Capítulo 3

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                              Dioniso

Aquela menina me intrigava. Não sabia o porquê de Apolo não tê-la reclamado antes. Todos sabem que eles deveriam ser reconhecidos e trazidos ao acampamento até os onze anos de idade. Ela era a única campista que tinha sido descoberta depois dos dezoito. Repito, TODOS os deuses sabiam o quão perigoso poderia ser para um semideus caminhar solto por aí, sendo sempre perseguidos por todos os tipos de monstros sem saber o porquê. Apolo com toda certeza tinha deixado a cabeça nas nuvens mais uma vez à respeito dessa filha. Não seria uma grande surpresa em se tratando do meu irmão.

A não ser que ela não fosse perseguida de maneira nenhuma. Ninguém nunca tinha achado ela, nem mesmo os sátiros encarregados de buscar semideuses, e ela sabia extremamente pouco sobre mitologia, e aí a pergunta, porque ela não seria perseguida? Precisava dar um puxão de orelha em Apolo, desde o fiasco com Hércules, as crianças deveriam ser reclamadas até os onze anos. Era a regra.

Ele estava sendo irresponsável esse tempo todo sem passar pelo radar de Zeus e eu, apenas por pisar na bola uma única vez, recebo esse tratamento de choque do deus dos raios. Eu divagava olhando para Sofia, a mais velha nova filha de Apolo. Ela não se parecia com ele. De jeito nenhum. Os cabelos eram escuros e os olhos coloridos. Ela tinha heterocromia, ou seus olhos eram coloridos? Acho que eram castanhos. Não sabia dizer com certeza. Ela era totalmente branca, sem nenhuma sombra de qualquer tipo de bronzeamento. Ela me olhou e sorriu e eu percebi que a olhava há muito tempo. Nessa hora desgrudei nossos olhares.

-Dionísio? Alô? Alguém aí? - Quíron me chutou por baixo da mesa. Ele me encarava e eu foquei seus olhos.

-Ahn, o que foi? O que disse? - Não queria que parecesse tão óbvio que eu estava completamente aéreo à tudo que acontecia ao meu redor.

-Tinha perguntado como você estava, eu soube da separação.

-Não estou soltando fogos de artifício, Quiron, se é isso que quer saber.

-Se quiser minha opinião, eu acho que já não era sem tempo sabe, você não precisava sofrer mais adiando isso.

-Por isso nunca se casou Quiron?

- O que?

- Nada, eu já volto...preciso de ar.
Levantei da mesa e saí do refeitório, não estava no clima para conversar sobre meu divórcio com ninguém, poderia colocar a culpa do meu mau humor em toda essa situação, mas a verdade era que eu quase sempre estava de mau humor mesmo, Afinal, é impossível se sentir bem quando você está preso em um lugar completamente chato desse jeito. Estava do lado de fora pensando e olhando para os bosques quando ouvi um barulho.

-Sabe que não precisa se infiltrar no acampamento, não é? Infelizmente, você é bem vindo aqui. Não que seja eu que tome essas decisões.- disse me virando com as mãos no bolso de meu terno risca de giz.

-Tão arisco, Dionísio. Não sabia que Ariadne te deixaria assim tão magoado. Ou talvez seja uma falta desesperada do seu querido amante, o vinho. Mas saiba que eu vim em paz, nao precisa me transformar em uma planta, ou seja lá o que você faça com seus inimigos. -Apolo saiu da sombra se mostrando com seu sorriso zombeteiro de dentes perfeitos e seus cabelos loiros. Seus olhos azuis traziam um divertimento monstruoso por me ver sofrendo.

-Não fale assim comigo. Você veio em paz mas nunca perde a voz irônica. O que faz aqui?- disse com a mandíbula trincada pronto para atacá-lo por suas ironias cansativas.

-Vim dar um alô à minha filha. Ver como ela está e tudo mais. Fiquei sabendo que ela estava no acampamento, vim assim que pude.

-Deveria receber o prêmio de pai do ano, a meu ver. Estava me perguntando há pouco por qual motivo ela não tinha sido reclamada antes, você sabe que foi imprudente. Poderia pelo menos tentar zelar mais pela vida de seus próprios filhos, não acha?

O Renascimento de Sr. D.: Descobrindo o Amor além do VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora