A primeira vida de Matthew Knight

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Lirismo qualificado em panteões bucólicos que a luz roubou de minha alma

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Lirismo qualificado em panteões bucólicos que a luz roubou de minha alma. Os demônios me visitaram esta noite, em uma entorpecida névoa sedenta de felicidade, e roubaram a única semântica que trazia paz à minha existência. O que sem poesia agora farei eu, mero paladino efêmero? Vago por essa vida em um triste sarcasmo de esperança, que me agraciou com uma desprezível credulidade, uma fé torpe e sórdida.

Gélida face de um infernal destino, o que dirias Lúcifer agora? Traria-me um café quente e conversaríamos sobre tristezas umbratícas e romanescas? Destroçaria a remanescente fidúcia que ainda tenho pelo mundo? Ou atormentaria com propostas ínfimas meu espírito mimético? Enfim, prostrado, esperarei a morte e permanecerei acreditando em meus tempestuosos pensamentos furtivos.

Acordei com uma entorpecida dor de cabeça. Levantei, olhei em volta e não vi sinal de vida próspera. Comecei a rememorar meus últimos dias e alguns lances de memória permearam minha osmose contínua. Lembrei que Leon havia sido preso, sendo minha última lembrança fria de um tempo hórrido e disforme. Ouvi barulhos de chave e vi Toddy adentrar meu recinto paradisíaco particular.

— Como vai, mano? — perguntou ele.

— O que aconteceu? — coloquei minhas mãos no alto da cabeça e olhei para ele.

— Está tudo bem! Você já está em casa.

— Toddy, estou perguntando o que houve. Que estou em casa eu sei, né! — fiz um semblante de indiferença.

— Calma! Você desmaiou e trouxeram-te para cá. — explicou ele.

— Sério?! Quantas horas eu dormi? — questionei.

— Você dormiu por cinco dias.

— Oi?! Você só pode estar brincando! E Leon? E os sobreviventes? Os mortos? As aulas?

— O prefeito estava esperando você acordar para realizar o velório. Os sobreviventes foram analisados, receberam cuidados e já estão em suas residências. Leon ainda está preso sob custódia, até o dia do julgamento. E as aulas ficarão de recesso, pelo menos, por um mês. — respondeu.

— Eu preciso ficar sozinho. Importa-se? Quero pensar sobre todas essas intempéries.

— Tudo bem! Qualquer coisa, estarei aqui. — murmurou ele.

— Obrigado, mano! Te amo muito!

— Também te amo! — replicou.

As memórias fervilhavam em minha psique, comecei a relembrar palavras e acontecimentos. Aquele sonho da morte de Leon foi muito real, então começarei a levar o conselho do monstro em consideração.

— "Olhe no seu vale de segredos." — O que isto quer dizer?

Observei uma borboleta dançando em meio às frestas do portal enigmático, com lindas asas refletindo a paz de sua breve existência. Em seguida, um lampejo de sobriedade iluminou minha mente.

— Meu diário! Isto é o meu vale de segredos. Ele foi roubado e voltou com várias modificações. Tinha me esquecido! — pensei.

Corri até minha escrivaninha, peguei o caderno esfarrapado e liguei o notebook.

As páginas daquele diário proporcionavam um cabedal de recordações perturbadoras, reais e instáveis. As folhas arrancadas foram substituídas por letras dantescas e palavras reveladoras e a escrita era antiga e rebuscada, com termos de um latim marcante. A leitura era difícil, transformadora e dilacerante, sendo muito complicado permanecer focado em todo o percurso daquele caminho tortuoso.

As marcações relatavam a história de um menino, descendente de Tituba, uma índia que aprendeu a arte da quiromancia com sua tribo e foi queimada na fogueira em 1692, por declarar seu amor à bruxaria. O garoto nasceu em 3 de março de 1760, em Massachussets; filho de Doroty, neta de Tituba, e Ray Lancaster, um bruxo americano. Sua infância foi maravilhosa, mas sua vida sofreu reviravoltas estarrecedoras quando começou a desenvolver seus poderes. Os aprendizados precisavam ser meticulosos, porque a Inquisição ainda matava bruxos nos Estados Unidos, principalmente naquela região.

A adolescência dele foi tranquila, trabalhava pela manhã, estudava febrilmente durante a tarde e lia muitos livros no período da noite, a arte que ele adorava. No entanto, as próximas linhas principiavam um relato horrendo sobre os últimos momentos deste menino, quando sua família inteira foi descoberta, presa e queimada em praça pública por inquisidores puritanos, em 1777. O corpo do jovem descansa agora em um túmulo feito em homenagem à sua bravura e bondade, recebendo milhões de visitantes do mundo inteiro. Na última página do diário, com uma linguagem vulgar e rude, havia uma única frase: "A primeira vida de Matthew Knight".

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