Sempre sua

Elisabeth POV

Fui para a cozinha e encontrei Matthew sentado em uma das cadeiras. Eu não me sinto confortável sozinha com um homem qualquer, mas Matthew não é um homem qualquer. Ele é como um pai para mim. Desde que eu era pequena muitas vezes ele ficou cuidando de nós e somos bem próximos, a presença um do outro não era nada estranha para nenhum de nos, ainda que em uma situação como essa.

- Olá princesinha. - Ele me cumprimentou.

- Olá tio Matt.

- Você está bem?

- Um pouco cansada, mas bem.

- Sim. Minha menininha teve um dia de adulta.

- Nem tanto... E de qualquer forma já estou acostumada.

- Eu sei. - Ele disse puxando uma cadeira para perto dele. Eu me sentei e apoiei a cabeça nos ombros dele. - Como foi com Daniel e a notícia da cegueira?

- Ruim. Muito ruim. - Eu me permiti dizer pela primeira vez no dia. - Isso é terrível e eu estou com muito medo.

- Eu sei. - Ele disse envolvendo meus ombros com seus braços.

- Mas ainda assim foi bom. Ele não corre risco de vida. E vamos conseguir passar por isso. Mas dói tanto tio Matt... Não por mim. Eu não me importo em ajudar ele e não me importo com o que digam de mim. Mas me dói por ele, porque ele vai perder tantas coisas! Ele não vai mais poder me ver, nem ver você e tia Rebeca, ou meus irmãos, nossos filhos... Nada! E eu o amo tanto. Eu daria minha visão para ele agora mesmo. Eu amo tanto ele tio Matt... - Eu disse chorando.

- Eu sei princesa. Eu também. - Eu ouvi a voz dele quebrar em um choro contido. - Ele é meu filho. Ele é tão jovem e agora vai depender das pessoas o resto da vida. Eu daria qualquer coisa para que ele não passasse por isso e vou gastar o quanto for preciso para tentar recuperar a visão dele. Mas o médico disse que as chances são quase nulas, porque o problema não está nas córneas dele, mas é uma atrofia irreversível dos nervos que conduzem a energia da luz captada para o cérebro.

- Eu lembro de estudar isso. Ainda não perdi todas as minhas esperanças, mas não quero nem pensar em nada que possa colocar a vida dele em risco. Não importa se ele nunca mais enxergar desde que ele esteja vivo e saudável.

- Você está certa. Nada vale a vida dele.

- Eu amo tanto ele tio Matt, eu vou estar do lado dele sempre! Eu preciso dele comigo, desde sempre. Desde o momento em que eu o conheci até o dia da minha morte, eu vou amar ele, e então por toda a eternidade.

- Isso me deixa tão feliz princesa! O tempo todo você esteve sempre com ele. Até quando nós não estivemos.

- E sempre vou estar. Nada pode mudar o que sinto por ele. Ele vai ser sempre o mesmo, porque as pessoas não mudam realmente, não é? Nós continuamos sempre nós mesmos e a única coisa que muda é a forma que nosso eu interpreta e interage com o mundo. E eu amo ele, o eu verdadeiro dele, que é sempre o mesmo até se todo o resto mudar.

- Você sempre fala coisas assim... Tão inteligente minha princesa...

- Não sou inteligente tio Matthew, é você quem gosta de mim e acha que tudo que eu falo é bonito.

- Eu amo você Elisa, e é verdade que tudo que você fala eu vou achar lindo. Mas isso não é a mesma coisa de eu te achar inteligente. Eu amo sua tia Rebeca, mas não acho que ela seja inteligente como você...

- Eu também amo você tio Matt... Mas não seja injusto! Tia Rebeca é muito mais inteligente que eu. Ela sabe de tudo enquanto eu mal posso entender o processo de mitose...