Sempre sua

Elisabeth POV

No instante em que entro na recepção e vejo Daniel, sei que as notícias não são boas. Ele tem lágrimas nos olhos e parece procurar uma forma de fugir. Fugir de mim.

Com as lágrimas voltando aos meus olhos eu corro e me jogo em seus braços. Eu o aperto forte contra mim e depois de meio segundo de surpresa ele retribuiu o abraço.

Ele parece tão quebrado. Tão triste. Ele precisou de mim e eu não estive aqui para ele. Esse pensamento faz meu coração doer ainda mais.

- Eu te amo tanto! - Eu digo o apertando ainda mais forte contra mim, desejando poder tomar para mim toda a dor que ele sente. - Eu te amo e sempre vou te amar.

- Eu vou ficar cego. - Ele me responde. Mesmo torcendo para que não, eu meio que já esperava por isso. Mas quando ele me conta seu destino com a voz tão carregada de medo e dor, é como se alguém arrancasse de mim meu coração. Como se uma espada atravessasse meu corpo me partindo em duas. Como se eu estivesse me quebrando em pedacinhos.

Dor física percorre meu corpo e eu estremeço em um espasmo de desespero. Meu corpo treme enquanto eu me seguro ainda mais firme em seu corpo. Eu preciso que a proximidade me impessa de despedaçar. Que ele me salve.

Meu menino está ficando cego. Logo ele não poderá ver mais nada. Nem o por do sol, nem o céu estrelado. Não verá meus irmãos crescerem e não me verá entrar de branco na igreja. Não veria nossos filhos.

Ele irá precisar de ajuda para realizar tarefas simples e até ele se acostumar, tudo será inimaginavelmente difícil.

Ajudar Daniel não será difícil. Isso é como uma segunda natureza. Se dependesse de mim eu não deixaria ele ter que enfrentar nenhuma situação complicada.

O difícil será saber quando eu não devo interferir e saber me conter.

Quando éramos menores  eu fazia as tarefas da escola por ele, mas isso não ajudava nas provas, porque ele ainda não sabia fazer as questões. Então, depois da primeira nota baixa, ao invés de fazer as tarefas para ele, eu comecei a ajudar ele nas tarefas e ele começou a tirar notas altas. Logo ele ficou melhor do que eu em quase todas as matérias - eu ainda posso ganhar de vez em quando.

Agora, eu também não posso fazer tudo por ele.

Por mais que eu tente, não posso estar a todo instante com ele, e quando eu não estiver, ele precisa ficar bem.

Então, assim como quando éramos pequenos, eu não vou fazer as tarefas por ele, mas vou a cada instante ajudá-lo a fazê-las, até que ele as faça com facilidade.

Tudo vai mudar.

Mas ainda assim tudo continuará como sempre foi.

Eu por ele e ele por mim.

- Está tudo bem. - Eu respondo em um sussurro. Minha voz treme e sai com dificuldade, mas ele precisa saber. - Vai ficar tudo bem. Eu prometo. Eu estou aqui e vou te ajudar. Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Eu te amo. Quando estiver com medo se lembre disso. Eu amo você mais do que tudo. Você pode perder sua visão mas não vai me perder. Nunca. Eu sou sua e sempre serei.

Depois disso, senti seu corpo relaxar um pouco. Ele sabia que eu estaria sempre aqui. Agora tudo iria mudar, mas entre nós, nada seria diferente.