- O que? - Eu pergunto confusa e assustada com a irritação dele.
- Eu não consigo mais ver quase nada e o piso irregular da calçadas e da grama... Eu vou cair... Eu não posso... - Ele fala mais calmo, mas ainda agitado.
Eu seguro as mãos dele nas minhas, tentando acalmá-lo, enquanto tento organizar minha mente, que agora está girando.
Eu percebi que ele está tendo cada vez mais problemas com a visão. Ele anda com paços mais incertos e apalpa para encontrar objetos próximos o tempo todo. Mas sabíamos que isso iria acontecer. Sabemos que é assim que as coisas vão ser daqui para frente e é melhor nos acostumarmos.
- Tudo é apenas... Novo... - Eu tento. Não sei ao certo o que estou tentando, mas eu estou. - Nós só precisamos... Nos adaptar. As coisas vão ficar mais fáceis. Eu prometo.
- As coisas não vão ficar mais fáceis. Daqui para frente serão apenas mais e mais coisas que eu não poderei fazer.
- Não. Serão mais e mais coisas que vai reaprender a fazer. Eu pesquisei sobre isso, no começo é difícil, mas as coisas vão melhorar. O que agora parece impossível de fazer sem a visão se tornará automático, como era antes com ela.
- Eu não consigo acreditar em um futuro melhor agora.
- Então eu vou acreditar nele por nós dois até que você possa. E nós vamos sair!
- Eu disse que não quero.
- Mas agora não estou perguntando. Não pode ficar preso aqui na sua casa o tempo todo. Precisa sair... Ar puro, espaço aberto, esticar as pernas, um pouco de exercício... Você sabe, todas essas coisas.
- Mas...
- E pegue sua bengala nova. Vamos aprender a usá-la.
- Eu não quero servir de espetáculo para as pessoas na rua! - Ele fala irritado.
- E não irá. Mas hoje vamos começar a treinar usar a sua bengala para andar sozinho. Primeiro na sua casa, depois... Vamos para nosso lugar especial.
O pai de Daniel tem um espaço, que antes ers um armazem de sua indústria, que há muitos anos foi desocupado, e que desde então, usamos como um lugar nosso. Não fica tão afastado, mas ninguém vai lá. Já faz um tempo que não vamos lá também.
Temos sofás, mesas, cadeiras, prateleiras com livros, lápis, canetas e papéis. O ambiente é todo decorado com coisas aleatórias que eu e Daniel trouxemos, com ou sem motivo.
- Eu... - Ele começa a protestar.
- Não. Eu sempre estou pronta a seguir suas instruções, mas não quando elas te prejudicam. Não está se ajudando a progredir se trancando em casa. Temos que encarar as coisas como elas são. Como elas serão. Nos esconder não vai mudar o futuro, só não vai nos preparar para enfrenta-lo. Então, onde está esse maravilhoso instrumento que te dará maior autonomia?
Ele se limitou a buscar a caixa em seu entorno e me entregar.
Eu seguro a caixa e a abro com cautela. É um pouco difícil fazer isso. Bastante doloroso. Mas eu preciso ser forte por ele. Ao menos agora.
Eu pego a mão dele e coloco sobre a bengala.
- Pegue. - Eu digo.
Ele respira fundo e a tira da caixa. Ela está dobrada e assim ela é bastante pequena. Ele a sente com as mãos e se coloca de pé. Daniel abre a bengala e sente o entorno com ela.
- Você fica bem com ela.
- Eu devo parecer como um idiota perdido... - Ele lamenta.
- Não. - Eu corrijo. - Você parece seguro. Parece elegante. Parece lindo. E você se parece com meu Daniel. Então está perfeito. Tente andar pelo quarto, passando sua bengala em seu entorno e identificando objetos. Pode fechar os olhos se achar melhor.
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Sempre sua
RomanceElisabeth e Daniel são melhores amigos e vizinhos desde os cinco anos. Para Daniel, todas as meninas eram muito chatas. Até ele conhecer Elisabeth. Ela era diferente. Ela era divertida e engraçada, não era boa em jogar bola e corria devagar, mas me...