❄ Capítulo 02 ❄

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Deitada em sua cama, aguardando um sono que não aparecia, Anna pensava no que Melissa tinha dito ao final do expediente

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Deitada em sua cama, aguardando um sono que não aparecia, Anna pensava no que Melissa tinha dito ao final do expediente.

Para ela, a amizade com Collin era uma espécie de troca, sem segundas intenções. Nada colorida. Se tivesse que eleger uma cor para os dois seria algo que os retratasse dentro da amizade. Uma variação entre tons profundos e matizes suaves do cinza, talvez, fosse o apropriado para representar a vulnerabilidade que sustentavam um do outro, enquanto ainda guardavam segredos e realidades amargas.

Anna vasculhou na memória o exato momento que se tornaram amigos. Lembrou-se que não se deram muito bem quando se conheceram, eram rivais em questões de trabalho e isso causou alguns atritos no começo. Cursando a mesma especialidade, ela não abria mão em ser eficiente e Collin muito menos. Devido a tanto empenho e dedicação, eram considerados os melhores entre os cinco residentes da Traumatologia.

Apesar da amizade ter nascido de um momento infeliz, tudo começou quando Anna suspeitou de que seu colega de profissão estivesse furtando medicamentos, e que ele os usaria para um fim nada solidário. Felizmente conseguiu, após uma conversa tensa e assustadora, tirar das mãos trêmulas de Collin os pequenos frascos de vidro.

— Deve estar pensando coisas terríveis a meu respeito. — Foi Collin quem quebrou o silêncio constrangedor. A esta altura ele tinha afundado no chão, as costas estavam contra uma das prateleiras recheadas de medicamentos, e Anna estava em pé, de frente para ele, apoiada contra a porta, impedindo quem quer que fosse de entrar ali.

— Na verdade, não — ela respondeu, a voz serena. — Apenas tentando compreender o que o levaria a acreditar que sua existência não valha mais a pena.

Ele soltou uma risada debochada.

— A vida é um presente valioso, Collin, onde temos apenas uma chance para conquistar tudo aquilo que queremos.

Collin sabia o que Anna estava insinuando e aquilo, além de o atormentar, o deixava profundamente irritado, por isso sua única saída foi enfrentar aquela que sempre considerou ser sua rival.

— Conquistar? Que papo é esse? Não deveria estar me ajudando se nem ao menos gosta de mim!

— Julgas mal, Hensley! Todos temos nossos fantasmas, e me dedicar a ser boa no que faço me ajuda, por algumas horas, a afastar os meus.

Não foi necessário que ela dissesse mais nada para que ele entendesse que sua colega de trabalho também tinha problemas sérios. Foi a partir daquele dia que passaram a dividir um com o outro seus temores. Ele, com mais facilidade em partilhar seus segredos, não demorou a revelar as circunstâncias que o levaram ao extremo com seus atos. Anna, por outro lado, sempre foi cautelosa e desconfiada numa mesma medida. Tinha dificuldades em confiar nas pessoas e Collin não lhe parecia estavelmente digno de sua confiança.

Alguns dias depois do incidente com os remédios, ele procurou por Anna. Ela estava sentada em uma das mesas de ferro posicionada em uma das laterais do refeitório do hospital, literalmente brincando com a comida. Naquele dia, encontrava-se sozinha, sem a amiga a tiracolo, pois cobriria o próximo turno. Por um momento Collin ficou relutante em abordá-la, mas se sentia na obrigação em agradecê-la decentemente pelo auxílio de dias atrás.

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