Os Planos de Harry

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Por de trás de uma árvore, eu vejo um corpo sendo enterrado. Não qualquer corpo... o corpo do meu amado. E eu nem posso participar da cerimônia. Fui impedido pelos seus pais, já que eles me culpam por sua morte. E, mais uma vez, eu sou aquele que está do lado de fora do círculo.

É, eu não tenho culpa, mas é por minha causa que ele está lá. Deveria ser eu. Deveria ter sido eu. Me sinto péssimo.

Eles disseram que Louis provavelmente ficaria adormecido até o próximo dia. Eu esperei pacientemente até ele acordar, mas ele não acordou. Então eu fui levado para preparação. Com o fim do ciclo de quimio e radioterapia, já estava na hora de eu receber as células tronco obtidas de Louis. Eu imaginava que, em breve, quando eu acordasse, ele estaria segurando minha mão e eu estaria curado. Nós iríamos ter uma chance — uma chance de verdade agora. Um recomeço.

Quando eu acordei da cirurgia, eu senti a mão de alguém apertando a minha. Era a mão do meu pai. Ele sorriu intensamente ao me ver e havia lágrimas em seus olhos.

"Como está se sentindo, amigão?" Ele me perguntou.

"Tonto", faço força para responder e tento me levantar, mas meu pai me impede. "Aonde está Louis?"

"Conversamos melhor sobre isso depois, ok?"

"Não... Por que não me diz logo? Onde tá o Louis?"

"Filho, é melhor se..."

"Onde ele está, pai? Me diz!" Imploro, mesmo com toda essa fadiga.

"Ele... houve uma complicação, Harry."

"Uma complicação?"

"...durante a cirurgia. Ele não aguentou, filho. Eu sinto muito."

"Uma complicação?" Repito a pergunta, pois é tudo que consigo dizer.

"Eu sinto muito!" Meu pai me acolhe e meu peito incha e seca rapidamente, resultado da minha respiração acelerada, meus batimentos cardíacos elevados, meu desespero.

"Não pode ser, pai!" Abraço ele com força. "Não pode ser, não!"

E agora estou aqui, o excluído, olhando de longe o funeral do meu parceiro. Não pude nem olhar na cara dos pais dele, das irmãs dele. Eles odeiam e me culpam e a pior parte é que eu não posso ficar irritado por isso. Eu levei embora um menino sã, brilhante, com um grande futuro pela frente... e, em troca, eu, um fracasso de pessoa, ganhei uma segunda chance na vida.

Mas uma segunda chance pra quê? Parece sem sentido agora.

Tenho levado as coisas de forma mais pessimista do que nunca e meu pai tem medo de que eu tenha uma recaída e tente suicídio outra vez. Eu não acredito que vou reencontra-lo na morte, e talvez seja apenas por isso que eu ainda não tenha tentado. Além do mais, ele deu a própria vida para salvar a minha, não posso jogar fora essa dádiva, se não tudo teria sido por nada.

Rachel vem me visitar de vez em quando. Ela pediu para que eu fosse até o centro falar sobre a minha superação, minha vitória, pois talvez isso ajude a dar esperança aos demais. Mas eu não posso fazer isso. Porque isso não parece uma vitória para mim. Parece que, mesmo ganhando, eu perdi tudo.

Meu pai e ela insistiram que eu fosse ao centro pelo menos para conversar com o psicólogo. Já faz tempo que eu não tenho minhas sessões de terapias e agora parece o momento certo de voltar, mas... do que serve falar? Não vai trazer meu parceiro de volta. Parece sem sentido.

Mas eu vou mesmo assim. Se existe alguma coisa — qualquer coisinha — que pode me trazer um pouco de paz, então, eu quero tentar.

"Na última sessão você me disse que iria fazer uma nova amizade e se divertir com isso", diz o terapeuta quando já estou acomodado na poltrona diante da sua. "Como se saiu?"

Sky is the Limit (Larry AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora