Momentos

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Com o retorno de Phillip a fazenda Mackenzie as coisas ficaram um pouco tensas. O pai deles, que Alexandra nunca vira em 1 mês trabalhando ali, agora estava em todos os lugares. Sempre reclamando e esbravejando por qualquer coisa. Nada o deixava satisfeito, nada estava bom. Em consequência, ela sentia John tenso e sempre preocupado. E com o intuito de alivar um pouco a tensão dele, convidou-o para um almoço ao ar livre, dessa vez no precipício onde ele havia mostrado o pôr-do-sol a ela, ali tornou-se o lugar preferido deles, onde podiam falar sobre qualquer coisa, onde eram livres, onde ela não era uma nômade e ele o filho do patrão. Eram apenas John e Alexandra, eram apenas duas pessoas que estavam se descobrindo.
Eles estavam deitados na grama após o almoço, e olhavam para o céu, observando as nuvens e adivinhando suas formas estranhas.
- Acho que era um pássaro - Alexandra apontava uma nuvem que ia ao norte.
- Pois para mim parece mais um dragão. - John replicava divertido.
A alegação era tão absuda que fez Alexandra levantar e apoiando-se no cotovelo, encarava John como se ele estivesse louco, a seriedade sumiu em segundos quando ele explodiu em uma sonora gargalhada. Ao perceber que ele estava zombando dela, Alexandra sentou-se fazendo um bico indignado, dando as costas para John.
Ele engatinhou até ela e a abraçou, passando o nariz nos cabelos dela, que a pedido dele, hoje estavam soltos, e com algumas folhas presas nele.
- Você fica ainda mais Encantadora brava. - ele começou a tirar algumas folhas do cabelo dela.
- Sei. - ela tentava se manter séria, mas era impossível quando ele a tocava desse jeito.
John afastou os cabelos dela, e passou o nariz em sua nuca, causando arrepios por todo o corpo dela. Era uma tortura, ela já não suportava o fato de estarem tão perto, e ao mesmo tempo afastados pelo que eram. Ela uma nômade, ele um Pepi. Um amor impossível, que mesmo não tendo sido declarado com todas as palavras, estava ali, em cada toque, cada palavra, cada olhar. John era muito sério e a respeitava mais que qualquer coisa, assim, restringiam-se a pequenas e inocentes carícias. Isso por si já estava enlouquecendo a ambos.
Nos últimos dias Alexandra teve vários embates com Zenon, queria acabar com aquele compromisso absurdo a qualquer custo, mas ele se mantinha obstinado, dizia que casariam-se por bem, ou por mal. Alexandra descobriu que Zenon era mais destemido do que ela pensava, o que começava a ser não só inconveniente, como irrirante. Para piorar a situação, ele começou a desconfiar dos motivos dela querer romper o compromisso, e a estava seguindo na ida e na volta do trabalho. Como ainda não havia contado a John nada sobre Zenon, e este compromisso, limitou-se a dizer que era melhor John não acompanha-la pra casa, pois os membros do clã estavam comentando e ela teria problemas. Estava completamente absorta nesses pensamentos quando John começou a falar.
- Há muito tempo não fazia isso.
- O que? Zombar de mim? - ela alfinetou arrancando uma risada dele. Mas dessa vez ele não parecia tão divertido, o que chamou sua atenção, fazendo ela se virar.
- O que foi? - o encarou com olhar preocupado, tocando seu rosto em uma doce e terna caricia. A barba dele já começava a espetar fazendo um sombreado no rosto.
John suspirou cansado e com um triste olhar.
- Olhar as nuvens! Sempre fazia isso com minha mãe - seu semblante decaiu ao lembrar-se dela.
- Você nunca fala dela. Eu gostaria muito de ouvir sobre ela, mas só quando estiver pronto para dividir isso comigo.
Ele inclinou a cabeça na mão que o acariciava, com um sorriso triste, ele segurou a mão de Alexandra, a beijou e colocou em seu peito, fazendo Alexandra estremecer com o calor que emanava dele. Ela fechou os olhos suspirando, e ele a trouxe para perto com um abraço, recostou seu queixo no topo da cabeça dela, e acariciando seus cabelos começou
- Ela era sem dúvida a pessoa mais maravilhosa que existiu, e neste ponto entendo porque meu pai nunca superou sua perda. Mas existem muitas maneiras de se lidar com a dor, e afastar seus filhos de 7 e 11 anos certamente não é a melhor maneira.
Ele parecia bravo, mas ao mesmo tempo cansado. Todos aqueles anos, só restava a dor e o ressentimento entre ele e seu pai.
- E como ela era?
- Muito parecida com você. - ele sorriu ao se lembrar da mãe treinado os cavalos, usando o gaelico para adestra-los, parecia encanta-los com o som da sua voz.
A ideia de ser parecida com a mãe dele a espantou, afinal, não apenas uma vez ouviu dizer que a mãe dele era tão loira que seus cabelos rivalizavam com os raios de sol, que sua beleza etérea faziam muitos pensarem que se tratava de uma fada, uma ninfa da floresta e não uma pessoa de verdade. Apoiando-se em uma das mãos saiu do abraço dele e o encarou de maneira séptica.
- Não fisicamente Encantadora. - ele ria divertido diante do olhar dela, que voltou para os braços dele, que a apertou ainda mais.
- Ela era uma encantadora também. Tinha o dom, e todos a adoravam. Era incrivelmente doce e carinhosa, além de linda como um dia de sol.
- E como pode dizer que sou parecida com um anjo desses, quando sabe a peste que sou?
Ele riu com gosto, fazendo todo o corpo tremer, pois a afirmação dela estava bem perto da verdade. Com seu gênio e personalidade forte, ela estava tornando a pacata vida de Finn um tormento.
Alexandra ficou feliz de arranca-lo um pouco daquela tristeza, que a lembrança causava.
Mais uma vez ela se apoiou em uma das mãos e o olhava sorridente. Ele colocou seu cabelo atrás da orelha e beijou terna e demoradamente sua bochecha, absorvendo seu perfume, e causando um estremecimento em ambos. A cada dia era mais difícil resistir, mas ele não queria ter uma atitude precipitada da qual ela se arrependeria. Afastando um pouco o rosto e olhando-a nos olhos, ele começou a acariciar sua bochecha outra vez com o polegar.
- Você é tão linda quanto uma noite sem estrelas, onde só podemos ver a lua.
- Isso soa assustador. - lançou um olhar de incredulidade, fazendo ele dar um sorriso quente e torto.
- Apenas para os covardes! O mistério de uma noite sem estrelas é sem igual, você pensa que está sozinho no mundo, que está perdido e nunca encontrará o caminho de volta, daí a lua aparece iluminando apenas a pessoa perdida, mostrando a ela o caminho a seguir, sendo seu farol na escuridão. E seus olhos minha Encantadora, são como duas luas cheias, me guiando e me tirando da escuridão. - ela fechou os olhos em expectativa, e ele também. Seus narizes se tocavam e suas respirações dançavam uma valsa, lenta e apaixonada.
Porém o agudo som de uma águia os tirou daquele transe, se afastaram respirando fundo, completamente frustrados com esse interrupção. Levantaram e voltaram para a fazenda, assim que John passou pelos portões Alexandra teve a mais absurda das ideias.
- Gostaria de ver um casamento no meu clã?
- E é permitido? - arqueou uma sobrancelha em um misto de excitação e receio.
- Permitido não é. Mas podemos dar um jeito.- lançou um olhar de cumplicidade conspiratória, que ele adorou.

Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora