O coração de um homem

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Alexandra continuava seu trabalho na fazenda. Estava indo muito bem, ganhou o respeito de Finn e a admiração de John, por outro lado, o jovem George estava enciumado, e com raiva por ela ter roubado seu posto. Certa manhã, Alexandra chegou e selou Pegasus para exercita-lo, estava se preparando para monta-lo quando George chegou à estrebaria.
- Senhorita, o patrão quer falar com você.
- Estive com ele agora a pouco, posso falar com ele quando voltar.
- Acho que é urgente.
Ela apertou a ponto de seu nariz, e suspirou. Estava particularmente sem paciência neste dia, para começar brigou com seu pai por conta do adiamento do casamento, ele não aceitou bem a história e a culpava por isso. Depois sua mãe veio com seus conselhos e pressentimentos. Esme estava ficando histérica com o casamento se aproximando, e Zenon estava ignorando-a há 3 dias. Assim que chegou teve que aguentar o mau humor de Finn e as instruções sem fim de John, que ultimamente, também parecia aborrecido com algo. Assim, ela saiu resmungando imprecações no dialeto de seu clã e foi atrás de John, apenas para o encontrar 2 minutos depois, parecendo um urso que sentou em urtiga, reclamando por ela não estar exercitando Pégasus.
- Diabo! O que está acontecendo hoje?
- Cuidado com as palavras menina! - Finn a advertiu enquanto ela voltava para as baias
Ela balançou as mãos no ar frustrada, e seguiu por seu caminho, montou Pegasus e seguiu, primeiro em uma caminhada suave, porém o animal se mostrava impaciente por velocidade. Ela passou a mão em seu dorso e falou com ele
- É garotão! Também estou precisando. - Esporeou o cavalo, que relinchou com satisfação e correu a toda velocidade.
O vento em seu rosto foi melhorando seu humor, seu cabelo acabou se soltando com o vento, isso lhe deu uma sensação de liberdade que há muito não experimentava. 

Ao longe, John observava Alexandra, ela era realmente Encantadora, todos temiam aquele animal, que ela montava como se fosse o mais doce dos cavalos, ele não era só feroz, era arisco, e poucos conseguiam se aproximar dele, mas ela com toda a sua confiança, foi capaz não só de doma-lo, como de cuidar dele, escovar, alimentar, o cavalo a adorava, era como se ela fosse capaz de conversar com ele. Por diversas vezes a pegou falando com o cavalo naquele idioma estranho, a sonoridade era musical e parecia hipnotizar não só o cavalo, como ele também. 
Andava muito irritado consigo mesmo, pois parecia ser totalmente incapaz de ficar longe dela, estava enfeitiçado por aquela menina de cabelos negros. Pela manhã, ficava observando-a cuidando dos animais, e ajudando Finn, ela tinha garra e determinação, e ele a admirava, pois todas as vezes em que ele exigia mais dela, ela superava suas expectativas. Mas seu sentimento ia além da admiração, e ele sabia disso, começava a irrita-lo seu descontrole quando se tratava disso. Sua curiosidade inicial não passou, e a cada dia queria saber um pouco mais dela, era como ter um pedacinho dela a cada dia. Oferecia carona, sentava para almoçar com ela embaixo do salgueiro, e sempre tinha as mais incríveis conversas com ela, adorava irrita-la, ela tinha o pavio curto, e ficava linda quando estava brava, era como uma gata selvagem. Quando se deu conta do que estava acontecendo, tentou se distanciar, tentou ser frio, mas simplesmente não conseguia. Aquele perfume que saia da pele dela o perseguia dia e noite, e seu sorriso aparecia em seus sonhos, na última noite, teve um sonho absurdo com ela. Deus! Ele estava cobiçando uma menina, isso já estava enfurecendo-o, mas parecia ser inevitável, pois ela o encantara de uma forma, que nem a mais experiente das mulheres que conheceu, conseguiu. E lá estava ele mais uma vez, observando-a cavalgar aquele demônio de quatro patas, como uma deusa indo na direção do sol. Sentiu o ar fugir de seus pulmões quando os cabelos dela se soltaram, e começaram a balançar com a brisa, ela era magnifica, perfeita. E ele estava perdidamente apaixonado por ela. Seu rosto já esboçava um sorriso sonhador, quando ele notou que algo não estava certo, mas foi tudo muito rápido.
- Nããããããoooooooo


Alexandra corria com Pegasus quando ele saltou um pequeno obstaculo, e ela sentiu que algo estava errado, ela tinha certeza de ter afivelado e checado a cela, mas quando ele saltou, teve a impressão de que a cela estava frouxa. Ia parar para checar a cela, quando um enorme galho caído apareceu a sua frente, na velocidade em que estava, frear poderia significar machucar o animal, então ela saltou, a cela se abriu e ela não conseguiu se segurar. Caiu e desmaiou.
John gritou Finn, mas não esperou resposta, saiu correndo imediatamente. Ela estava a uma boa distancia, mas seu desespero lhe deu asas. Assim que chegou até ela, seu coração parou de bater, a cabeça tinha um corte, e estava sangrando consideravelmente.
- Não faz isso comigo! - ele dizia como uma prece, e tocava o rosto dela. - Ela não meu Deus!
Ele suava frio, tinha medo de fazer qualquer movimento e agravar a situação, pegou a mão dela, e estava fria.
- Por favor Deus! Não permita, não permita!
Ele se deu conta, de que, pela primeira vez em 15 anos recorria a Deus. Desde que sua mãe faleceu, a vida de todos se transformou em um inferno, ele não recorria a Deus, porém naquele momento, vendo a garota por quem estava apaixonado, fria e inconsciente, apelou para a força divina. Sim, aquela garota estava conseguindo até isso, restabelecer a sua fé.
- O que houve? - Finn chegou esbaforido. - Ouvi você gritar e o vi correndo pra cá - Meu Deus! - Ele se ajoelhou ao lado de Alexandra, e procurou sua pulsação. Suspirou aliviado assim que a encontrou.
- Precisamos leva-la ao hospital. - John tentava disfarçar o desespero em sua voz, que já estava começando a ficar embargada.
- Vou levar o cavalo de volta e vir com a caminhonete até aqui, verei uma forma de imobilizarmos ela. - Prático, Finn montou Pegasus e seguiu em direção a fazenda.
John continuava ajoelhado ao lado dela, tocando em seu rosto e segurando sua mão.
- Encantadora! - ele murmurava em total desespero. Rasgou sua camisa e tentou estancar o sangramento. - Por favor, por favor! - ele continuava murmurando,  e uma lágrima escorreu, caindo na mão que ele segurava. Ele beijou a mão dela, e a colocou em seu rosto. - Você não tem ideia de quanto é importante pra mim, nunca pensei que algum dia me sentiria desta forma por uma mulher, imagina minha surpresa por estar assim por uma menina.
Seus olhos azuis estavam ainda mais escuros de preocupação. Então, ele ouviu um gemido baixo.
- Encantadora! Alexandra. - Ele começou a beijar a mão dela sem parar, aliviado quando ela abriu os olhos. 
Ela estava confusa e sua cabeça doía muito, mas pôde ver uma ternura sem igual nos olhos de John, e o alivio dele por ela ter acordado era notório. Ela não se lembrava muito bem do acidente, mas estava admirada não só por ele estar lá, mas por se mostrar tão preocupado e carinhoso. Sentiu o calor das mãos dele, e o toque de seus lábios em sua mão, isso a ajudou a despertar daquele torpor inicial de quando se recura a consciência.
- O que houve?
- Eu é que pergunto Encantadora! Como foi cair assim? Não prendeu a cela direito.
- Claro que prendi! - ela ia se mover, mas parecia que estavam fazendo um panelaço em sua cabeça. - Ai!
John a segurou e impediu de se movimentar.
- Depois falamos sobre isso. Agora fique quieta que vamos ao médico.
- Não exagere! Eu só bati a cabeça. -  Antes que ela tentasse se mover outra vez, ele a segurou.
- Não ouse! Ou deixarei você inconsciente outra vez, só para que fique quieta.
Ela bufou em frustração, mas desta vez obedeceu, pois de fato sua cabeça doía horrores.

Finn chegou com a caminhonete, uma maca, e dois funcionários. Eles imobilizaram Alexandra e a colocaram na traseira da caminhonete. Ela obviamente protestou durante todo o processo, o que só piorou sua dor de cabeça. Porém, mesmo com dor, ela se lembrou de um fato, a última pessoa com quem falara dentro da estrabaria, George. Ele ajudava a coloca-la na caminhonete, e quando seu olhar cruzou com o dele viu a culpa. O garoto parecia prestes a explodir em lágrimas, obviamente arrependido por seu ato, ela só não entendia o motivo para ele fazer o que fez.
Por fim, ficou decidido que Finn dirigiria, e John iria atrás com ela, para se certificar que estava tudo bem. Alexandra estava demasiadamente cansada, mas ele estava em uma missão de faze-la falar para não dormir, assim falaram de tudo, mas evitavam falar sobre o ocorrido na fazenda, este era um assunto que deveria esperar. Ele tinha um olhar preocupado que lhe partia o coração. 
Durante todo o tempo em que ficaram no hospital, ele estava pairando sobre ela de forma protetora, e isso estava começando a deixa-la nervosa.
Quando ela entrou em uma sala, para os últimos exames, Finn o chamou para um café.
- Cuidado rapaz! - Falava olhando por cima da xícara de café.
- Do que está falando? - John respondeu já na defensiva.
- Você sabe! Ela não é pra você.
- Acho que está confundindo as coisas Finn.
- Acho que está tentando enganar a pessoa errada. Conheço você desde que nasceu, e se pensa que não vejo como você olha para esta garota... Nem se eu fosse cego!
John parou pensativo, tomava seu café contemplando o horizonte.
- Sei que é loucura, mas não consegui evitar. - ele disse calmamente, sem olhar para Finn, que assentia com um ar preocupado.
- Sabe que essa paixão não tem futuro garoto.
- Sim eu sei, e é por isso que não avancei. Logo ela irá embora, e tudo isso ficará no passado. - Desta vez seu olhar caiu, triste e abatido.
- Esta tentando me convencer, ou se convencer? - Finn dava aquele meio sorriso, de velho sábio.
- Isso já não tem importância.

Os exames estavam todos bem, o médico queria que ela ficasse em observação, mas Alexandra bateu o pé. Assim, o médico a liberou e deu algumas instruções, deixou seu telefone para o caso de uma emergência.
John deixou Finn em casa e levou Alexandra para o acampamento.Foram por todo o caminho em silêncio, até que ele parou na entrada do acampamento.
- Bem, está entregue criatura teimosa. - Alexandra sorriu
- Obrigada por tudo! Você foi muito gentil em cuidar de mim assim.
Ele queria dizer algo engraçado, ou apenas dizer que teria feito isso por qualquer pessoa, e sim, ele teria feito, mas a verdade é que com ela era diferente, que sua preocupação beirou o desespero quando ela não abria os olhos depois da queda, que quando ela recobrou a consciência, seu alivio foi tão grande, que seu coração parecia que explodiria de felicidade. Que ele agora vivia e morria por aquele sorriso, e por mais absurdo e impossível que fosse, ele estava apaixonado por ela. Mesmo com tudo isso na mente, e as emoções transbordando em seu coração, ele apenas pegou a mão dela de deu um beijo.
- Por nada Encantadora.
Ela abriu a porta do carro para descer, mas antes, se virou e lhe deu um beijo no rosto. Em seguida desceu sorrindo, e seguiu caminhando para o acampamento, deixando-o completamente abobalhado e perdido.

Isso não podia continuar assim, ele pensou, então tomou sua decisão, ligou o carro e seguiu....


Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora