando no fundo do meu coração que um incêndio aconteça, assim pode ser que tenhamos um encontro descente como pessoas normais.

Odeio lugares lotados, principalmente quando a maior parte das pessoas é composta por crianças gritalhonas, daquelas que te irritam pelo simples fato de existir. Há muitas delas por todos os lados, correndo, berrando, chorando. É uma verdadeira amostra grátis do inferno, e o demônio é o locutor que anuncia o início daquele martírio.

Francamente, a palavra perfeita para me descrever é decepcionado. Eu estou bastante decepcionado com tudo isso. Não é possível que com tantas opções interessantes e agradáveis, Uno me trouxe para o lugar mais patético da cidade. Tivemos que sentar em uma arquibancada improvisada com lascas de madeira morfada, fazia um calor absurdo, o barulho não permitia nem que as minhas reclamações fossem ouvidas.

Talvez fosse proposital, uma espécie de vingança da parte dela, por causa do passado. Deixou que eu alimentasse expectativas e me frustou tão rapidamente, que sou capaz de chorar na frente de todos.

- Eu estou tão empolgada - Uno disse enquanto batia palminhas frenéticas - Dizem que o mágico desse circo é fenomenal, você também está empolgado?

- Nem um pouco.

- Pare de ser rabugento, tenta se divertir um pouco. - Ela estava quase tão elétrica quanto os pirralhos ao nosso redor. De repente, eu me senti um paizão velho levando sua filhinha para ver o circo. Um verdadeiro absurdo, ninguém deveria sentir-se assim no primeiro encontro.

- Por que você fez isso? - questionei tentando expressar minha pequena revolta.

- Isso o quê? - Ela nem ao menos estava a me olhar. Não conseguia desviar a atenção de um grupo de equilibrista, que se apresentava no palco principal.

- Me trouxe para esse lugar no nosso primeiro encontro. O que você tem contra a jantares, ou cinema, qualquer coisa menos patética, que um maldito circo?

- Josh, eu gosto de me divertir, achei que seria legal experimentar uma coisa diferente. Jantar e cinema, é tão monótono.

Eu queria que ela se divertisse comigo. Eu realmente queria. Mas, esperava que esse desejo fosse mútuo e era evidente o meu descontentamento com aquela situação que Uno me impôs. Não estava nada animado, sem contar com a dificuldade que era de me aproximar dela em um ambiente tão desagradável.

- MERDA! - berrei aos quatro ventos quando uma coisa pequena e pesada atingiu meu pé. Havia um garoto plantado na minha frente, com um saco de pipoca em mãos, a me encarar como se fosse gente grande. - Por que você pisou na porra da meu pé?

- Porque você está sentado no meu lugar, seu panaca.

Era exatamente isso que me faltava acontecer, um fedelho me violentando e me chamando de panaca. Ótimo. Maravilha.

- Esse lugar é meu desde o momento em que cheguei aqui. - ergui meu pé dobrando o joelho e tentei massagear por cima do sapato a parte dolorida onde certamente ficaria com um hematoma gigante para que eu me recordasse daquele dia fatídico.

- Se você não sair, eu vou falar com a minha mamãe.

- Aproveita e conta para ela, que pisou no meu pé.

- Josh! -Uno me repreendeu, despertando do transe e finalmente prestando atenção em outra coisa que não fosse aquela apresentação estupida - O que houve?

- Seu namorado está no meu lugar.

O moleque era quase tão minúsculo quanto Uno Salvatore, no entanto conseguia atingir a minha pouca paciência como uma bola de canhão. Eu destesto crianças, lidar com elas em uma noite de sábado que prometia bastante coisas boas, era o sinônimo de pesadelo.

GAROTA ARCO-ÍRISOnde histórias criam vida. Descubra agora