Game On

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Acordar de ressaca em um dia da semana não é moleza, mas acho que nem todos se preocupam com isso. Se se preocupassem, não estariam no Creek ontem à noite. Tenho certeza de que não verei hoje metade das pessoas que vi ontem, e a outra metade estará de óculos escuros. Eu não posso me dar esse luxo. Eu sou Louis Tomlinson, eu tenho noventa e nove coisas a fazer antes de dormir e, com o Creek, é apenas mais uma.

O Creek é uma festa. Bom, na verdade, é um lugar rochoso próximo do riacho, mas como a galera da escola se reúne lá para acender uma fogueira, escutar música sem perturbar ninguém, beber todas e se agarrar sem que te chamem atenção, o nome do local se transformou em sinônimo de farra. Praticamente todos da escola vão lá e tem festa quase todos os dias.

Ontem foi a primeira vez que dei o braço a torcer e deixei meu melhor amigo, Stan, convencer-me a ir. Eu já tinha terminado a maioria das minhas responsabilidades e o que ainda falta, bem... tem tempo suficiente para fazer. Uma noite não iria me matar — ou foi o que eu pensei —, mas não me arrependo por ter ido, pois conheci essa menina... Eleanor... Alguma coisa me diz que ela está na minha.

"Acorde sua irmã!" Escuto minha mãe gritar do andar de baixo.

Só dá tempo de eu terminar de vestir a camisa e arrumar meu cabelo antes de ir até a frente do quarto de uma das minhas irmãs — a mais velha — e praticamente arrombar a porta de tanto bater só para descobrir que...

"Ela não voltou pra casa!" Grito em resposta a minha mãe.

Volto ao meu quarto e arrumo as coisas que irei precisar hoje em minha mochila enquanto repito como um mantra em minha cabeça todos os itens necessários. Não tenho tempo de ficar pensando no que irei fazer hoje e me certificar de que tenho tudo que preciso. Acabei acordando quinze minutos mais tarde do que o normal e esses quinze minutos vão me custar muito. Vou ter que pular o café da manhã se eu quiser ficar em bom tempo com minhas atividades.

Desço as escadas e cumprimento meus pais e irmãs enquanto, apressadamente, sirvo-me um pouco de suco, mas sem deixar transparecer muito a minha agitação. Felizmente, ninguém notou que eu me atrasei hoje.

"Já reservei duas horas de campo esse domingo", meu pai começa a falar sobre treino de futebol. "Precisamos reforçar os seus..."

"...dribles", digo junto com ele.

"Porque não fazemos isso logo hoje?" Mamãe pergunta, o que me faz suar frio, pois vai mudar todos os meus planos.

"Não posso hoje, tenho reunião", meu pai responde. Ufa, penso. "Mas você precisa melhorar isso, Louis."

"Tem razão, pai".

"Domingo sem falta."

"Estou quase dominando o chapéu", refiro-me ao drible.

"E, segunda, quero ver dois gols seus por tempo no amistoso".

"Boo já está mais rápido agora?" Felicité pergunta, tentando se entrosar no assunto, mas papai a ignora e continua:

"Se você vencer, poderá subir duas colocações no ranking."

"Se...?" Mamãe pergunta de forma ofendida. "Que 'se' é esse já?"

"É só maneira de dizer", meu pai responde antes de mim e eu deixo meu copo de suco já quase vazio na mesa ao me despedir.

"Louis, sente-se e tome café", mamãe ordena, mas eu não tenho tempo.

"Tenho que correr hoje, mãe."

"Você precisa de proteínas!"

"Eu sei, por isso tenho algumas barras de cereais na mochila. Não se preocupe, eu dou conta da dieta", expliquei enquanto colocava a mochila nas costas e me apressava para ir à escola.

A primeira classe é de química e os novos experimentos serão realizados em dupla. Infelizmente, não podemos escolher nossos pares, pois eles serão aleatórios, o que não é um problema para mim, já que Stan não está nessa classe, mesmo, ou qualquer pessoa que eu converse direito. Apenas espero que não seja alguém que vá me atrapalhar. Se for assim, prefiro fazer sozinho.

"E os pares serão", o professor anuncia e chama as duplas pelos seus sobrenomes, "Tomlinson e Styles..."

Todos se organizam nas bancadas e já estão com seus pares formados, enquanto eu fico em pé no meio da sala até o último minuto só para descobrir que a minha dupla faltou. Ah, que ótimo.

Sento-me sozinho na bancada vazia e, após organizar minhas coisas e os recipientes, quase pego um susto com o rapaz branquelo de cabelo cacheado que magicamente aparece sentado ao meu lado me encarando de forma esquisita.

"Styles?" Pergunto.

"Aham", ele assente enquanto se balança no banco e informa, de maneira natural: "Não faço a mínima ideia do que tem que fazer e não to afim de saber".

"Mas você precisa ajudar." Afirmo. Ele continua a me olhar com um sorriso esquisito e esbugalha os olhos antes de acender um fósforo, que eu apago com sopro. "Não vamos precisar disso pra esse experimento", explico.

"Você precisa relaxar", ele pressiona os olhos e sorri para mim.

"Na verdade, eu preciso aprender isso."

"E por que?"

"Porque é preciso passar em quatro testes desse se quiser uma bolsa para a faculdade".

"E aí sua vida vai estar feita, né?" Ele diz com um pingo de sarcasmo no tom de voz.

"E aí eu vou poder me concentrar no que fazer, se eu tiver boas notas", explico quase impacientemente e pego o erlenmeyer após terminar de ler as instruções do experimento. "Ok, vamos encher isso aqui de sódio primeiro e misturar levemente com..."

"Tem que se manter com dez, né?" Styles me interrompe.

"Vai fazer a diferença na hora de se arranjar um emprego", respondo.

"Um emprego?" Ele quase salta da cadeira. "Uau!"

"Dá pra se concentrar aqui?" Tento não perder a paciência, mas acabo transmitindo irritação em meu tom de voz.

"Adoraria!" Ele responde divertido e coloca os óculos de proteção, mesmo sendo desnecessário nesse momento. Ele começa a rir enquanto mexe no fogão e se explica, mesmo que eu não tenha perguntado nada: "É engraçado, você vive dez anos no futuro."

Ignoro o papo. Não estou nessa classe para conversar, mas para fazer esse experimento direito. Não preciso da ajuda dele. Concentro-me em seguir as instruções e apenas volto minha atenção novamente para Styles quando ele já ligou o fogão.

"Você precisa de química e, eu, de uma máquina do tempo."

Passo o resto do horário tentando realizar sozinho o experimento e rezando para que ele não faça alguma besteira que me comprometa enquanto brinca com os fósforos e o fogão. Faço as anotações necessárias de coleta de dados, encerro a tarefa e não estou nem aí se ele vai ganhar créditos as minhas custas. Quando essa aula acabar, vou pedir para trocar de dupla.

Assim eu disse e assim eu fiz:

"Professor, esse é um trabalho sério", tento argumentar após ter meu pedido negado.

"Tenho certeza de que Harry se empenha muito quando ele quer."

"Certo, mas a gente..."

"Gosta de química?" Ele me interrompe, tentando encerrar o assunto. Ou melhor, empurrar para de baixo do tapete. "Hoje foi só a primeira aula. Quem sabe, com o tempo, não melhora!?"

Assinto e sorrio. Mais um dos meus sorrisos educados. Caminho até a porta da sala e, antes de sair, escuto a voz de Harry conversando com o professor:

"Sobre esse tal de Tomlinson, ele é 'mó' controlador e dá uma de sabichão. Como você acha que eu vou conseguir trabalhar com ele?"

Saio de lá, pois não preciso escutar esse tipo de coisa. Mas as palavras ficam ecoando em minha mente, então eu me encosto na parede fora da sala e, quando ele finalmente aparece, deixo a irritação tomar conta de mim.

"Quem você pensa que é?" Faço com que Harry pare na minha frente.

"Quem você pensa que eu sou?" Ele arqueia as sobrancelhas, sorri e vai embora.

Sky is the Limit (Larry AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora