Experiments

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Se existe alguma coisa que eu posso fazer nesse momento, é dominar a arte de driblar. Passei o resto do dia treinando o chapéu e estou cada vez melhor. No final da tarde eu já conseguia realizar o lance três vezes a cada cinco tentativas. Parece muito bom, não é? Ainda sim, não o suficiente, segundo o meu pai.

Nenhuma surpresa boa nos dias que se passam, a não ser encontrar Eleanor pelos corredores e flertar até arrancar um sorriso do rosto dela ou a campa tocar, anunciando o início da próxima aula. Ela é dura na queda, mas dá para perceber o quanto estamos nos conectando cada vez mais.

A próxima classe seria algo normal e corriqueiro para mim se não fosse um único detalhe (que apenas me ocorre ao pensamento quando entro na sala e caminho em direção a bancada de experimento): é aula de química.

Assim como na primeira vez, o professor começa a aula, demonstrando os elementos necessários para o próximo experimento e seu propósito, antes de realmente colocarmos a mão na massa. E, assim como na primeira vez, meu parceiro de laboratório está atrasado.

Levando em consideração a reclamação (indevida) que ele fez no outro dia, resta-me torcer para que ele tenha pedido transferência ou simplesmente desistido da classe. Ele não faria falta, de qualquer forma. Na verdade, só estaria me fazendo um favor. Tenho coisas demais para lidar nesse momento, preciso de pessoas que irão me ajudar, não atrapalhar.

O professor entrega a carta de instruções e anuncia o início do experimento. Separo os instrumentos necessários e, ao terminar de me inteirar sobre o passo a passo desse exercício, deparo-me com Harry novamente já sentado ao meu lado e me olhando engraçado.

"Você vai ajudar dessa vez?" Pergunto.

"Bom dia, parceiro", ele responde. "Observar conta como ajuda?"

"Se não vai atrapalhar, já é o suficiente pra mim."

Inicio o experimento e ele realmente fica parado, apenas olhando curiosamente para minhas mãos até se voltar para o meu rosto. A princípio, finjo não me importar, mas ele não para de encarar, e tenho a impressão de que ele está chegando perto de mim. Muito perto. Tão perto que sinto sua respiração em meu pescoço.

"O que você tá fazendo?" Questiono sem olhar diretamente para ele.

"Então, você não se lembra..."

"Lembro do que?" Cerro o cenho.

"Eu fiquei atrás de você na peça da sexta série, em que você era o príncipe, e eu, o soldado árabe número três."

"Não, não me lembro", respondo naturalmente sem parar de fazer o experimento.

"É claro que não. Príncipes nunca se lembram de seus súditos."

"Pois é. Desculpe por não chorar por você", uso meu sarcasmo.

"Você deveria. Seria legar te ver chorando por mim", reviro os olhos ao ouvir isso. "Mas você deveria mesmo chorar é por suas decisões antecipadas."

Ok, agora, sim, ele conseguiu chamar minha atenção. Mantenho os recipientes parados em mãos enquanto desvio o olhar para a feição misteriosa de Harry. Antes mesmo que eu possa perguntar sobre o que está falando, ele reconhece minha expressão de dúvida e diz:

"Está fixado no quadro da escola."

Leva alguns segundos, mas acabo por perceber que ele está falando da decisão que fiz em relação a universidade em que irei me inscrever. O que mais me deixa pensativo, no entanto, é o motivo pelo qual minha opção está tão exposta assim. "Por que fariam isso?" Penso alto.

"Por que King's?" Harry quer saber porque escolhi essa universidade. Penso em ignorar a pergunta, mas não é do meu feitio ser tão mal educado, então foco nos principais pontos que me levaram a essa escolha.

"Grande faculdade. Multicultural. Apoio esportivo. Esse tipo de coisa", respondo enquanto volto a realizar o experimento.

"Fácil de pagar", ele ironiza. Ou não. Com ele eu nem sei dizer.

"Na verdade, eu pretendo ganhar uma bolsa."

"Ah, é mesmo?" Ele assente e começa a mexer nos instrumentos que não estou utilizando.

"Por isso preciso de boas notas..." Solto no ar.

"Futebol! Basicamente, eles vão te dar dinheiro por ficar correndo atrás de uma bola e chuta-la contra a rede."

"Basicamente..." Finjo concordar de maneira irritadiça e decido jogar o foco da conversa para ele, largando de vez o experimento. "Onde você vai se inscrever?"

"Lugar algum!" Harry me encara com olhar esbugalhado.

"Nenhuma faculdade?"

"Não preciso de graduação. Não, nenhuma."

Sinto vontade de rir, mas me contenho por educação. "E o que você vai fazer depois do colegial?"

"O céu é o limite", ele pisca para mim.

"Uau. Ótimo." Tento me concentrar de volta no exercício, mas não consigo. Como ele pode não se inscrever em nenhuma faculdade? Ele deve estar brincando, certo? De outra maneira, porque estaria aqui? Essa classe é muito difícil e, justamente por isso, conta bastante. "Pra que você precisa dos créditos dessa disciplina, então?" Decido perguntar.

"Não preciso."

"Então, por que você tá aqui?"

Em resposta, Harry sorri e me olha engraçado, como sempre faz. Aposto que ele vai, sim, para alguma faculdade, só não quer me contar ou quer tentar provar algum ponto de vista. "Certeza que tem uma boa explicação", encerro com um sorriso e volto a fazer o exercício.

"É claro que tem", ele continua. "Louis, você não vai parar enquanto não compreender."

Se eu deveria morder a isca, não é isso que eu faço. Dane-se minha boa educação. Harry quer ficar conversando sobre coisas sem sentido, ótimo! Ele pode fazer isso sozinho. Eu tenho um experimento para terminar.

A aula chega ao fim, o experimento é um sucesso e eu estou qualificado para a próxima fase de experimentos. Bom, Harry também está. Já não acredito mais nas palavras do professor — se é que alguma vez acreditei. Considerando que Harry não irá se inscrever em nenhuma faculdade, como ele mesmo disse, o que me garante que ele vai dar a mínima para essa classe?

Ótimo, simplesmente ótimo.

A única coisa que faz melhorar um pouco meu humor antes do treino mais tarde é a presença de Eleanor. Ela está quase chegando em seu carro quando consigo alcança-la.

"Já conseguiu se enturmar?" Pergunto para dar continuidade a nossa última conversa. Ela é novata na escola.

"Voltando sozinha para o meu carro depois da aula, isso não deve ser um bom sinal", ela brinca.

"Sabe qual a melhor forma de conhecer pessoas novas na escola?" Ela sorri e balança a cabeça, esperando que eu responda. "Já ouviu falar do Creek?"

"Ouvi uma coisa ou outra, sim..."

"Tá livre hoje a noite? Eu posso te levar lá. Vai ser legal. Você pode conhecer pessoas novas, ou..." aproximo-me sutilmente dela "...podemos nos conhecer melhor."

Eleanor sorri e olha para o lado, tentando não corar. Acabo por desviar o olhar também e vejo Harry indo embora.

"É, pode ser..." Ela responde, mas não digo nada. De repente, fiquei curioso. Sigo Harry com os olhos enquanto ele caminha. "Tudo bem, não precisa implorar", ela diz de forma divertida, "eu vou!"

Torno a encarar o rosto de Eleanor e tento sorrir junto com ela, mas não consigo. Styles me distraiu quando passou. Ela olha para atrás e, justo nessa hora, Harry olha em nossa direção também, notando nossa presença. Ele sorri e aponta para mim antes de entrar em uma picape amarela que parece meio velha.

"Quem é esse?" Eleanor pergunta.

"Ninguém", respondo automaticamente. "Meu parceiro de laboratório, só isso."

Sky is the Limit (Larry AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora