Our Special Place

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Existem diversos sentimentos que um filho pode despertar nos pais. O sorriso é bom para o corpo. O riso enaltece o coração. A felicidade eleva o espírito. Na linha entre a decepção e o orgulho, eu diria que já extrapolei o item da direita... até recentemente.

Eu sempre quis ser o melhor filho possível, alegrar e orgulhar meus pais de todas as maneiras como uma forma de dizer "obrigado por tudo que vocês fazem por mim", "eu aprecio seus cuidados", "seus esforços não são em vão". Mas até que ponto eu preciso decepcionar a mim mesmo para orgulha-los?

Uma carta da diretoria chegou hoje pelo correio, lamentando por eu não estar mais participando da classe de química laboratorial. Eu mal cheguei na mesa da cozinha para tomar café e já dei de cara com a expressão de decepção e fúria de meus pais.

É claro que eles não aceitaram eu ter abandonado a disciplina, e por N motivos. Ficaram irritados porque eu fiz isso sem consulta-los, mas principalmente porque eu perderia créditos preciosos para a bolsa de estudos; então eles fizeram um sermão digno de pastor sobre os valores da vida e dos estudos; depois um chá de cadeira acompanhado de uma palestra sobre agarrar as oportunidades da vida e depois... depois eu já não sei mais porque eu parei de ouvir.

E aí, no final de tudo isso eles finalmente perguntaram porquê eu larguei a disciplina. Parte do motivo está associado ao fato de que Harry não é mais meu parceiro e os experimentos ficaram bem mais chatos depois que ele saiu, mas não posso dizer isso a meus pais. Já até sei que eles vão dizer que isso não se trata de ser divertido ou não, mas de se ter responsabilidade. Sendo assim, respondo com foco na outra parte do motivo:

"Não faz sentido..."

"O quê não faz sentido, você perder a bolsa de estudo?" Meu pai esbravece.

"Ou você largar uma disciplina que realmente te daria muitos créditos?" Mamãe colabora no mesmo tom. "Realmente, meu filho, não faz sentido!"

"Não, não é isso", balanço a cabeça e, pela primeira vez na vida, encontro dificuldade em conversar com meus pais. "Por que eu tenho que estudar química se eu nem se quer vou fazer um curso relacionado a isso na faculdade? Isso não faz sentido!"

"Não é assim que funciona! Essa é uma disciplina importante, de destaque", minha mãe explica, "se é isso que você precisa fazer para entrar na faculdade, então qual a dificuldade?"

"É disso que eu to falando, eu nem sei se eu quero ir para a faculdade!"

A reação de meus pais é a mais assustadora possível. Lembra daquela escala "Decepção———Orgulho"? Pois é, eu acabei de extrapolar o lado esquerdo dessa vez. Ambos começaram a falar ao mesmo tempo, desde sermão até experiência de vida, e o que quer que viesse pelo meio. Eu apenas me levantei e peguei minha mochila e eles apenas deixaram eu ir porque eu já estava atrasado para a escola. Mesmo assim, minha mãe foi me ralhando durante o trajeto inteiro. Tive vontade de simplesmente abrir a porta do carro e ir embora.

Fiquei cabisbaixo praticamente a manhã inteira. Nem consegui prestar atenção nas aulas direito, pois o tempo todo eu pensava no que eles haviam dito e no quanto eu me sentia mal por... desaponta-los. Mais estranho do que isso é eu estar sentado sozinho na cantina, já que Stan não fala mais comigo, Josh fica grudado com ele e Eleanor... bom, é isso.

"Parece que você precisa de um abraço", alguém se senta ao meu lado. É Harry. Sorrio imediatamente, mesmo de maneira fraca. "Tá tudo bem, parceiro?"

"Tive uma briga com meus pais logo de manhã... porque eu larguei aquela disciplina."

"E daí?"

"E daí que eles são meus pais!" Respondo e ele solta um riso debochado.

"Você ainda não me disse nada!" Harry põe sua lancheira sobre a mesa e abre ela de maneira cautelosa, como se esperasse que uma bomba explodisse a qualquer momento.

Sky is the Limit (Larry AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora