Oito

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Joshua Cooper

O brilho solar estava especialmente camuflado em meio as nuvens cinzentas, que acompanhavam o vento gelado na manhã de sábado. Acordei um tanto disposto e contente com aquele clima meio obscuro, sempre achei muito agradável, diferente da maioria das pessoas, que preferem dias ensolarados e calorentos, gosto do frio e da sensação mórbida de tempos nublados.

Minha semana havia se concluído, demasiadamente, bem sucedida. Consegui trocar as aulas que coincidiam com as daquele ser humano colorido e descolei um trabalho na enfermaria, ajudava a organizar as fichas dos alunos e os medicamentos dentro dos armários. O trabalho tomava parte livre da minha manhã e permitia meu total isolamento do resto da escola, já que quase ninguém gostava de frequentar a enfermaria, porque era maravilhosamente tétrica.

Levantei bruscamente da cama, que estava com um rombo no centro, devido a idade do colchão e a quantidade de horas desperdiçadas em cima dela. Desci as escadas em passos lentos, até ouvir ruídos da cozinha. Algo parecido com risadas e voz masculina, nada mais irritante do quê visita em plena manhã.

- Josh! - minha mãe gritou tendo percebido movimentos na escada. Tarde demais para dar meia volta e sobir novamente em direção ao quarto. Me arrastei até lá.

- Bom dia, flor do dia - Duas palavras e uma voz irritante: Robert Young. Sentado no banquinho vermelho em frente ao balcão, comendo bacons extremamente gordurosos, daqueles que apenas senhora Soraia sabia fazer.

- O que você está fazendo aqui, Young? - limpei os olhos, um tanto aborrecido. Nunca terei um dia perfeito em toda minha vida, principalmente com essa proliferação de pessoas inconvenientes e insuportáveis.

- Três palavras: Quermesse da igreja.

- Esse ano vai ser aqui em casa, por acaso? - lanço um olhar para minha mãe, que estava especialmente sorridente, com os cabelos presos no topo da cabeça em um penteado bizarro.

- Chamei o Robinho, porque vocês dois vão trabalhar na pescaria esse ano.

- O quê? Pode esquecer, aquilo é uma tortura - pego uma caixa de suco da geladeira e bebo, ganhando logo em seguida um olhar repreendedor da minha mãe.

- Não foi um pedido, querido filho.

- Você concordou com isso? - pergunto a Robert.

- Ela fez bacon, cara - reviro os olhos e bufo irritado.

- Você se vendeu por tão pouco? É um idiota mesmo.

- Tome logo o seu café e vá trocar de roupa para podermos ir.

- Mãe, eu te suplico! - ergo as mãos em forma de súplica e faço uma expressão de sofrimento, que conhecendo a minha mãe, foi ignorada com sucesso - O que São Pedro iria achar de uma fiel maltratando seu filho?

- Sabia que a quermesse é em homenagem a ele? - Robert murmura com a boca cheia de comida.

- Cala a boca.

- Você vai e pronto, não existe discussão.

- Cruel, dona Soraia. Muito cruel. Quando eu morrer, lembrarei de incluia-la na lista de pessoas que devo puxar o pé durante a noite.

- Não fale asneira, garoto. Sente-se que vou preparar seu bacon.

Senti uma leve pontada no estômago, ânsia de vômito logo em seguida. Isso estava tornando-se comum, caso fosse mulher, diria que estava esperando um bebê. Mas, talvez no momento o motivo seria o cheiro de gordura horroroso empreguinado na cozinha e o documentário sobre o que acontece com os animais antes de chegarem a nossa mesa. Algo nada agradável para se assistir, entretanto não haviam opções naquela madrugada de insônia.

GAROTA ARCO-ÍRISOnde histórias criam vida. Descubra agora