Elisabeth POV

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Minha mãe começou a fazer quimioterapia e está cada dia mais cansada. Meu pai faz de tudo para garantir que ela esteja bem e eu tenho que cuidar dos meus irmãos a maior parte do tempo, o que não é muito diferente do habitual.

A parte boa é que ela fica mais tempo em casa. Assistimos filmes, ela lê para nós, desenhamos e pintamos juntos.

Daniel fica cada dia mais cego e eu espero que ainda reste um pouco de sua visão no dia do meu aniversário. Vai ser um momento especial e eu quero que ele possa ver isso. Eu propus a ele que antecipassemos o momento, mas ele disse que agora queria esperar até a hora certa. Ao que parece ele preparou uma surpresa para mim.

Faltam agora apenas dois dias para meu aniversário e minha avó e minhas tias chegam amanhã. Elas estão bastante preocupadas com minha mãe e vão preparar toda a festa para ajudar. Eu acho que na verdade elas estão desesperadas para ajudar de alguma forma minha mãe, e isso é o que elas podem fazer no momento.

Agora eu estou no meu quarto com Daniel. Meus irmãos estão com meu pai no quintal e minha mãe está descansando no quarto dela, de onde posso ver se ela está bem.

- Eu acho que Bach é melhor que Schubert. - Daniel me fala.

- Um... Não!

- Fala a verdade: Você só gosta do Shubert por causa do príncipe Albert, marido da sua rainha favorita! Você nem sabia que ele existia antes de descobrir que era o favorito do príncipe Albert!

- Claro que isso ajudou, mas você não pode desmerecer ele usando a forma que eu cheguei a conhecê-lo. Veja só o "Ave Maria" dele! É incrível...

- Sim, é incrível, mas Bach tem "Magnificat"...

- Que é ótima, mas não tira a beleza de Schubert.

- Eu ainda acho que é por causa da rainha Vitória que gosta dele tanto assim, mas tudo bem.

- Algum dia você vai aprender a apreciar Shubert.

- Quem sabe... - Ele fala e ri.

- Mas eu também gosto de Bach...

- Eu sei. E eu também gosto de Shubert.

- Então vamos poder continuar ouvindo os dois juntos. - Eu digo enquanto ele me puxa para o colo dele.

- Eu acho que os dois juntos pode ser um pouco confuso... Misturando as músicas sabe...

- Você sabe do que eu estou falando, seu espertinho.... Eu quis dizer ouvir eles intercalados e não simultaneamente. Juntos na playlist e não no tempo.

- Se você diz... Uma pena, porque eu já estava começando a me empolgar com essa ideia de colocar as músicas deles ao mesmo tempo.

- Se você quiser podemos tentar, se acha que vale a pena.

- Não realmente. Vamos manter sua ideia original, uma playlist.

- Agora eu é quem estou interessada...

- Eu sei... Não sei nem porque insisti nessa ideia, eu deveria ter previsto que diferente de mim, você levaria a sério essa história...

- Tarde de mais... - Eu disse já pegando o celular dele para colocar Bach.

Eu coloquei as duas ao mesmo tempo e eu achei que não ficou nada não. Daniel disse que dava dor de cabeça, mas estava com um sorriso alegre no rosto.

- Você age como uma criança metade do tempo sabia? - Ele fala para mim rindo.

- E isso é ruim? - Eu falo, sentindo meu sorriso desaparecer. São um monte de pessoas que falam que eu ajo como uma criança e me desprezam por causa disso. Eu não acho que eu ajo como uma criança, apenas que eu sou feliz.

- Não meu amor. - Ele diz me puxando para perto dele quando percebe que me chateou. - Me desculpe, eu não...

- Não se desculpe. - Eu digo sorrindo para ele novamente. Eu não gosto de ficar chateada, emburrar realmente não é minha praia.

- Eu só quis dizer que você é divertida e espontânea. Completamente imprevisível... para todo mundo, menos para mim.

- Porque você é meu melhor amigo. Um dos seus poderes é saber ler minha mente.

- E você lê a minha?

- Claro! Quer saber o segredo dessa habilidade? - Eu digo sussurrando como se estivesse prestes a contar um grande segredo.

- Qual? - Ele responde no mesmo tom.

- É que pensamos juntos. Sempre que vamos pensar em algo, tentamos adivinhar o que o outro iria pensar nessa situação. E depois de tantos anos treinando pensar um pelo outro em cada coisa, ficamos muito bons nisso.

- Mas isso não funciona todas as vezes.

- Eu disse que ficamos muito bons, não infalíveis.

- Então nossos poderes tem limites?

- Um... Sim. Mas isso não é algo ruim.

- Não? - Ele pergunta de repente sério.

- É claro que não. São esses limites que garantem uma boa amizade.

Eu já não tenho certeza se estamos falando de leitura de mentes, mas não me importo. Seja lá sobre o que for, eu quis dizer isso. O que parecem limitações podem ser apenas fatores que tornam nossa amizade ainda mais especial.

- Obrigado. - Ele fala baixinho e carinhoso me abraçando mais forte.

- De nada. - Eu respondo tambem suavemente. - Mas posso saber o porque?

- Por ser você. Por estar aqui. Por me amar... Por nada... Por tudo.

- Então eu é quem agradeço.

- Pelo que?

- Por ser você. Por me deixar estar aqui por você e por estar aqui por mim. Por me amar e por me deixar te amar. Por ser minha vida. Meu tudo.

- Eu te amo mais do que tudo.

- Eu também te amo. Você é tudo para mim.

Sempre suaOnde histórias criam vida. Descubra agora