Rachel POV

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A semana toda foi muito ruim, mas posso dizer que hoje foi o pior dia de todos.

Eu estava sentindo muitas dores de cabeça e fiz uma série de exames para descobrir o que é.

Hoje eu peguei os resultados e o meu maior medo se confirmou: o tumor voltou e está muito mais agressivo que da última vez.

Eu já falei com meu marido e ele está voltando mais cedo da viajem.

Vamos procurar todos os tratamentos possíveis, mas vai ser difícil escapar dessa vez.

Eu não tenho medo da morte. Não por mim. Eu tenho Jesus em meu coração e sei que quando eu morrer vou para junto dEle. Eu sei que todas as dores e todo cansaço irão embora e eu terei a plena alegria finalmente. Mas a idéia de deixar as pessoas que eu amo, especialmente meus filinhos, me apavora.

Eu falei com Elisabeth por telefone, mas não poderia contar para ela assim. Dar a notícia pelo telefone seria uma atitude fácil para uma covarde, mas muito fria para uma mãe.

Eu tenho quatro filhos e se eu não estiver mais aqui, ao menos sei que posso confiar no meu marido e na minha melhor amiga desde a adolescência, Rebeca, para cuidar deles por mim.

Eu também teria que contar para ela.

E os golpes continuam vindo. Quando pensei que nossa cota de sofrimento poderia ter chegado ao fim, é confirmado que meu Dandan vai ficar cego.

Meu garotinho logo estará preso permanentemente em um mundo de escuridão.

Eu devo confessar que eu já esperava por isso. Sendo cirurgiã, acompanhei diversos casos parecidos e imaginei que esse seria seu futuro. Eu só esperava do fundo do meu coração estar errada. Também acredito que não é "apenas" nós nervos ópticos que está o problema. É isso o que está cegando ele primeiro, mas pela forma com que seus olhos aparentam tem mais.

Eu amo tanto Daniel. Ele é como um de meus filhos também. E fico ainda mais preocupada sobre como ele poderá cuidar de si mesmo e de sua família agora.

Eu não duvido da capacidade dele para isso. Eu não acho que a cegueira de forma alguma irá impedi-lo de defender sua família ou de fazer qualquer coisa. Bem, talvez algumas coisas ele realmente não possa fazer, como dirigir, mas no que realmente importa sei que ele será capaz de fazer tudo. Mas ainda assim as coisas serão mais difíceis e ninguém pode me culpar por me preocupar. Eu sinto como se ele fosse meu filho e o amor de mãe é assim.

Quando chego em casa vejo o carro de Rebeca e Matthew em uma das vagas da garagem e quando entro encontro Rebeca andando de um lado para o outro em frente à porta.

Rebeca corre para mim e me abraça chorando. Ela sempre foi um pouco mais dramática.

Não é que eu nuca chore, mas o faço bem menos que ela e é ela quem sempre começa.

Isso não é algo ruim. Algumas vezes eu gostaria de conseguir me abrir da forma que ela faz.

- Eu sinto muito. - Eu disse a abraçando também.

- Eu também. - Ela disse baixinho. - O que aconteceu? Quando você ligou e falou com Elisa ela se trancou no quarto e só abriu para Daniel.

- Droga... Eu ainda nem contei para ela...

- Contou o que?

- Está de volta. - Eu então sussurrei. - O câncer está de volta, agora mais agressivo.

- Oh não! - Ela disse me abraçando enquanto começava a chorar.

Eu não chorei.

Estou cansada de chorar.

Sempre suaOnde histórias criam vida. Descubra agora