Elisabeth POV

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Quando eu acordei eu estava assustada e me sentia horrível. Eu tive um pesadelo, e tudo que eu posso me lembrar é que Daniel estava me deixando. A sensação, ainda que em sonho, foi terrível e eu ainda sinto um gosto ruim na boca junto a um aperto no coração.

Eu preciso ver Daniel.

Eu me apresso em tomar um banho, escovar os dentes e trocar de roupa, e um tanto quanto desesperada me dirijo à casa de Daniel, que está sentado na varanda ouvindo musica e girando sua Bíblia em frente ao rosto em diversos ângulos.

- Bom dia. - Eu chamo a atenção dele.

- Bom dia para você também. - Ele responde tirando os fones de ouvido. Eu me distraio por um momento com seu rosto bonito, mas ao encontrar um pouco de frustração em seus belos traços eu volto à realidade.

- Tudo bem? - Eu pergunto preocupada. Os olhos dele encontram dificuldade em focar em mim.

- Mais ou menos, não consigo ler uma palavra. - Ele disse soltando pesado sua respiração. - E você?

Saber que a visão dele estava tão ruim tão cedo me deixou apreensiva, mas eu me mantive calma. Ele precisava de mim forte por ele.

- Bem melhor agora. - Eu disse apertando sua mão. Eu precisava na verdade de envolvê-lo por inteiro, mas, por agora, segurar sua mão seria suficiente. - Eu tive um sonho ruim... Mas agora estou bem.

- Quer falar sobre o sonho?

- Na verdade não... Eu nem me lembro realmente como foi, só sei que acordei com muito medo e precisava te ver... Posso ler para você?

- Eu adoraria.

Eu li para ele e depois conversamos um pouco sobre o texto, até sua mãe nos chamar para dentro.

Quando chegamos, Daniel estava hesitante em seus movimentos e eu comentei que precisávamos pegar novos óculos.

Então veio mais uma bomba.

Tia Rebecca disse que óculos não seriam de grande ajuda e que muito provavelmente o tempo de Daniel ter sua visão é bem menor do que pensávamos.

Ao ouvir isso, senti meu coração cair. Não importa para mim que ele seja cego, surdo ou o que for, mesmo se ele estivesse em coma eu ainda o amaria e não iria desejá-lo menos. Mas o medo dele e a consciência de tudo que ele vai sofrer fazem minha barriga gelar e eu me sentir doente.

- M-mas ele disse que eu ainda teria alguns meses... - Ele disse nervosamente e eu senti meu coração tremer.

- Para tudo ir embora... - Tia Rebecca disse com a voz cheia de dor deixando algumas lágrimas escorrerem sobre seu rosto. - Não só a definição ou as imagens, mas toda luz... Meu amor... Me desculpe...

Ele parecia desolado. Eu queria poder dar meus olhos para ele, mas isso, por enquanto, ainda é impossível.

Mas eu sei que eu posso fazer outra coisa por ele. Eu posso colocar meu olhos a serviço dele.

- Então acho que já vamos começar esse negocio de eu ser seus olhos... - Eu disse sentando em seu colo. Eu sei que o tremor em minha voz é facilmente percebido, mas eu estou tentando o meu melhor. - Sorte nossa que não existe nada que eu ame mais do que ficar com você e que você me suporta bem apesar de todas as minhas... excentricidades...

- Não... - Ele disse virando o rosto para longe. - Você não pode gastar sua vida comigo... eu não sou mais uma pessoa normal...

Com essas palavras ele conseguiu o que a vida estava tentando já faz alguns dias. Ele quebrou meu coração.

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