Quatorze

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Joshua Cooper

Um mês depois

Dizem que o tempo ajuda a curar o sofrimento e faz coisas ruins do passado serem esquecidas, entretanto por algum motivo desconhecido, ele não estava surtindo efeito algum. O clima entre minha mãe e eu continuava péssimo, apesar dela ter parado de chorar sempre que olhava para mim, ainda havia aquele silêncio ensurdecedor e torturante.

As horas de trabalho comunitário, pintando paredes pichadas por toda a cidade, pareciam não acabar nunca. Não importava quantas vezes ficasse além do horário, sempre faltava muito tempo. Só não posso reclamar tanto, afinal dormir com um monte de meliantes fedidos e comer pão morfado estava bem longe dos meus planos de vida.

Além das punições pela minha suposta infração, tudo parece ter virado de cabeça para baixo. Em um mês muita coisa havia mudado, graças a volta de Violet Gonzáles, minha crazy, atualmente conhecida como namorada.

Nos conhecemos na oitava série, mais precisamente na detenção. Eu era um verdadeiro banana, usava óculos gigantes e tinha uma dúzia de espinhas acapampadas em minha cara. Naquela época, tudo que me interessava era jogar videogame e devorar todos os livros do Harry Potter. Quando vi aquela garota fantástica, exatamente igual a das minhas fantasias eróticas, fiquei obcecado e ,estranhamente, ela era o único ser humano do sexo feminino, que prestava atenção em mim. O dia em que a mandaram para um internato, foi o pior de toda a minha adolescência. Foi o meu primeiro sofrimento de amor, e tê-la de volta era surreal.

- Você está me escutando, querido? - Violet chamou minha atenção, estávamos almoçando na enfermaria, devido a promessa que fiz a senhora Shmidt de que a ajudaria a organizar os remedios e as fichas dos alunos toda semana.

- Claro. - movimentei a cabeça de forma afirmativa, apesar de estar totalmente concentrado no meu trabalho, que parecia mais interessante do que aquelas histórias bizarras.

- Podia andar logo com isso, estou entediada nessa sala mórbida e fedida, pensei que haveria um pouco de diversão.

- Na enfermaria? - franzi o cenho e dei uma rápida olhada para ela, enquanto pegava a nova remessa de fichas.

- Já nos divertimos em lugares piores, querido.

- Bem, nenhum deles foram de minha vontade.

- Está dizendo que não gostou?

- Claro que não, mas digamos que não estavam em minha minha lista de fetiches. Puta que pariu! - paralizei quando encontrei um nome conhecido entre os alunos problemáticos. Não era possível, aquilo só podia ser algum tipo de piada.

- Aconteceu alguma coisa? Você está pálido.

Levantei da cadeira para esticar um pouco as pernas e comecei a caminhar de um lado para o outro, enquanto relia aquele nome um milhão de vezes para ter plena certeza de não estar tendo uma miragem.

- Sabe aquela garota de cabelo rosa, que andava comigo... Quero dizer, me perseguia?

- Uma meio brega? - amarrou os cabelos em um coque no topo da cabeça.

- Exatamente.

- O que tem ela?

- Está na lista de alunos com necessidades de acompanhamento especial terapêutico. Em outras palavras, Uno Salvadore é doida de verdade.

- Nem todos que precisam de psicólogos são malucos. Também estou nessa lista.

Encarei seus olhos azuis enormes, intortando as sobrancelhas. Violet tinha um milhão de motivos para estar naquela lista, apesar de ser a garota mais sensacional que já conheci em toda minha vida, ela não era nenhum pouco normal.

GAROTA ARCO-ÍRISOnde histórias criam vida. Descubra agora