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San Diego, Califórnia – Del Mar Fairgrounds

POV Lauren

Com os olhos fechados eu podia sentir a brisa tocar levemente meu rosto, como se fizesse um contato humano, como se fosse as mãos dela que percorressem meus cabelos, nós, deitadas em qualquer cama, porque qualquer uma seria um bom lugar de estar ao seu lado. Era uma pequena viajem pelo meu universo, utilizando a imaginação em minha mente. E isso sempre me faz pensar, afinal, nós seres humanos teríamos explicação para tudo?

Pitágoras dizia que era a harmonia musical. Platão acreditava nos sólidos perfeitos. Newton e Einstein, no espaço, no movimento e na energia. Alguns físicos de hoje, em supercordas. Desde que o mundo é mundo, os cientistas sonham com o dia em que toda a realidade caberá numa formulação simples e elegante, com o momento em que tudo o que existe, existiu ou existirá poderá ser explicado por uma espécie de teoria de tudo: completa, imune a contradições e, acima de qualquer suspeita, real. "Tudo é tudo e nada é nada" - a confusão sem fim que é explicar este ou qualquer outro Universo.

E eu só queria poder explicá-la

Queria enxerga-la e não parecer sempre ter algo novo a se descobrir e temer que não consiga, queira que não fosse tão óbvio a minha necessidade de ter que prestar atenção em sua presença, queria poder tocar seu rosto sempre que o visse, queria poder entender de uma forma simples e intuitiva o que suas palavras querem dizer, queria poder entender cada verso subentendido, disfarçado em poesia, para que eu possa desvendar. Queria poder tela nas mãos ou se não, ter suas mãos em mim. Queria poder amá-la sem culpa, sem dose, sem medo nenhum de ser julgada por isso. Queria aceitar esse amor, da mesma forma que se aceita um abraço apertado.

Queria não ter que estar vendo-a num canto, um pouco distante, no intervalo das gravações, bebendo água e me fazendo a desejar por isso.

Me aproximei divagar, em tática, analisando o terreno pelo qual caminhava e tentando deduzir seu humor ao mesmo tempo. Camila está pensativa, caminha desprevenida de um lado ao outro em curtos passos que sempre retornam ao ponto inicial.

Não percebeu minha chegada.

"Queria poder estar aí por um dia" Disse a tirando de suas profundezas e a trazendo para superfície novamente.

"Ai onde?" Camila perguntou franzindo a testa. Seu tom parecia diferente. Eu fico muito sensível quando me apego a alguém. Posso detectar o menor detalhe de mudança no tom de sua voz, e de repente eu estou passando o dia todo tentando descobrir o que eu fiz de errado.

"Sua mente, queria poder vê-la por dentro." Sentei na mureta perto e a observei se aproximar.

"Você vê além." Seu ritmo entrou em normalidade, encostou-se perto de mim e pude ver seu rosto melhor.

Confesso que às vezes sinto-me uma estranha no meio da minha própria geração. Vejo às pessoas pregar o desapego, a autossuficiência e o culto aos encantos da solidão e pergunto-me, intrigada, onde é que eu estava com a cabeça na aula em que ensinaram a essa gente toda que estar só é algo assim tão bom.

Concordo que aprender a apreciar a própria companhia é um passo essencial rumo à maturidade e ao amor próprio. Concordo que o silencio se torna necessário uma vez ou outra nas nossas vidas, concordo que saber conviver harmoniosamente com o vazio é sinal de sabedoria e que estar conosco de vez em quando pode significar um alívio em tempos de super exposição e excesso virtual de companhia.

Ainda assim, confesso: eu preciso das pessoas, em especial de Camila.

Preciso do cheiro dela. Preciso da voz, dos toques, das risadas, das sabedorias...
Alimento-me de companhias e é nas relações que cultivo dia após dia que encontro energia para abastecer a vida com pequenas alegrias.

A Amada Do MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora