Capítulo 01

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- Abra os olhos!

Camila ouvia uma voz longe, que repetia sempre a mesma coisa:

- Abra os olhos!

E então ela abriu. Olhou ao redor confusa, tentando entender o que havia acontecido e onde estava. Tudo em volta era muito claro e podia identificar um forte cheiro de limpeza. Claro! O acidente que havia sofrido. Só podia se lembrar do ônibus descendo a ladeira, indo direção à água. Naquele momento teve a certeza de que morreria. Não tinha como escapar, a água entrando, escura, barrenta, os gritos das pessoas.

Ao ver a expressão de confusão no rosto da jovem a enfermeira Mary se prontificou a explicar-lhe:

- Calma menina! Vai ficar tudo bem. Confie em mim. Sei que não será fácil, mas devo dizer que a senhorita é uma mocinha de muita, muita sorte mesmo! Se a senhora Lauren Jauregui não tivesse se...

- Enfermeira Mary! - interrompeu num tom de irritação o Dr. Rossell - A menina deve estar cansada e deve descansar. Durma senhorita Camila. - agora docemente - amanhã sua família virá vê-la. Em poucos dias voltará para casa. Enfermeira Mary, por favor, aplique a medicação na senhorita para que venha a ter sonhos tranquilos.

Pouco tempo depois Camila adormecia cheia de questões na cabeça, mas no momento sentia-se cansada e fraca demais para poder lutar contra o sono. Sentia-se esquisita, mas nada importava mais. Estava num lindo campo cheio de flores.

Em Vênus um dispositivo de pulso soava um toque estridente. Uma voz feminina, forte e sensual atendeu:

- Alô? 

- Bom dia senhora Lauren Jauregui! É do Centro de Criogenia El Dourado. Dr. Rossell falando, tenho ótimas notícias!

- Ela... Ela... 

- Sim! Ela acordou! 

- Que maravilha! Não posso me conter de tanta felicidade! Preciso... Vou... Mas como aconteceu tão rápido?

- Parece que sua menina tem mais sorte que os outros!

- Dr. Rossell, você sabe que estou em uma missão em Vênus. Não poderei voltar em pelo menos dois meses, mais alguns dias para que eu chegue até a Terra. Receba a família Brooke em seu Centro. Já está advertido que essa família ficará responsável pelo cuidado e educação de Camila até que eu possa voltar para a Terra.

- Sim senhora, já estamos sabendo. Mas eu não quis notificar a família sem ligar pra senhora antes.

- Fez bem Doutor, mas permita que eu mesma ligue e as dê a notícia.

Na Terra outro som estridente soava, vinha de uma sala ampla, uma imagem apareceu, era a senhora Lauren Jauregui que pedia atenção para ser atendida.

- Alô, Lauren! Que prazer! 

- Oi Marília! Tenho uma surpresa! Camila acordou!

- Oh! Não acredito! Minha filha acordou!

- Hahahahaha - Lauren ria com gosto - Filha? Não me faça rir Marília! Hahahahaha... Camila poderia ter sido sua... tatatatataravó! Hahahahaha...

- Sim, poderia, mas não foi! Coitadinha, nem ao menos teve tempo para isso. Morrer de uma forma tão trágica aos 19 anos é muito triste. E é minha única ancestral viva! Já sabe que a mimarei como as minhas filhas!

- Sim eu sei, e é exatamente por isso que confio a você a custódia dela... Até a minha volta. 

- Pode confiar. Será como combinado. Cuidarei, porém vigiarei, não deixarei que ela se envolva com ninguém. Ela será tão virgem daqui a dois meses como a ficha dela disse que é agora!

- Assim espero. Escute Marília, preciso que vá ficar com ela agora. 

- Mas nem precisava falar. As meninas estavam mesmo ansiosas para poder enfim conversar com alguém vinda de dois mil anos atrás!

No dia seguinte ao acordar, Camila olha ao redor e estuda mais atentamente a decoração do quarto do suposto hospital em que ocupa. Tudo de repente lhe parece um tanto quanto diferente de tudo que já tinha visto antes. Que estranho! Parece mais um cenário de filme futurista.

- Oi! Posso entrar? - Camila olha em direção a voz, era uma mulher com seus 45 anos, muito bonita, alta com olhos e cabelos castanhos que está toda sorridente em pé perto da porta

- Pode. Quem procura, Senhora?

- Já a encontrei! Como está se sentindo Camila? - disse a mulher entregando-lhe um embrulho colorido - Tomei a liberdade de lhe trazer um presente. Espero que goste!

- Desculpe senhora, mas lhe conheço? É alguma repórter querendo informações do acidente?

- Ah... É... Não! Não é nada disso minha filha. Oh, nunca pensei que seria tão difícil. Mas vamos lá: Vou apresentar-me. Meu nome é Marília, sou sua parenta, de certa forma. E vim aqui para cuidar de você. 

- Mas e a minha mãe?

- Ah... Camila - disse sentando-se na cama perto da jovem - Tem uma coisa que preciso te contar, é algo extremante difícil de entender e você precisará ser forte.

- Que conversa é essa?

- Você sofreu um acidente no ano de 2006, e estamos agora no ano de 4047.

- Hein?

- Infelizmente o seu corpo não suportou os ferimentos que sofreu com a queda do ônibus. Além de seus pulmões terem enchido de água. E você veio a falecer.

Naquele momento não se podia dizer ao certo se Camila ouvia, ou se estava assimilando as palavras da senhora Marília. Mas algo na expressão da aquela mulher lhe dizia que cada palavra era verdadeira.

- Morte? Estou morta? Ah meu deus! Morta? Se estou morta por que.. Criogenia! Oh por favor, me diga que é isso!

- Sim, é isso mesmo. Você deve lembrar-se que sua família te inscreveu num centro de criogenia, na esperança de que algum dia, após sua morte, você pudesse ser trazida de volta à vida. E esse dia chegou.

- Isso explica muita coisa. Esse lugar... Como me sinto e... Suas roupas...

- Hahahahaha... Sabe menina, acho que vamos nos dar muito bem!

- E... Como será agora?

- Será da seguinte forma: você vai ser a minha filha mais velha. Hoje mesmo conhecerá suas novas irmãs Ally e Lucy. Ally tem 17 anos e Lucy tem 15. Tenho certeza que se darão muito bem.

- E porque faz isso por mim? Sei que meus pais deixaram um fundo de investimento aplicado em ações e terras em meu nome. E com todo esse tempo rendendo devo estar multimilionária agora. 

- Sim, e como combinado esse dinheiro foi transformado em diner, nossa moeda corrente. Está e continuará numa conta em seu nome. Mas não se preocupe, não precisará usá-lo. Terá tudo em nossa residência, que agora também é sua. A menos, é claro, que queira. 

- Sim, mas ainda não me disse por que faz isso por mim.

- Porque você poderia ter sido minha... Tatatatatataravó! Hahahahaha...

- Poderia?

- Sim, poderia, mas infelizmente... Já sabe. Então, me sinto responsável por recebê-la e tratar de introduzir-te nesse novo mundo para você. E acredite, precisara de toda a ajuda possível! Está muito diferente do que era há dois mil anos!

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