(conto) MÉLICA MALÍCIA - Parte II: Umbrífera Prole

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Ardência da pele somava-se ao verão castigador e ao abafado cômodo recluso. O ar respirado e partilhado pelos três era expelido por suas bocas arfantes, em baforadas de exaustão. Mas não parariam, pois ela não permitiria que partissem sem que finalizassem. Na sala subterrânea, de paredes de pedra, as fracas velas seduziam nas trevas, dando rara luz aos incontáveis pergaminhos e tomos arquivados nas estantes. A biblioteca que abrigava textos antigos e manuscritos esquecidos fora convertida em secreto templo erótico.

O templo sob o mosteiro.

E sua senhora era a pálida freira de ventre aflorado.

Negara a si mesma o fato. Dera como alucinada. Rezara por semanas a fio e flagelou a si mesma até seu corpo estar entregue em dor e cicatrizes. Ela implorou para que Vênna, a Rainha Celestial e patrona de sua morada, que tudo fosse um sonho. Aceitara, porém, que fora obra da própria Deusa para lhe ensinar a se afastar da tentação.

Negara insistentemente e voltara à vida sacerdotal. Porém, a dúvida plantada não morria. Conforme os meses entardeciam, as evidências se clareavam. Os sintomas evidenciavam-se, ali, nela, e esconder o fato em breve se tornaria inviável. Mas a verdade do acontecimento não lhe era mais o maior dos problemas. Títulos, posições, imagem, dogmas, nada disso importava, e as preocupações do mundo carnal ficaram de lado. A sentença era real; sua maldição igualmente. Então o desespero implacável moveu-a.

O grande sino de bronze tocava distante acima, pela campana alumiada, reverberando pela fresta da porta de madeira do subsolo. Era neste momento que ela aproveitava para libertar seus gemidos mais fortes — ao mesmo tempo que arrancava os ganidos dos parceiros.

Apoiava-se nos quatro membros sobre o tapete na maior parte do tempo. Um dos jovens estava a sua frente, estático, sem reação, sendo estimulado pelos lábios e língua dela, e eventualmente pelas mãos. O outro, mais velho, encaixava-se nela por trás, a penetrando sem experiência. As vestes clericais de Lúmia estavam abertas, rasgadas nos pontos certos por ela mesma para que pudesse expor seu quadril e seios sem precisar despir-se.

Virgens e em celibato, estes eram os monges santos que sob o flerte a seguiram para seu templo. Provavam da carne feminina pela primeira vez, conduzidos e instruídos pelos comandos da dama pecaminosa. Fora cuidadosa com suas últimas escolhas, pois deveriam partilhar da visão dela — da liberdade e busca pela satisfação. Não sabia quantos deles foram libertos pelas suas palavras ou o que exatamente esta sentença queria dizer, mas ao menos o sêmen deles sempre era inoculado no interior de seu útero, tal ela demandava.

Lúmia pegou a mão do garoto a frente e a colocou em seu cabelo, apertando-a, indicando que ele a segurasse com força pelos fios escuros.

— Espanques-me — ordenou ao mais velho que hesitou, confuso. Ele seguia o movimento do quadril de Lúmia contra sua pélvis e apenas isso. — Disse para espancar-me.

— C...como?

— Com a mão, sem medo. — Um tapa mal dado no glúteo fora desferido, a frustrando. Sua luxúria, cada vez mais amadurecida, demandava mais que aquilo, porém não poderia esperar nada além de seus companheiros inexperientes. Certamente essa seria a última vez em que os veria, pois todos que atraiu acabaram por abandonar o convento. Sentiu outro tapa, menos ruim. — E tu — ergueu os olhos ao garoto enquanto envolvia nos dedos de unhas longas a sua bolsa escrotal, apertando-lhe os testículos —, quando pensares que irá desmaiar de prazer, avises-me.

Ele fez um sinal com a cabeça e sua boca abriu em reflexo ao ter sua glande exposta com firmeza e sugada. Em resultado, fraquejara na pegada nas melenas de sua dominatrix.

Os proibidos gemidos, abafados pelas paredes, foram assaltados pela porta subitamente arrombada. Castiçais acesos, túnicas alvas de ornatos lazúlis, rostos encapuzados, correntes pendentes, grilhões destrancados e expressões severas.

Karnácia: Condessa ProfanaOnde histórias criam vida. Descubra agora