O ressoar da meia noite

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Alma perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
(Florbela Espanca ~ 1894-1930)

No epílogo da morte, estudos afirmam que revivemos fatos memoráveis de nossa vida em fleches constantes e cabalísticos, que nos fazem refletir sobre nossos momentos egrégios, promíscuos e etéreos

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No epílogo da morte, estudos afirmam que revivemos fatos memoráveis de nossa vida em fleches constantes e cabalísticos, que nos fazem refletir sobre nossos momentos egrégios, promíscuos e etéreos. A minha existência não foi muito grandiosa, mas a intensidade da repercussão de meus pensamentos fez tudo valer a pena.

Nunca pensei que partiria desse jeito, mas acho que morrer sorrindo e abraçar o Senhor da Morte é a melhor forma de sair deste mundo sujo e nojento. O beijo da morte é doce, revigorante e prazenteiro; a hora de chamar o anjo das trevas principia, já consigo ver o reflexo de suas asas cinzentas almejando minha alma, para alçar voo de volta ao seu altar, nas sombras do seu reino de breu eterno.

A arma continuava em minha cabeça e o sorriso maquiavélico do homem permanecia em sua boca. Seus olhos iluminados pela maldade, espreitavam minhas emoções e meu medo mortífero. Porém, não propiciaria esse gostinho a ele, conservei-me estável, inerte e sem emoção. As suas feições eram fortes, másculas e perfeccionistas.

— Não vou te matar agora! Aproveite sua vida da melhor forma possível, pois não terá muitos dias mais. Isso só foi um aviso! — ele riu.

— Seu babaca! Por que fez isso? Quem é você?

— Ops! Shiiiiu! — ele colocou um dedo em frente aos lábios, fazendo sinal para eu ficar quieto. — Abusadinho você, hein! Muito corajoso para quem tem uma metralhadora na testa. Posso estourar seus miolos com um disparo. Sou somente um admirador? Ou um amigo? Ou um demônio? Ou um bandido? Não sei... E mesmo que soubesse não contaria. Adeus! Ah! Deem um enterro majestoso para todos esses mortos, porque eles merecem ter uma viagem decente.

Ele saiu correndo da sala e me deixou sozinho. Levantei e olhei em volta, quando vi somente quatro pessoas vivas; Gabriel, Thor, a professora e Brandon. Todos ficaram imóveis, apavorados e resgatando os últimos momentos para tentar compreender o que havia acontecido. Tudo foi tão lépido e vertiginoso! O eco de uma sirene foi acionado e uma voz anunciou um recado nos rádios da faculdade.

— Trancamos todas as portas! O assassino se revele, pois você somente sairá desta faculdade preso. A polícia já está em nossos corredores, você nunca conseguirá fugir. Todos os alunos dirijam-se para biblioteca. O estudante que estiver nos corredores será expulso por desobediência. As ambulâncias prestarão os primeiros socorros a todos e faremos um velório para os nossos entes queridos.

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