Minha mãe começou a fazer quimioterapia e está cada dia mais cansada. Meu pai faz de tudo para garantir que ela esteja bem e eu tenho que cuidar dos meus irmãos a maior parte do tempo, o que não é muito diferente do habitual.
A parte boa é que ela fica mais tempo em casa. Assistimos filmes, ela lê para nós, desenhamos e pintamos juntos.
Daniel fica cada dia mais cego e eu espero que ainda reste um pouco de sua visão no dia do meu aniversário. Vai ser um momento especial e eu quero que ele possa ver isso. Eu propus a ele que antecipassemos o momento, mas ele disse que agora queria esperar até a hora certa. Ao que parece ele preparou uma surpresa para mim.
Faltam agora apenas dois dias para meu aniversário e minha avó e minhas tias chegam amanhã. Elas estão bastante preocupadas com minha mãe e vão preparar toda a festa para ajudar. Eu acho que na verdade elas estão desesperadas para ajudar de alguma forma minha mãe, e isso é o que elas podem fazer no momento.
Agora eu estou no meu quarto com Daniel. Meus irmãos estão com meu pai no quintal e minha mãe está descansando no quarto dela, de onde posso ver se ela está bem.
- Eu acho que Bach é melhor que Schubert. - Daniel me fala.
- Um... Não!
- Fala a verdade: Você só gosta do Shubert por causa do príncipe Albert, marido da sua rainha favorita! Você nem sabia que ele existia antes de descobrir que era o favorito do príncipe Albert!
- Claro que isso ajudou, mas você não pode desmerecer ele usando a forma que eu cheguei a conhecê-lo. Veja só o "Ave Maria" dele! É incrível...
- Sim, é incrível, mas Bach tem "Magnificat"...
- Que é ótima, mas não tira a beleza de Schubert.
- Eu ainda acho que é por causa da rainha Vitória que gosta dele tanto assim, mas tudo bem.
- Algum dia você vai aprender a apreciar Shubert.
- Quem sabe... - Ele fala e ri.
- Mas eu também gosto de Bach...
- Eu sei. E eu também gosto de Shubert.
- Então vamos poder continuar ouvindo os dois juntos. - Eu digo enquanto ele me puxa para o colo dele.
- Eu acho que os dois juntos pode ser um pouco confuso... Misturando as músicas sabe...
- Você sabe do que eu estou falando, seu espertinho.... Eu quis dizer ouvir eles intercalados e não simultaneamente. Juntos na playlist e não no tempo.
- Se você diz... Uma pena, porque eu já estava começando a me empolgar com essa ideia de colocar as músicas deles ao mesmo tempo.
- Se você quiser podemos tentar, se acha que vale a pena.
- Não realmente. Vamos manter sua ideia original, uma playlist.
- Agora eu é quem estou interessada...
- Eu sei... Não sei nem porque insisti nessa ideia, eu deveria ter previsto que diferente de mim, você levaria a sério essa história...
- Tarde de mais... - Eu disse já pegando o celular dele para colocar Bach.
Eu coloquei as duas ao mesmo tempo e eu achei que não ficou nada não. Daniel disse que dava dor de cabeça, mas estava com um sorriso alegre no rosto.
- Você age como uma criança metade do tempo sabia? - Ele fala para mim rindo.
- E isso é ruim? - Eu falo, sentindo meu sorriso desaparecer. São um monte de pessoas que falam que eu ajo como uma criança e me desprezam por causa disso. Eu não acho que eu ajo como uma criança, apenas que eu sou feliz.
- Não meu amor. - Ele diz me puxando para perto dele quando percebe que me chateou. - Me desculpe, eu não...
- Não se desculpe. - Eu digo sorrindo para ele novamente. Eu não gosto de ficar chateada, emburrar realmente não é minha praia.
- Eu só quis dizer que você é divertida e espontânea. Completamente imprevisível... para todo mundo, menos para mim.
- Porque você é meu melhor amigo. Um dos seus poderes é saber ler minha mente.
- E você lê a minha?
- Claro! Quer saber o segredo dessa habilidade? - Eu digo sussurrando como se estivesse prestes a contar um grande segredo.
- Qual? - Ele responde no mesmo tom.
- É que pensamos juntos. Sempre que vamos pensar em algo, tentamos adivinhar o que o outro iria pensar nessa situação. E depois de tantos anos treinando pensar um pelo outro em cada coisa, ficamos muito bons nisso.
- Mas isso não funciona todas as vezes.
- Eu disse que ficamos muito bons, não infalíveis.
- Então nossos poderes tem limites?
- Um... Sim. Mas isso não é algo ruim.
- Não? - Ele pergunta de repente sério.
- É claro que não. São esses limites que garantem uma boa amizade.
Eu já não tenho certeza se estamos falando de leitura de mentes, mas não me importo. Seja lá sobre o que for, eu quis dizer isso. O que parecem limitações podem ser apenas fatores que tornam nossa amizade ainda mais especial.
- Obrigado. - Ele fala baixinho e carinhoso me abraçando mais forte.
- De nada. - Eu respondo tambem suavemente. - Mas posso saber o porque?
- Por ser você. Por estar aqui. Por me amar... Por nada... Por tudo.
- Então eu é quem agradeço.
- Pelo que?
- Por ser você. Por me deixar estar aqui por você e por estar aqui por mim. Por me amar e por me deixar te amar. Por ser minha vida. Meu tudo.
- Eu te amo mais do que tudo.
- Eu também te amo. Você é tudo para mim.
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Sempre sua
Roman d'amourElisabeth e Daniel são melhores amigos e vizinhos desde os cinco anos. Para Daniel, todas as meninas eram muito chatas. Até ele conhecer Elisabeth. Ela era diferente. Ela era divertida e engraçada, não era boa em jogar bola e corria devagar, mas me...