❄ Capítulo 01 ❄

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Quando sofremos algo traumático carregamos sequelas emocionais e somos induzidos a passar por análises terapêuticas com a finalidade de obtermos melhora no processo de enfrentamento.

É assim que tem sido os últimos anos de Anna Liz. Embora jamais tenha imaginado que um dia precisaria procurar este tipo de ajuda, ela mais uma vez se encontrava sentada numa poltrona confortável, tamborilando incansavelmente seus dedos sobre as pernas em frente a uma terapeuta que insiste que ela não deveria desistir dos encontros mensais. Como se tivesse opções, pensava.

Ah! Se todos soubessem o quanto ela se sobrecarregava no trabalho com o intuito de não focar seus pensamentos naquele fatídico dia. O quanto adorava as longas horas de plantão, e mais ainda quando era incumbida a dobrar o turno. Tudo para afastar de si os gritos, a dor e a angústia de reviver um passado que a transformou numa máquina, e não na residente esforçada e batalhadora que todos dizem que é.

Passar por estas análises só traziam à tona os fatos sem explicação de uma vida que parecia ter sido vivida há anos, e não da que se esforçava para reconstruir. Traziam à sua memória tudo o que era impossível esquecer, mas que exigia muito esforço dela em mascarar.

Os cinquenta minutos de sessão a levavam à limitação das palavras incansavelmente repetidas ao longo do tempo.

— Nada de novo. Literalmente esse é um caso sem solução.

— Ainda em combate contra os pesadelos? — Edith Tendam, a terapeuta, questionou. — Posso te receitar ajuda, sabe disso, Anna.

— Não, obrigada. — Agradeceu com um sorriso forçado. — Recuso qualquer ajuda de indutores do sono.

Cansaço físico tem servido como um ótimo remédio, pensou em dizer, mas desistiu. Aquela revelação levaria apenas a mais um sermão sobre a importância de não exceder limites, e Anna certamente excedia muitos deles.

Não que ela não tivesse tentado ajuda com medicamentos, pois precisou nos primeiros meses e absteve-se deles por não surtir efeito algum. Em algum momento os pesadelos e os gritos que lhe escapavam durante as poucas horas de sono haveriam de cessar. Pelo menos é no que preferia acreditar.

Para Anna, lembrar doía, mas a dor de não saber a verdade era ainda mais insuportável.

Os dias de sessão eram exaustivos, o que a fazia perder quase uma hora numa ducha quente e fumegante, na expectativa de que o calor da água pudesse de alguma forma lavar sua alma, e o vapor purificar cada célula assombrada de seu ser.

Passado o momento desgastante da manhã, às vésperas de um fim de semana que prometia congelar os ossos, Anna se preparava para mais um dia de trabalho. Alimentava a esperança de que a troca de estações chegasse brindada com a neve. Este fenômeno tão natural na cidade sede do Condado de King sempre a deixava um pouco mais feliz.

Nunca Foi Sobre Nós [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora