Quatro

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Tio Carl costumava dizer que a solução para o meu problema de mau humor era tomar umas, ter álcool nas veias faria de mim um cara descolado. Minha mãe ficava revoltada quando descobria as tentativas do irmão de embebedar o filhinho, depois de brigar com ele, passava horas fazendo discursos interminaveis sobre o perigo da bebida e como arrancaria meu pescoço caso me visse ingerindo qualquer gota de álcool que fosse.

Uma vez fiquei tentado a experimentar. Era aniversário de quatorze anos do Robert, o irmão dele decidiu fazer uma festa para garotos na casa de praia da família. Como Tom era maior de idade, comprou as bebidas para um bando de moleques, em troca ficaríamos calados com relação ao ménage no andar de cima. Todos eles beberam até cair, a cada copo terminado, um novo era preenchido. Parecia uma espécie de vício, nenhum deles conseguia parar, era bizarro.

Um garoto chamado Mike, percebeu que eu era o único a não estar bêbado e relacionou o fato de nenhum copo ser tocado por mim com o fato de que eu era um fracote retardado, claramente ele era um imbecil.

- Para de ser viado, Joshua - berrou um ruivo na beirada da piscina.

- Bebe logo essa porra.

- A mamãe dele não deixa - Robert disse em meio a gargalhadas irritantes.

- Joshua é a bichinha da mamãe.

E todos caíram na risada, fazendo meu corpo estremecer de ódio. Resolvi por seder as provocações e bebericar um líquido cor de mijo. O cheiro me dava enjoo, tentei tapar o nariz para fazer descer mais rápido, não funcionou. A bebida desceu rasgando minha garganta, contorci o rosto involuntariamente. Era como tomar xarope, um xarope muito ruim e ardido.

Pensei que ficaria viciado como os outros e logo que não houvesse mais resquício do líquido em minha boca, sentiria vontade de beber novamente. Todavia, não aconteceu. Nunca mais cheguei perto de bebida alcoólica depois daquele dia, o amargor ficou impregnado na lingua por uma semana. Não vou torturar meu estômago e meu paladar, apenas para me enquadrar em um grupo de imbecis.

Agora na festa de Melanie, minhas opiniões com relação a bebida ficavam cada vez mais fortes. Como pessoas bêbadas eram ridículas, faziam coisas escrotas sem ao menos preocupar-se com as consequências. Além de encherem o saco de quem estivesse por perto. Estava sentado no sofá vermelho da enorme sala de estar, futucando alguns aplicativos de música no celular, enquanto um casal de garotas se pegavam ao meu lado. Felizmente a maior parte dos individuos presentes na festa estavam concentrados no ping pong de cerveja e na piscina cheia de luzes coloridas, atualmente lotada de DSTs.

- Você deve ser o Joshua - uma morena de lábios enormes, curvou-se quase caindo em cima de mim. Estiquei os braços segurando seu corpo magro e cheio de curvas para evitar a queda.

- Sou eu - cheguei para o lado e permiti que ela sentasse. Seus olhos estavam tão vermelhos, que entregavam a quantidade de substância ilegais ingeridas.

- Me chamo Anita!

- Bom pra você - virei meu rosto na direção contrária, não estava interessado em desperdiçar palavras com uma garota chapada.

- Você é gay?

- O quê? - franzi o cenho, indignado com a pergunta.

- O Marcus disse que você é gay, você não parece gay.

- Que ótimo, já que eu não sou.

Uma nota sobre garotos, eles sempre vão pôr a opção sexual de outros a prova para sentirem-se mais machos. Principalmente se esses outros, não possuírem um porte físico incluído nos padrões e uma boa reputação. Eu sempre fui alvo de comentários com relação a minha opção sexual.

GAROTA ARCO-ÍRISOnde histórias criam vida. Descubra agora