❄ Capítulo 11 ❄

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A vista do lado de fora do bangalô onde moro sempre me faz recordar dos momentos insólitos que passei com Anna

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A vista do lado de fora do bangalô onde moro sempre me faz recordar dos momentos insólitos que passei com Anna. Não que ela fosse alguém que eu me esqueceria com o tempo e, mesmo tendo me esforçando para isso, aceitei que seria impossível impedir que ela fosse meu último pensamento ao findar de um dia, e o primeiro, ao despertar de outro.

Eu sempre me perguntei qual era o sentido daquilo tudo. De Anna querer perder uma manhã de domingo, ou uma tarde qualquer, insistindo para que eu a acompanhasse em mais uma de suas jornadas em meio ao campo, jardim, ou quando não tinha nenhum lugar em especial, a sacada do belo apartamento que eu havia conseguido comprar — devido aos benefícios de uma carreira promissora que eu traçava na época.

Infelizmente algumas respostas só obtemos com o passar do tempo.

À sexta hora do dia, estando a poucos metros do limite demarcado pelos trilhos que suportam os vagões de trem durante todo o dia, é quando o tremor me assombra e me desperta num anseio para que tudo não desabe sobre minha cabeça.

Outras vezes é exatamente o que peço a Deus. Um fim menos doloroso para a minha alma. Luto, frequentemente, contra o desejo angustiante de querer que meu coração pare.

Não! Eu não quero morrer!

Expulso os maus pensamentos e as tentações como um vampiro negando a própria natureza, esgueirando-me mais uma vez na escuridão, na solidão.

A maioria das pessoas que passam pela estrada que leva até a cidade desconhece o fato de que alguém "sobreviva" em uma espécie de cabana embrenhada numa mata; onde cultiva a maioria dos vegetais e hortaliças que consome e tem como companhia o canto dos pássaros. O ar dentro de casa cheira a ranço, mas lá fora o aroma é característico da estação que precede o inverno, uma das estações preferidas "dela".

É irônico pensar que passar alguns momentos em contato tão íntimo com a natureza era uma forma de apreço de minha namorada, uma maneira que ela encontrou de se libertar das prisões do dia-a-dia, e que agora é justamente a realidade em que vivo.

De certa forma minha espécie de cárcere privado.

Passei os últimos anos como um lunático em estado de negação por minhas escolhas. Com o cabelo crescido e desgrenhado, a barba de dias por fazer, sentado na cama com os pés apoiados no colchão, abraçado aos joelhos, pensando em uma maneira de dar sentido às várias opções descartadas ao cair daquela noite.

E se eu tivesse desligado o telefone e simplesmente aproveitado a bela noite romântica que havia preparado para a mulher que eu pretendia pedir em casamento? E se eu não tivesse atendido aquela maldita chamada de emergência de Will? Ou se, ao atender a chamada eu tivesse apenas dito: não.

E se eu...?

E se...

E...

...

Eu, que antes era alguém que alimentava o sonho de conseguir provar meu valor à sociedade, agora odeio a pessoa na qual havia me tornado. Detesto o fato de ter sonhado tão alto quando, na verdade, tudo o que sempre precisei eu tinha ao meu lado. Me repudio por ter sido cego ao tentar agradar as pessoas que vinham e iam na mesma velocidade de um relâmpago, deixando suas marcas com nada mais que um cheque sem fundos.

Como seria bom se tivéssemos o dom de prever o futuro para prevenir o que de ruim viesse a acontecer em nossas vidas. Certamente, se eu o tivesse, jamais teria saído de casa naquela noite.

Assim, a morte seria vida, a ausência, presença; e a dor, alegria.

William Medeiros estaria vivo.

Eu me sentiria vivo.

De qualquer maneira, eu sabia que nossas vidas estariam ligadas para sempre.

~~~❆❆❆~~~

Hoje só quero dizer que

Estou. Amando. Ter. Vocês . Aqui

Nunca Foi Sobre Nós [REPOSTANDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora