Elisabeth POV

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Depois da consulta de Daniel eu realmente desejava boas notícias. Eu realmente queria algo bom.

Mas a vida não funciona com base naquilo que queremos ou não. Eu deveria aprender isso logo, porque definitivamente os céus estão tentando deixar bem clara essa lição.

A grande noticia que minha mãe tinha, era que ela estava com câncer e as condições não eram nada favoráveis.

Ela parece estar relativamente bem com isso. Meus irmãos provavelmente não compreenderam exatamente o que isso significa. Eu não sei o que fazer com isso e estou a um instante de perder minha mente e entrar no modo automático. A realidade está a um passo de se tornar mais dura do que posso lidar.

Meu pai deve estar em um nível infinitamente maior de desespero.

É fácil esquecer o quão frágil ele é.

Ele é enorme e seu sorriso é praticamente inabalável. Por mais terrível que possam ser as coisas ele se mantém brincalhão e calmo.

Mas eu sei que esse é o mecanismo de defesa dele. Eu sei, porque em uma escala menor, esse também é o meu.

Eu sei um pouco mais do que gostariam que eu soubesse sobre a infância do meu pai. Eles não falam muito sobre isso, mas eles já me explicaram um pouco sobre as inúmeras cicatrizes que cobrem seu corpo bonito. O restante... Digamos que os jornais não foram tão vagos nos relatos, tudo o que eu precisei fazer foi procurar um pouco nos arquivos antigos da biblioteca da cidade.

Os progenitores do meu pai (eu não acho que merecem o título de pais) foram bastante cruéis. Eles o torturavam física e psicologicamente e deixaram varias cicatrizes nele. Mais de uma vez eles quase o mataram e os relatos são os mais aterradores. Quando ele ainda era pequeno foi tirado de lá e eles nunca mais puderam chegar perto dele. Meu pai foi cuidado e educado, mas nunca teve ninguém que realmente se importasse com ele como indivíduo. Ele estava sozinho. Até conhecer minha mãe.

Minha mãe é tudo para ele. Ela é a primeira família que ele teve e somos nós a que ele construiu com ela. Somos tudo o que ele tem e ela é quem fez isso possível.

Ele costuma se manter calmo independente das situações, mas ontem de noite, enquanto me abraçava, ele chorou. Na frente de todos, ele não se conteve.

Se ela se for eu não sei realmente o que será dele. Eu sei que ele ainda será um ótimo pai, mas não acho que algum dia poderá superar isso e ser feliz de novo.

As pessoas não costumam ver meu pai como alguém muito amoroso ou cuidadoso. Ele dá a entender na verdade ser um homem bastante distante, mas isso é só mais uma das suas cicatrizes. Ele nunca demonstra qualquer sentimento real na frente das pessoas fora de nossa pequenas família. Nem mesmo para os Schaefer. As únicas pessoas em que ele realmente confia somos meus irmãos, minha mãe e eu. Nós somos os únicos que realmente conhecemos ele.

Tio Matt e Daniel sabem me consolar, mas algumas vezes só o meu papai pode me ajudar. Ontem, quando eu pensei que não poderia mais aguentar, por mim, ele deixou sua armadura quebrar e o seu amor e cuidado vazar. Ele se mostrou vulnerável e me envolveu com seu carinho, porque ele sabia que eu precisava dele. Ele me consolou como só alguém que está habituado à dor poderia. Como só alguém que ama tanto a mim e a minha mãe poderia. Ele me segurou por mais um pouco na realidade.

Quando me despedi de Daniel eu estava preocupada. Ele estava perdendo a visão com uma velocidade alarmante e a ideia de deixá-lo sozinho quando ele pode se machucar me deixa com muito medo.

Mas logo minha atenção se volta para minha mãe.

Eu quero passar o máximo de tempo possível com ela. Eu realmente espero que ela sobreviva, mas se os tratamentos não forem suficientes eu quero ter aproveitado todo o tempo que tive para estar com ela.

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