O casamento

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Era uma manhã linda de verão, e apesar do sol ter acabado de se posicionar inteiramente, o acampamento já estava em total agitação. Enquanto Esmeralda colocava todo seu café da manhã para fora, suas irmãs e melhor amiga tentavam acalma-la.
- Esme, desse jeito não terá forças para andar até seu noivo. Por Deus! Se acalma. - Alexandra falava pela quinta vez.
- Mas Nina, e se ele desistir? E se eu desmaiar? Céus! Pode acontecer um incendio. - ela andava de um lado a outro, puxando os cabelos, com olhos arregalados.
- MAMÃE!!! - Pérola gritou.
- O que foi minhas jóias? - uma mulher de estatura mediana entrou na tenda, sorrindo docemente. Ela tinha os cabelos castanhos bem claros, presos em um coque frouxo, o rosto um pouco afogueado pela agitação do dia.
- Mamãe, se a Esme não parar eu vou socar a cara dela
- Querida filha, aqui a única com o direito de socar alguém sou eu. Tenha paciência pois no seu casamento você fez a vida de todos um tormento. - gargalhadas explodiram na tenda, deixando Pérola vermelha de raiva.
- Você sempre defende a Esmeralda, sempre foi sua preferida.
- Não diga tolices! Amo a todas. - ela seguiu unindo suas filhas num abraço, e ainda puxou Alexandra junto. - até mesmo as que não nasceram de mim.
Com essa todas começaram a chorar
- Tia Martina, não diga essas coisas quando estivermos maquiada. - Alexandra soltou fazendo todas rirem em meio as lágrimas.
- Agora quero todas vocês fora daqui, preciso conversar com Esmeralda.
As meninas sairam dando risinhos e ela sentou frente a frente com sua filha. Que a olhava um pouco assustada e envergonhada.
- Não se preocupe Esmeralda, hoje não falaremos sobre sexo.
- MÃE! - ela ficou vermelha como um pimentão, fazendo sua mãe rir.
- Não gosto de repetir os assuntos, já falamos sobre isso uns anos atrás e acho que ficou tudo bem esclarecido.
- Sim, tenho vergonha só de lembrar.
Ainda sorrindo ela pegou as mãos da filha e deu uns tapinhas.
- Querida, você sempre foi muito inteligente, perceptíva, sagaz e mordaz muitas vezes, era assustador ter por perto uma criança tão difícil de se enganar, então antes que alguém lhe contasse sobre os mistérios da vida, eu me adiantei.
- É, mas eu tinha apenas 9 anos. - - Estava curiosa sobre o que aconteceria quando sua irmã fosse morar no trailer do Brain.
- Eu tava curiosa porque queria ter certeza que não teria mais a Pérola me infernizando, e não porque queria saber sobre o que acontece entre homem e mulher.
As duas começaram a rir muito neste momento, lembrando da situação.

Esmeralda empolgadíssima pois não teria mais que aguentar a rabugice de Pérola, queria saber se a mudança era definitiva ou se ela ainda voltaria para a tenda da família, mas queria ser sutil, porém sua mãe entendeu errado sua pergunta, e preocupada que sua precoce menina resolvesse colher informações em outro lugar, lhe deu uma aula de educação sexual, que resultou com ela no final dizendo:
- Que nojo mãe! Olha, se a Pérola quiser desistir estou disposta voltar a divir a cama com ela.

Martina e Esmeralda sempre foram muito amigas, suas personalidades fortes, muito parecidas, sempre faziam elas acabarem discutindo, mas isso não mudava o amor que tinham uma pela outra, e embora ela amasse a todos os seus filhos, Esmeralda sempre foi a mais próxima, a que a ajudava com as roupas e a limpeza, com os caçulas, e na tecelagem. Podia contar com ela pra tudo, e sempre foi assim. Sabia que se a vida ficasse difícil e ela precisasse de cuidados especiais, era Esmeralda quem lhe acolheria. Não que suas outras filhas a abandonasse, mas Esme sempre foi a mais apegada, a mais compassiva e amorosa.
- Querida, tudo que podia te ensinar, eu ensinei, minha tarefa agora é como espectadora. Espero ter sido boa, fiz o melhor que eu pude. - ela limpou as lágrimas com o avental.
Esmeralda levantou chorando, e sentando no colo dela a abraçou.
- Você é e sempre será a melhor das mães. Mesmo gritando. Mama Martina.
As duas começaram a rir entre lágrimas.

Assim que saiu da tenda, começou a gritar com todos, para organizar o trabalho. Era uma mulher de iniciativa e muito energética. Todos a adoravam, sempre a procuravam quando estavam tristes, precisando de conselhos, remédios e para uma boa e descontraída conversa. Sua sinceridade era notória, e se alguém lhe aprontasse, sai de baixo, suas raízes italianas falavam mais alto.
Martina nasceu em um vilarejo próximo a Sicília, e vinha de uma enorme e barulhenta família, mas quando o acampamento nômade passou por lá, e ela se apaixonou perdidamente por Danell, largou tudo, fez o juramento, e tornou-se nômade, para desagrado de muitas mulheres do acampamento na época, que eram loucas por ele. Afinal, Danell sempre foi um homem muito bonito, moreno como todos do clã, mas másculo e muito alto, um sorriso sedutor, que ainda agora arrancava suspiros das mulheres. Mesmo depois de tantos anos juntos eram loucos um pelo outro, algo que dava orgulho a suas filhas, mas também constrangimento em certas situações. Era muito comum serem flagrados aos beijos em algum canto, quando não em um abraço mais avançado.
No começo foi difícil a aceitação, mas logo todos se apaixonaram por aquela personalidade esfuziante, e quando teve sua primeira filha, todos começaram a chama-la mama Martina, uma forma carinhosa de sempre lembrarem suas raízes.

Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora