❄ Capítulo 04 - Parte II ❄

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O medo pode ser um alerta para a nossa segurança.

Porém, ele pode nos paralisar e não nos deixar seguir.

Analisar com calma o que tememos é o começo para nos libertar.

Lena Rossi  


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— Onde você estava com a cabeça quando resolveu caminhar pelas ruas dessa cidade tão tarde sozinha, Anna Liz? — esbravejou Collin. — Tem ideia do que poderia ter acontecido?

— Não entendo por que está tão zangado. Eu estou bem. E não havia ninguém por lá, afinal. Você rondou todo o quarteirão e aquela bendita rua por inúmeras vezes e não encontrou nada. Deve ter sido coisa da minha cabeça — falou num tom de voz mais alto enquanto seguia o corredor estreito do minúsculo apartamento até o quarto, onde depositou sobre a cama: a bolsa e o sobretudo rosê que ela usava.

— Poderia não estar à mercê da sorte. Se queria uma caminhada ao ar livre, era só ter me convidado e eu não hesitaria em te fazer companhia, senhorita.

— Você está exagerando, doutor Hensley, ou eu deveria dizer, papai? — brincou, já de volta a sala onde ele permanecia com os braços cruzados sobre o peito, a fuzilando com o olhar — É sério — ela sorriu —, pela milésima vez lhe asseguro que eu estou bem.

— Tem ideia de como eu sobreviveria sem você? — Anna negou com a cabeça tentando processar o significado daquelas palavras. — Nunca mais faça isso! — ouviu Collin advertir.

E, de repente, ela sentiu que o espaço entre eles havia diminuído assustadoramente. Uma das mãos de Collin acariciava seus cabelos que despencavam em cachos pouco abaixo dos ombros, enquanto a outra, sem motivo, repousava em sua cintura. Minutos antes ela teve seu corpo miúdo abrigado pelos braços dele, mas tinha sido diferente, houve um propósito. Ela estava assustada e sentir o calor do corpo dele e o tecido macio da jaqueta que ele usava tinha sido o suficiente para espantar qualquer medo bobo .

— Anna?

Ela encarou os olhos cor de café, que inspecionavam seu rosto em busca de alguma coisa. Ah, sim, uma resposta, ela lembrou.

— Não vou — respondeu, e involuntariamente Anna afagou o rosto tenso de Collin que colecionava vincos profundos acima das grossas sobrancelhas, e que constatou se encontrar muito próximo ao seu.

Muito próximo.

— E então — a médica pigarreou e deslizou até a cozinha, despertando de um momento que não sabia nomear — está com fome?

Sentados à mesa, eles estavam prestes a devorar o espaguete que Anna não demorou a preparar. A ampla gama de molho vermelho feito de tomates estava incrementado de pequenos cubos de bacon, e para realçar o sabor, uma fina camada de queijo italiano salpicado. Três pequenas folhas de hortelã decoravam o prato.

— Hummm. O cheiro está de dar água na boca — comentou Collin. — Prometo que o próximo jantar será feito por mim.

— Então é melhor eu me preparar antes — zombou Anna, e com um gesto pediu que o rapaz lhe entregasse o prato para que ela o servisse.

— Está duvidando dos meus dotes culinários?

— Mas é claro que não . Apenas aderindo ao método que minha mãe sempre me ensinou: melhor prevenir do que remediar.

Nunca Foi Sobre Nós [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora