Um coração, duas paixões

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Quando chegou ao acampamento com o enorme curativo na cabeça, sua mãe veio correndo em sua direção gritando feito louca. Todos que estavam naquele momento ali, saíram de suas tendas e trailers e foram ver o que se passava. Alexandra revirou os olhos em protesto quando sua mãe começou a puxa-la como uma inválida.
- Por Deus! Estou bem mamá.
Ao ver de longe toda a comoção, Zenon, que voltava de seu trabalho no vilarejo começou a correr, e quando viu o ferimento de Alexandra, afastou a todos e sem qualquer conversa pegou ela no colo como se ela não pesasse mais que a folha de uma árvore e  foi para a tenda dela.
Sua atitude causou espanto e suspiros. Enquanto as mais românticas e amigas de Alexandra diziam o quanto aquilo foi lindo, e que eles faziam um lindo casal, as invejosas criticavam, e repetiam que ele era muito pra ela.
Assim que entraram na tenda, a mãe de Alexandra ajeitou as almofadas de sua cama, e Zenon a acomodou confortavelmente.
- O que aconteceu Nina? - sua mãe continuava com um olhar de desespero, deixando Alexandra um pouco impaciente. Ao perceber isso, Zenon se aproximou da tia, colocando a mão em seu ombro.
- Tia, o importante é que ela está bem. Dê algo para ela comer e conversamos com calma.
A mãe de Alexandra foi preparar um suco, enquanto Zenon conversava com ela.
Alexandra contou tudo a ele, e em seguida para seus pais, omitindo apenas o fato de que sabia quem tinha afrouxado a cela. Assim que o clima se acalmou, os pai de Alexandra deixaram ela e Zenon sozinhos um momento. Ele pegou na mão dela, fazendo com que ela o olhasse nos olhos.
- O que é que você não está contando?
Ela o encarou de maneira inquisitiva.
- Alexandra, sei muito bem que esse tipo de erro não é típico seu. Você é atenta demais aos detalhes para deixar passar isso.
Esse reconhecimento de suas habilidades a pegou de surpresa, fazendo-a sorrir. Porém se lembrou imediatamente que Zenon vinha evitando ela nos últimos dias.
- Bom, parece que me distrai. - ela disse um tanto irritada, tirando a mão dele da sua.
- Ta brava por que?
- De onde tirou que estou brava?
- Ora essa! Convivo com mulheres demais neste acampamento para saber. - ele disse arqueando uma sobrancelha e dando um tímido sorriso.
- Bem, acho que não gosto de ser ignorada.
Ah sim! Ela sentiu sua falta. Esta afirmação fez o sorriso dele se alargar. Ele se aproximou acariciando sua bochecha com a enorme mão. Ela por sua vez, seguiu como uma menininha fazendo birra e virou o rosto. Ele olho para a divisoria da tenda e viu que seus tios não estavam por perto, então se aproximou ainda mais e sussurrou no ouvido dela
- Também senti sua falta mom xouen *
Ela se virou e deparou-se com ele, muito, muito perto. Eles ficaram um tempo sentido a respiração um do outro, seus corações batiam tão forte que era impossível não escutar, e se olhavam de forma doce. Então ele suavemente a beijou, e ela correspondeu querendo mais, entrelaçou seus dedos no cabelo dele, fazendo Zenon suspirar, então quando ele ia aprofundar o beijo...
- amigaaaa! - Esmeralda entrou correndo na tenda, gritando desesperada, mas paralisou boquiaberta ao ver um Zenon completamente sem jeito levantar num pulo, começando a passar a mão no cabelo e olhando para os lados. 
- E-eu já vou. Com licença -  ele passou praticamente correndo por Esmeralda.
Ela olhava incrédula para a amiga, que estava carmesim.
- Trabik!* - ela se aproximou da amiga sorrindo. - Por que não me contou?
- Não tive tempo. - Alexandra olhava para todos os lados, evitando o olhar da amiga.
- Não teve tempo? Não seja sonsa Nina! - Ela sentou ao lado da amiga sorrindo. - Ora essa! Quero saber como isso aconteceu, até outro dia você estava cheia de dúvidas. E ontem minha mãe veio me falar que ele pediu o adiamento do casamento.
- Bom, não é que minha dúvidas tenham desaparecido, mas estou conhecendo ele melhor, e embora não o ame, sou capaz de respeita-lo.
- Ah! Pode não amar, mas que gosta dos beijos isso você gosta.
- Xi Esme! Quer que todo o acampamento escute?
Esmeralda gargalhava histericamente, enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas, fazendo Alexandra rir com ela.
Do lado de fora, Zenon sorria consigo mesmo, lembrando da sensação dos lábios de Alexandra. Sim, ela tinha gostado do beijo dele, e isso significava que havia esperança. Seus pensamentos foram interrompidos por um par de olhos castanhos brilhantes e uma exuberante cabeleira cacheada.
- Olá Rubí. - ele sorriu para a menina que era irmã de Esmeralda. A mãe das garotas tinha fascínio por pedras preciosas. A filha mais velha se chamava Pérola, daí vinham Esmeralda, Rubí e o caçula Berílo. 
- Oi Zenon - Ela abriu um lindo e doce sorriso para ele. - Você também veio ver a Nina não é?
- Vim sim. - Ele sorria para ela.
Era uma menina muito linda e meiga, e todos a adoravam. Ela sempre estava aqui e ali, muito inquieta, adorava cozinhar, e sempre estava a disposição para ajudar a todos. Seus cabelos cacheados eram marca registrada. Lindos e brilhantes, estavam sempre por toda parte, acompanhando esta sorridente e bela jovem.
- Como ela está? Eu fiz uns bolinhos para ela, os favoritos. - Ela olhava sorrindo para ele. - Quer provar Zenon?
- Hmmm já que está oferecendo, vou pegar um. - Ele disse sorrindo e pegando um belo e cheiroso bolinho. 
- Vou entrar para ver como ela está, mais tarde levo mais bolinhos para você ta bem?! - ela saiu, sorrindo como sempre.

As três conversaram animadamente por horas, e acabaram jantando com Alexandra. Quando todos se retiraram, e todas as luzes do acampamento se apagaram, Alexandra começou a processar tudo o que acontecera durante o dia. Após sua queda, John se mostrou tão preocupado e tão doce, diferente do rabugento dos últimos dias, a verdade é que estava sentindo falta da doçura dele, de sua atenção. Era uma completa loucura e idiotice, ela sabia, mas não conseguia evitar, cada vez que ele a olhava, ou a tocava. E para completar, hoje num momento de total insanidade, ela o beijou. Céus! Sim, foi no rosto, mas foi um beijo, e ele certamente estava pensando o pior dela. Um sentimento ruim começou a tomar conta dela, ao pensar nesta possibilidade.
Em contrapartida, tinha Zenon, ele ficou tão preocupado, e verdade é que ela já sentia falta dele, da conversa fácil, e sendo bem sincera consigo mesma, gostou do beijo. 
- Droga Esme! - ela resmungou baixinho.
Estava deitada em sua cama, quando uma sombra se aproximou sorrateiramente tapando sua boca, sufocando seu grito.
- Xiii - aqueles olhos escuros, estavam ainda mais escuros, apesar de brilhantes na escuridão.
- Ta louco! - ela sussurrava. - Se te pegarem aqui teremos problemas.
- O que farão? Nos obrigar a casar? - naquela penumbra, dava pra ver claramente o sorriso perfeito e tão raro dele. Zenon estava se soltando...
- O que você ta fazendo aqui? - ela tentava não rir da situação.
Ele pegou na mão dela e beijou
- Você tem um cheiro maravilho mom xouen. O mesmo cheiro que as flores soltam quando o sol bate nelas.
Ele pegou a mão dela e começou a passar em seu rosto. Sua pele quente e a barba que começava a espetar fizeram Alexandra se arrepiar. A respiração deles começou a ficar pesada, e em meio a escuridão tudo que restava era o toque. Ela acariciou o rosto dele, e seguiu por seu cabelo macio, com cachos grossos. Ele deslizava as mãos pelos braços dela, causando arrepio por toda a extensão de sua pele, então sem conseguir se conter, ele a beijou, com fome, e dessa vez sem medo. Alexandra, completamente entregue ao momento, agarrou nos cabelos dele e arqueou o corpo, soltando um gemido de satisfação quando ele envolveu sua cintura, com o braço forte.
Quando finalmente interromperam o beijo, seus rostos estavam quentes, a respiração pesada, e seus corações pareciam que ia explodir. Ficaram abraçados por um tempo, até se acalmarem. Então Zenon beijou sua testa, sua bochecha e suas mãos antes de partir, tão silenciosamente quanto entrou.
O sorriso que tinha no rosto se esvaiu, e sem qualquer motivo aparente ela começou a chorar.




* Traduzindo
Mom = meu
Xouen = sol
Trabik = traidora

Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora