Daniel POV

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Quando acordei eu ainda estava deitado nos braços de minha mãe, agora com uma coberta em nosso entorno. Pela forma cuidadosa que foi posta sei que foi Elisa quem nos cobriu. Eu me solto com cuidado de minha mãe e a acomodo no sofá novamente colocando a coberta em volta dela para que não passe frio.

As memórias do dia anterior me atingem e tudo que posso pensar é como eu sou sortudo por ter uma família que se importa comigo. E é claro, por ter Elisa e a família dela também.

No sofá na nossa frente meu pai está dormindo pesado, seu rosto carrega uma expressão de preocupação misturada com tranqüilidade que só ele consegue ter. Ele parece cansado. Ele parece ter chorado. Acho que conversou com Elisa ontem de noite. Só ela é capaz de trazer o lado sensível do meu pai à tona.

É realmente impressionante como ele trata Elisa. É como se ela fosse a filha dele de verdade. Eu amo isso, porque Elisa assume muitas responsabilidades que uma garota da idade dela não deveria assumir, e ainda que a ame muio, o pai dela não é muito protetor e algumas vezes esquece que ela ainda é uma garotinha. Então meu pai a trata como a menininha que ela deveria ser, sendo protetor e carinhoso. Não é só ela quem faz aparecer um lado escondido do meu pai, mas ele também faz aparecer um lado que ela muito raramente revela, um lado muito mais vulnerável, que conta como ela realmente se sente e se deixa ser cuidada como ela cuida dos outros.

Eu vou até a cozinha e encontro Elisa fazendo café.

- Já está de pé? - Eu pergunto. Ainda estamos de férias. As aulas começam em pouco mais que uma semana, então não precisamos acordar muito cedo realmente. Não sei que horas são, mas parece cedo, provavelmente antes das sete. Elisa nunca foi de dormir muito, mas ainda assim ontem foi um dia agitado e se conheço bem ela, e sei que conheço, ela foi dormir bem tarde.

- Faz só um pouquinho de tempo. Acordei eram cinco e vinte e sete e agora são... - Ela respondeu olhando no celular. - Cinco e cinqüenta e cinco.

Elisa está sempre atrasada para tudo e faz tudo em cima da hora, mas ainda assim ela gosta de saber sempre as horas. Da forma dela, ela está sempre controlando o tempo que gasta em cada coisa. Ela odeia ser apressada e a maior parte do tempo faz as coisas muito devagar, mas quando ela resolve que tem que fazer algo rápido ela consegue.

Elisa é um feixe de contradições, assim como acho que muito provavelmente todos nós somos, mas isso é um pouco mais evidente nela porque ela não tenta disfarçar.

De certa forma, pode-se dizer que ela é um pouco irresponsável, porque ela deixa as responsabilidades acumularem e faz tudo no último minuto possível, mas ainda assim ela não deixa de cumprir nenhuma e faz tudo bem feito. Ela sempre diz: "Não se preocupe, eu tenho um plano, no final tudo vai dar certo." E é exatamente isso que acontece.

Elisa é uma bagunça! Quando ela vai estudar ela enche a mesa de livros e papéis e as canetas ficam por todo o canto.

As coisas dela, de modo geral, ficam espalhadas por todo lado. Mas ainda assim ela sempre sabe onde cada coisa está, e quando ela vai arrumar as coisas, ela organiza tudo de uma forma metódica, não deixando nada nem mesmo um milímetro fora do lugar que ela acha que é o apropriado.

Quando ela vai fazer prova ela alinha cada uma das canetas e organiza cada um dos materiais de forma simétrica, mas quando a prova começa ela deixa tudo cair milhares de vezes e ela e os poucos materiais com ela ficam em um caos completo.

Ela fala de em um tom gentil, mas tão rápido que quebra toda tranqüilidade.

Ela deixa todos os sentimentos bem expressos claramente em suas feições e voz, mas ainda assim ela guarda muito para si.

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