Uma nova vida

61 15 26
                                    

John dirigiu por horas na madrugada, foi parado poucas vezes por policiais nas divisas estaduais, nenhum deles se deu ao trabalho de fazer qualquer revista no carro, apesar de ter visto a foto de Alexandra, junto com a de outros desaparecidos dentro das cabines, apenas conferindo seus documentos, perguntando de onde vinha, para onde ia, e desejando boa viagem. Ele precisava deixar a Escócia antes que o dia amanhecesse, na verdade, não acreditava que estariam seguros enquanto estivessem no Reino Unido, sabia que uma vez que Cliff descobrisse que ele havia partido, daria razão ao pai de Alexandra e iria notificar nas fronteiras. Então dirigiu como louco, bebendo café a todo momento.
- Meu amor, você precisa parar e descansar um pouco. - Alexandra tocou no braço dele carinhosamente.
- Não podemos correr esse risco Encantadora. - ele beijou o topo da cabeça dela, e a aninhou em seu ombro. - Durma você querida! Logo teremos que te colocar naquele tapete.
Alexandra estava tensa, mas o cansaço a venceu, e ela dormiu 
O dia começava a dar seus sinais, quando chegaram perto da fronteira, e John acordou Alexandra. Ele encostou o carro em uma área mais deserta e começou a dar instruções a Alexandra, e beijou ela com paixão, sentido-se desesperado com a possibilidade de serem descobertos, se isso acontecesse, ele seria preso, e ela entregue aquele pai desgraçado. Sentindo o desespero dele, e o seu próprio, correspondeu ao beijo com a mesma urgência e intensidade, colando seu corpo ao dele, e envolvendo-o com seus braços. Em seguida, John a enrolou em um tapete e colocou algumas caixas e outras coisas por cima, antes de jogar uma lona.
Chegando na fronteira, foi parado, e pela primeira vez revistado, lembrando-se das instruções de seu irmão:
 "John, é como jogar pôquer, e nesta família você é o melhor neste jogo. Haja com naturalidade. 
Repita para si mesmo a história até que ela vire verdade. Vamos recapitular..."
- Então o senhor está indo visitar uma tia na Inglaterra? - perguntou o policial, olhando para ele com desconfiança.
- Isso mesmo! - John o encarou, controlando seu tom de voz. - Estou levando alguns presentes feitos a mão pela minha avó. 
John se dispôs a levantar a lona e abrir algumas caixas, o policial que a principio mostrava-se desconfiado, relaxou um pouco, olhou as caixa, mexeu em algumas coisas, John procurou manter-se calmo, respirando fundo, sorrindo e contando estórias absurdas e mentirosas sobre sua família. Porém, quando o policial mexeu no tapete, seu sangue gelou.
- É um belo tapete senhor! - o policial o olhava admirado.
- Minha tia adora os tapetes que minha avó faz. - ele tentou sorrir, mas estava nervoso demais. - olha, o que acha e ficar com a compota de amoras? - ele desviou  assunto do tapete, antes que o policial percebesse seu nervosismo.
- Sua tia vai se zangar. - o policial deu um sorriso malicioso, adorando a ideia de ficar com a geleia.
- Ela não precisa saber! - John devolveu um sorriso cúmplice a ele. - Além do mais, tem outras coisas ai.
- Eu adoro geleias de amora, vou aceitar sim.
John entregou o pote de geleia, feito pela cozinheira da fazenda Mackenzie, e assim que foi liberado em meio a sorrisos e saudações de boa viagem, ele entrou na caminhonete e caiu fora dali. Começava a respirar aliviado, e procurando um lugar para parar e tirar Alexandra dali, quando ouviu uma sirene atrás de si, e viu a viatura policial sinalizando para ele parar.
John começou a sua frio, suas mãos tremiam, e seu coração batia enlouquecido em seu peito. Ele queria acelerar e fugir, mas isso só pioraria as coisas, então ele encostou, e esperou o policial descer. O homem caminhou sério até seu carro, e esperou John baixar o vidro.
- Acho que esqueceu algo rapaz! - falou o homem com gravidade - Aqui! - ele abaixou, e entregou o documento de John, sorrindo outra vez. - Sem isso aqui, você pode ter problemas.
- Obrigada policial! - John eu um sorriso forçado.
- Sugiro que pare para descansar também! Vejo em seu rosto que precisa, não queremos acidentes por aqui, certo? - ele deu um tapinha no ombro de John, entrou na viatura e retornou ao posto.
Com um suspiro de alivio, John encostou a cabeça no volante, levantou em seguida, secando o suor em seu rosto. Seguiu por mais alguns metros, para só então tirar Alexandra do seu esconderijo. Ela pulou em seus braços, e o abraçou, fazendo o que sempre fazia, deixando-o melhor, e em paz. 
Depois de muito insistir, Alexandra convenceu John a parar um pouco.
- Primeiro vou ligar para Phill e saber se já deram falta de mim, e se Cliff já estiver alerta não vamos parar um segundo até a França. 
- Tudo bem! Mas se ele disser que está tudo sob controle, você vai dormir um pouco.
Ligou para Phill que o tranquilizou dizendo que Cliff estava averiguando a denuncia de que haviam encontrado o corpo do comerciante desaparecido há um mês, que nem se preocupou em procurar por ele, e que segundo informações, os nômades estavam levantando acampamento e partiriam até a noite, isso o tranquilizou por alguns segundos, fazendo-o pensar que ele poderiam alcança-los. 
- Meu amor, até eles saírem, e chegarem a fronteira, com tantos membros idosos e crianças, já estaremos na França. - Alexandra o abraçou tentando acalma-lo.
- Mas e se teu pai sair sozinho na frente? - ele já começava a achar que não era boa ideia parar.
- A essa altura ele já me largou de mão, e pelo que Zenon me falou, eles estão indo para a Irlanda. - deu um beijo suave nos lábios dele, e o puxou. - Você vai dormir um pouco, e não quero mais discutir isso.
- Como você é mandona hein. - ele riu abraçando ela. - Já vi que vai me enlouquecer nos próximos 50, 60 anos. 
O coração de Alexandra encheu-se de uma ternura inimaginável, ela o abraçou e uma lágrima escorreu por seus olhos, devido a emoção de ouvi-lo dizer que ficariam juntos por muitos anos a frente.

Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora