Daniel POV

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Depois que Elisa foi para casa, eu subi para meu quarto e decidi que iria descansar um pouco. Eu deitei na cama e cochilei por quase uma hora.

Quando acordei minha visão estava bastante melhor do que mais cedo. É assim que ela está ultimamente, em um momento posso ver bem, no outro minha visão esta muito ruim, então volta a ficar boa, para não muito depois sumir por completo, e voltar de novo... Eu sei que meus olhos continuarão a brincar assim comigo, até que um dia minha visão suma definitivamente.

Algumas vezes isso me assusta muito. Eu realmente não sei como vou conseguir lidar com isso.

Eu sempre valorizei muito minha visão, mesmo antes de saber que eu iria perde-la, e vou sentir muita falta dela.

Eu sempre gostei muito de ver e tentei aproveitar ao máximo tudo que eu achasse belo.

Não porque pensei que poderia existir um dia em que eu não teria minha visão, mas porque eu sei que cada momento é único.

A beleza não se repete.

Por exemplo, nunca mais existirá uma beleza como a do por do sol de hoje. Não quer dizer que nada mais existirá que seja tão ou mais belo do que ele, mas sim que qualquer outra coisa que exista será diferente. Não necessariamente melhor ou pior, apenas diferente.

Pela singularidade dos momentos eu tento guardá-los na memória.

E agora mais do que nunca eu o faço, porque sei que não serão apenas momentos específicos que não voltarei a ver.

Eu espanto esses pensamentos da minha mente e vou para a cozinha onde oco minha mãe preparar o almoço.

- Quer ajuda? - Eu pergunto entrando na cozinha.

- Que susto! - Ela diz com um pulo e então ri. - Eu estava distraída e não percebi você chegando... Eu adoraria sua ajuda.

- O que vamos fazer hoje para o almoço?

- Um... O que acha de lasanha?

- Acho que lasanha é sempre uma boa ideia.

- Vamos fazer com a receita dobrada para chamarmos Elisa e a família para comerem com a gente. Acho que não vão cozinhar hoje...

- Você conhece bem tia Rachel.

- Sim... Somos melhores amigas desde que posso me lembrar.

- Como vocês se conheceram?

- Na igreja. E na escola. Começamos a conversar na igreja e só então na escola. Eu era de um círculo diferente do que o dela, eu andava com a turma mais... "descolada"... Mas depois que nos conhecemos, criamos nosso próprio círculo de amizade. Não demorou muito para nos tornamos melhores amigas.

- Mas vocês não moraram sempre na mesma cidade, certo?

- Certo. Na época em que ela conheceu o tio Ben, eu estava morando no Rio. Meu pai tinha sido transferido para lá e moramos longe uma da outra por mais de dois anos. Nós nos falávamos por telefone e escrevíamos cartas quase todo dia, só não mais porque na época esse tipo de coisas era um pouco caro.

- Você tem medo do que pode acontecer com ela agora?

- Sim... - Ela respondeu com a voz fraca. - Isso já aconteceu antes, você sabe. Eles estavam morando fora por causa do trabalho, você e Elisa ainda eram bebês. Foi bom porque lhes estavam mais perto de recursos médicos melhores. Mas aquela vez era um tumor benigno... Agora... Eu preciso acreditar em um milagre.

- Ela... É mais do que uma amiga da família. Ela é da família. Mais do que qualquer parente poderia ser. Como se fosse uma segunda mãe. Não posso imaginar o mundo sem ela.

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