(conto) Veludo Negro

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Discreto, voejava o ente da noite. Elevado, rumava alto sobre os telhados da vila afastada. De uma sacada espreitava, em meio às petúnias aveludadas, o felino que com o olhar aguçado acompanhava o voo do morcego silente.

O animal negro declinou pelas varandas, guiado pelo instinto, e na janela de madeira entreaberta atravessou o corpo peludo, pousando na extremidade da cama.

No interior do aposento, um jovem desfrutava do sono restaurador, o que lhe impediu de notar a movimentação da criatura que escalava seus pés em direção ao busto com sutileza sobrenatural.

Na percepção de quem a via sob o encanto lunar, nada mais vislumbraria senão a imagem do morcego. Isolada e confortável, assumia a forma sedutora de uma mulher ruiva, maléfica e cobiçosa, sempre atraída pela libido insaciada - e pela ânsia de prazer.

Apoiou as mãos de unhas afiadas no peito do rapaz desacordado, o fitando com avidez de predadora, e se lançou aos lábios dele. Por reflexo, despertou assustado, mas o beijo da dama pecaminosa inoculou a saliva entorpecedora com a língua, e quando se ergueu soltando o pescoço da vítima, ele estava estático por completo. Totalmente vulnerável aos intentos da visitante.

Paralisia do sono.

E agora detinha todo o resto da noite para sí.

Os olhos assombrados do jovem os encaravam sem conseguir demonstrar qualquer expressão. Neste estado, apenas pôde testemunhar a criatura noturna se despir montada sobre ele. As grandes asas negras salientadas das costas preenchiam o ar do quarto como a copa de uma árvore frondosa. A mescla de humana demoníaca se distanciava de sua real forma - apesar de isto ser irrelevante.

Livrou-se do espartilho que delineava o corpo de curvas eróticas na proporção ideal, desfez-se dos trajes escuros de detalhes vermelhos que recordavam a uma cortesã luxuosa, para então revelar na nudez a totalidade da pele pálida. Os seios largos seguravam em seus flancos os rubros fios ondulados da dama. Com a pressa de quem possuía uma eternidade de prazeres para desfrutar, removera com delicadeza as calças dele. Constatou a excitação da vítima, esta aflorada em demasia pela atração que ela proporcionava ao se moldar justamente à forma em que os devaneios dele sonhavam secretamente.

Ela abriu as belas pernas, atritando sua pele fria sobre a quente, envolvendo a cintura dele com as coxas de proporções generosas, pousando a vagina de lábios estreitos sobre o membro ereto. Tal qual sua forma era ocultada, seus ganidos e gemidos só podiam ser ouvidos pela vítima. Deleitou-se no corpo do rapaz, buscando obter dele o máximo de prazer, o acariciando e mordendo.

A cortesã demoníaca buscava nos desejos de quem atacava o melhor caminho para a satisfação, assim, atingindo o ápice do orgasmo várias vezes na noite. Com a grande quantia de sêmen fresco que jorrava do ventre e escorria pelas coxas, retirou-se de cima dele com mais beijos. Assim agradecia enquanto extraía até a última gota.

A semente humana, carregada de pureza de prazer e perversão, foi levada pela criatura ao se transformar novamente em morcego, para ser usada na fecundação de outras súcubas e de sí mesma, provendo em pouco tempo a próxima geração da casta de demônios disformes. Suel, a dama notívaga das muitas peles, voou pela noite que terminava, desaparecendo.

Quando o jovem acordou, o gosto da saliva venenosa terminava de sumir de sua boca, e por causa dela, apenas recordava de vislumbres turvos de uma noite erótica com uma majestosa senhora. A memória de um sonho que logo se perderia.

Karnácia: Condessa ProfanaOnde histórias criam vida. Descubra agora