O noivo

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Zenon estava acostumado com a vida nômade. Seus costumes, suas regras, suas leis. Conhecia bem o seu lugar e sabia que quando completasse 25 anos assumiria a liderança do clã. Era uma grande responsabilidade, porém vinha sendo preparado para isso desde que nasceu. Este senso de responsabilidade lhe tirou um pouco da diversão na infância, mas isso nunca o incomodou, ele queria aquilo, esperava o momento de mostrar a todos que seria um líder tão bom quanto seu pai.
Aos seis anos de idade, quando nasceu sua prima Alexandra, foi prometido em casamento a ela. Daquele dia em diante, ele sabia que seu futuro estava traçado, e que aquela pequena e rosada vida seria sempre sua responsabilidade, e para ele suas responsabilidades eram sua vida.
Quando Alexandra começou a andar ele cuidou para que ela jamais caísse, e quando começou a falar, lhe ensinou palavras no dialeto de seu clã, e quando ganhou seu primeiro poney, ele a seguiu de longe para ter certeza que ela não se machucaria. Conforme ela crescia, ele sempre estava por perto, mas por sua timidez, e receio de inconveniência, mantinha- se um pouco afastado, mas em diversas situações, estava por perto protegendo e ajudando Alexandra.
Seu pai o alertou para o fato de que as mulheres, muitas vezes se rebelavam, mesmo que de forma discreta, aos tratados nupciais. Mas ele acreditava que ele não sofreria com isso, pois conhecia Alexandra melhor que todos no acampamento, e sabia que apesar de seu temperamento forte, ela era a mais doce das criaturas. E que seu dom com os animais a tornavam ainda mais especial.
Agora aos 21 anos, e a poucos meses de seu casamento, que aconteceria 15 dias após o aniversário de 16 anos de Alexandra, ele acreditava que era o momento de se aproximar, de se mostrar a sua noiva, e que talvez algum dia pudesse contar a ela o quanto a apreciava, o quanto gostava dela.
Durante as últimas semanas, de forma discreta, deixou na entrada de sua barraca sua flor preferida, quando ia caçar, trazia as frutas que ela mais gostava, tentava conquista-la, afinal, apenas seus pais a conheciam melhor que ele. A verdade é que estava ansioso pelo momento em que finalmente poderia dizer que estava apaixonado.
Com seus 1,95m era de se esperar que fosse desengonçado, era justamente o contrário. Zenom era gracioso de forma viril, e pelas cidades onde passavam, sempre haviam mulheres e garotas querendo estar com ele. E não era para menos, sua morenisse era sem igual, cabelos e olhos negros, lábios carnudos, nariz reto e queixo quadrado com uma fenda marcante, braços fortes e pernas torneadas. Exótico e sensual para as estrangeiras, protetor e viril para as mulheres do clã. Alexandra não fazia ideia, mas era muito invejada.

- Oi Alexandra!
Ele a saudou e surpreendeu
- Oi Zenom, tudo bem?
- Sim. - conversas realmente não era seu forte, mas precisava tentar por ela. Ele a olhava sem saber o que dizer, passou as mãos no cabelo buscando inspiração, olhou para o céu e voltou a olhar Alexandra.
- Você deseja algo Zenom?
Beijar você, ele pensou. Mas conhecia as regras e afastou esses pensamentos.
- V-você gostaria de jantar em nossa tenda?
Foi recompensado com o mais luminoso dos sorrisos, aquele dos mais raros, que mostrava as covinhas das bochechas de Alexandra.
- Claro Zenom! Foi tia Bee quem chamou? Queria mesmo vê-la.
- S-sim, foi.
Como poderia dizer que a ideia partiu dele?! Queria que ela o conhecesse melhor, para que encarasse o casamento como algo além da obrigação, mas não sabia por onde começar. E ela era tão linda, e tão exótica quanto ele, que o deixava sem palavras. Sua pele era morena, não muito escura, mas de um tom quase dourado, os cabelos tão negros como o ébano, e com cachos grossos e volumosos, o nariz pequeno e arrebitado, olhos de gato, dourados como âmbar, lábios cheios e rosados, pernas compridas e belas. Por diversas vezes pegou algum aldeão das cidades que acampavam de olho nela, em uma das vezes, sem que ela soubesse, ameaçou a um deles, que como ele soube, planejava seduzi-la.
Alexandra não tinha ideia do quão proximo Zenom sempre esteve dela, e para ele, este ainda não era o momento de revelar.
Analisando seus sentimentos, a verdade era que era impossível não se apaixonar por ela. A domadora o havia domado.
- Bem, então diga a ela que vou!
Ela seguiu para sua tenda, e ele ficou admirando sua caminhada. Ela parecia feliz, estava cantando, e tinha uma bela voz.

- Então querida, como estão os preparativos para o casamento?
Sua tia, sua doce e entrometida tia Bee, fazia a mesma pergunta quando a via.
- Bem tia! Mamãe terminou o vestido ontem.
Ela respondeu um pouco sem jeito, afinal seu prometido noivo estava ali, na sua frente.
- Aqui estamos todos muito animados! - falou seu tio, batendo na mesa e sorrindo. - Não temos um casamento no acampamento faz tempo, e o de vocês dois será o casamento do ano.
- Sim, sim! Querida,não é todo dia que o futuro chefe de clã se casa. Ainda mais com uma moça tão bonita.
Agora Alexandra ruborizou até as orelhas. O calor intenso tomou conta de seu rosto, mas o que não esperava era, levantar os olhos e ver que Zenom estava tão envergonhado quanto ela.
Ao final do jantar, seus tios deixaram ela e Zenom sozinhos por um momento. Ela não era normalmente tímida, porém, ao lado dele, não sabia o que dizer, era estranho que, com um completo estranho ela tenha conversado alegremente, e alguém que ela conhecia, desde que nasceu, lhe fosse tão estranho.
- Soube que conseguiu trabalho de cavalariça em uma fazenda aqui perto.
- Sim
- Está gostando?
- Bastante.
Depois disso, seguiu-se um silêncio constrangedor. Que logo foi quebrado pela volta de seus tio a sala. 1 hora depois o pai de Alexandra foi busca-la, sua mãe foi se deitar e ele ficou conversando com o pai.
- Você gosta dela filho?
- Faria diferença se não gostasse?
- Bem, este acordo foi feito há muito tempo. Filho, entenda que um homem não volta atrás em sua palavra.
- Eu sei pai. Mas não se preocupe,cumprirei o acordo, e não será s contra-gosto.

Ele foi para sua cama, e lá deitado, olhando para o teto da tenda, ficou imaginando o momento em que finalmente poderia beijar Alexandra, tocar seus cabelos e sentir seu perfume. Sabia o quanto ela gostava de animais, e planejava lhe dar de presente de casamento um puro sangue. Já era capaz de imaginar o brilho nos olhos dela.
Com esses nobres e felizes pensamentos, adormeceu.

Encantadora - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora