O filho do patrão

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John Willian Mackenzie, era o tipo de jovem que todas as mães queriam ou como filho, ou como genro. O jovem era educado, e gentil apesar de ser calado, e vinha de uma boa família. Enquanto seu pai era conhecido em toda a região como um homem intratável e amargo, sendo evitado até mesmo pelo empregados mais próximos e mais antigos, John era adorado por todos.
Assim que concluiu o colegial, foi para a faculdade de agronomia, sua intensão era concluir o ensino e juntamente com seu irmão mais velho Phillip, elevar os padrões agrícolas da fazenda de sua família.

Mesmo sendo um jovem tranquilo e gentil, John carregava na alma uma dor que nada o fazia superar.
Quando tinha 7 anos, sua mãe morreu no parto, juntamente com sua irmã caçula. Annie era uma boa esposa, mãe zelosa, competente artesã, adestradora, e meiga patroa. Sua morte prematura desestruturou a família, que tanto a adorava. Foi como um efeito dominó, seu marido, antes gentil e sorridente, transformou-se em uma criatura infeliz, incapaz sorrir outra vez, e não sendo o tipo de homem que definha de tristeza em uma cama, transformou-se no extremo oposto do que fora um dia. Rígido em suas decisões, e duro em suas ações. Seus filhos foram os primeiros atingidos por esta nova personalidade. O pai que antes jamais levantara a voz, agora os ameaçava com cinto e varas.
Phillip, o mais velho, tinha 11 anos quando esta tragédia atingiu a família, e fez tudo o que pode para ajudar e proteger seu irmão, que era apenas um menino assustado e perdido sem a mãe. Assim, ele sempre cuidava para que John cruzasse o mínimo possível o caminho de seu pai. Ele o ensinou a andar de bicicleta, a ler, escrever e somar. No devido tempo o ensinou as artes da sedução e do namoro. Apesar de grandes amigos e companheiros, eram extremamente diferentes. Phillip era loiro e tinha olhos da cor do céu em um dia de verão, um sorriso fácil, e um jeito sedutor. Já John era moreno, cabelos negros como a noite, com tendência a cachear, olhos de um azul muito escuro, quase cinza, e diferente de seu irmão que era um galinha, John era reservado. Havia namorado e conhecido muitas mulheres, principalmente na faculdade, mas nenhuma de fato atingiu seu coração, pois era na verdade um romântico.
Um ano antes de morrer, sua mãe lhe deu de presente uma égua puro sangue, ela ainda era um filhote quando chegou a fazenda dos Mackenzie, mas ele enlouqueceu quando a viu, pois desde que montara pela primeira vez um pônei, apaixonou-se pela montaria. Sua mãe, que era uma romântica incurável, lhe disse ao presenteá-lo:

- Com este, te torno um cavaleiro! E um dia salvaras uma bela donzela, de um destino cruel, montado em seu cavalo.
Ela sorriu com gosto ou ouvir seu filho resmungar um "eca". Porém, aquelas palavras permaneciam na mente de John.

Breeze era o que tinha lhe sobrado da mãe, e por nada no mundo seria capaz de lhe colocar em risco. Durante um período competiu com ela, porém, depois de um pequeno acidente, preferiu poupa-la, e isso acabou se tornando sua obsessão. Não a deixava competir, não queria que ela desse cria, evitava tudo e qualquer coisa que colocasse em risco sua égua. Por isso recebeu com uma fúria incontida a notícia de que ela estava prenha.

Quando Alexandra apareceu se oferecendo para ajudar, ele estava preocupado demais para questionar, na verdade ele viu tanta confiança no olhar da menina que ele simplesmente pensou que ela era uma enviada dos céus para tira-lo da aflição.
Depois de ver tantos partos de animais de grande porte, John sabia exatamente como conduzir aquele, e tudo o que precisava era de alguém que não tivesse medo de sua arisca égua para que ele e Finn pudessem acabar com o sofrimento dela.

Assim que Alexandra começou a cantar, ele percebeu que ela era diferente, era mais que alguém que simplesmente ajudava no trato com animais, ela tinha um dom.
Passado o susto, e estando tudo calmo, foi conversar com Finn assim que se lavou.

- Quem é esta menina Finn?

- Uma espécie de cigana, estava procurando trabalho, eu precisava de ajuda extra nos estábulos.

- Sim, mas não acredito que você a contratou apenas por isso. Sei que normalmente você prefere trabalhar com homens.

- Ok! A garota me impressionou, mas eu não sabia que ela era uma encantadora, desconfiava, mas não tinha certeza, afinal de contas até hoje só conheci duas, a filha dos Gibbons e a ...
Calou-se ao perceber que falava demais, porém já era tarde.

- Minha mãe... – ele baixou a cabeça e respirou fundo. Mesmo tendo passado 15 anos, ainda era difícil falar disso, mesmo com alguém que sempre fora como um pai pra ele. – Bem, e o que ela fez para te impressionar tanto? - desviou o foco da conversa para aliviar a dor.

- Montou Pégasus!

John o olhava incrédulo, boquiaberto e assustado com a informação.

- Você enlouqueceu Finn?! Deixar uma menina montar Pégasus? Ele poderia tê-la matado!

Finn apenas sorriu com a presunção de alguém acostumado a selecionar os melhores funcionários para a fazenda. 

- Não fui eu quem pediu. George perdeu o controle, ela simplesmente acalmou o cavalo e o montou, como se ele fosse a velha Torrão de Açúcar.

- Por Deus Finn! E só hoje você se deu conta de que ela era uma encantadora?  Você definitivamente está ficando velho.
Saiu gargalhando, deixando Finn furioso.

Ao chegar em seu quarto e pensar nos acontecimentos do dia, e as informações que Finn lhe passou, ficou ainda mais curioso sobre a menina. É verdade que sua égua era temperamental e arisca, mas nada se comparava a Pégasus, o animal era o verdadeiro demônio, e ninguém, absolutamente ninguém além dele e de Finn era capaz de controla-lo. Até mesmo Phillip, que era habilidoso com os cavalos, se mantinha a distância. E esta menina, com algumas palavras, foi capaz não só de acalma-lo, como de monta-lo. Isso o fez se lembrar de quando era apenas um menino e tinha caído ao montar pela primeira vez.

- Querido não chore! – sua mãe o consolava. - Veja, tudo o que tem de fazer é olhar nos olhos do animal, passe a ele segurança, mostre que sabe o que está fazendo e que se importa com ele. Ele precisa saber que pode confiar em você.

E para mostrar a ele o que dizia, foi ao estábulo e voltou montando a égua preferida de seu pai, que podia ser tão mortal quanto Pégasus.
- Viu querido! – ela disse sorrindo, enquanto conduzia a égua com destreza em um suave galope.

A partir daquele dia, se esforçou para ser não bom adestrador quanto sua mãe, mesmo sendo impossível alcançar seu nível, uma vez que ela era uma Encantadora, e isso estava acima de qualquer ciência ou treinamento.

Depois de tomar um banho e comer um sanduíche, decidiu que queria conhecer um pouco mais aquela menina, além de agradecer sua preciosa ajuda.

Foi surpreendente como a conversa fluía fácil com ela. Era uma menina educada e gentil, mas podia perceber que por baixo aquela educação existia um gênio esfuziante. A mera comparação de seu povo aos ciganos, fez com que ela revelasse seu orgulho étnico, e ao que parecia certa desavença entre seu povo e os ciganos. Porém, se sentiu como há muito não se sentia, estava confortável e a vontade falando um pouco de sua vida para ela, a medida que ela falava um pouco da sua para ele. E quando ela desceu do carro, uma estranha sensação de melancolia tomou conta dele, o que era uma loucura, mal conhecia aquela menina, mas ela despertou nele um interesse incomum, e um desejo de saber mais sobre ela. Assim, decidiu que o que sentia era mera curiosidade, e que o fato de há muito não ter uma companhia tão divertida e sincera, o tornava ainda mais suscetível aos seus encantos.

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Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora